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da Redação DiárioZonaNorte
- Villa Maria teve personalidades como Jânio Quadros e Ayrton Senna
- Um bairro que teve grande influência de portugueses
- Muitos moradores tinham em casa um barco para as enchentes
Neste ano dos 105 anos de “Villa Maria“, na Zona Norte, as autoridades municipais já tem a desculpa da pandemia do Covid-19. Por causa disto, nada farão nesta 2ª. feira (17/01/2022), quando o bairro faz aniversário. Nem mesmo uma vaga lembrança em um cartaz ou qualquer manifestação – até uma missa na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, um marco na região.
Com licença senhores e senhoras, vamos contar um pouco da história da “Villa Maria“. Uma região praticamente inóspita destacando-se um local parecido com pântano, tendo água estagnada e lamacenta.
O que surgia em demasia nas terras eram os capinzais e, do outro lado, estava a região do Belenzinho, separada pelo Rio Tietê. Tornou-se frequente a travessia desses de comerciantes para retirada de capim da Villa Maria e a venda às pessoas que tinham veículos de tração animal.
Onde tudo começou
Em 1917, a Villa Maria e nada ao seu redor existiam no mapa da cidade de São Paulo. Na Zona Norte, o que se via era uma grande área, além do Rio Tietê, que mostrava a região já denominada como Sant´Anna.
O restante das terras na Zona Norte era um local ainda para desbravadores que buscavam negócios na compra de terrenos em chácaras e sitios. No surgimento da Villa Maria tudo começou um pouco antes, ainda no meio do século 18, com a venda de um terreno.
Com registros de venda de lotes no local datados de 1856, a Villa que pertencia ao antigo Sítio Bela Vista, que passa a ser o embrião de um povoado. Mais adiante, a Companhia Paulista de Terrenos (CPT) assumiu a responsabilidade de lotear o local.
Com a intenção de incentivar a venda, chegaram a ser doados tijolos e telhas. Há criticas à empresa de ter colocado terrenos à venda em um irresponsável loteamento com problemas e sofrimentos aos seus compradores, que tiveram que conviver por anos.
Essa empresa de terrenos tinha escritório no centro da cidade (rua Líbero Badaró) e anunciava “o plano de povoar rapidamente a linda planície ligada ao Braz pela sua ponte de Vila Maria”, meio improvisada, construída de madeira. E a procura foi grande, sendo que a maioria dos lotes foi adquirido por portugueses que aqui viviam na cidade — e até por parentes em seus país de origem.
Surge a Villa Maria
Com seus 105 anos de agora, o local surgiu oficialmente no dia 17 de janeiro de 1917 e o seu nome descende da esposa do Dr. Joaquim Floriano de Araújo Cintra – um dos primeiros moradores do bairro e ligado à empresa de terrenos CPT — que se chamava Maria. Por outro lado, as ruas do bairro receberam os nomes dos diretores e corretores da da mesma empresa, como Guilherme Cotching, Thomaz Speers, Antônio da Silva e Eugênio de Freitas.
Travessia de barco e sem energia elétrica
No começo era tudo mais difícil. E para chegar ao local tinha que atravessar de barco o Rio Tietê. Não havia energia elétrica, água e esgoto.
A única melhoria na região foi a ponte de madeira, ligando o bairro a outra margem do rio, com o Belenzinho. Mas os barcos também eram de grande utilidade, pois na região eram frequente as inundações e o local era chamado de “Veneza paulistana“.
Já a energia elétrica só chegou ao bairro em 1923, o mesmo ano da chegada do bonde elétrico. Eram duas linhas de bonde que vinham do centro da cidade e serviam a região: a de número 34 que ia até a Praça Santo Eduardo e a de número 67 que ia até a Praça Cosmorama.
Os benefícios do bairro
Aos poucos, os moradores que mantinham a religião católica junto à comunidade, em encontros em suas casas, passaram a receber ajuda das autoridades católicas. Em 1922, chega a primeira igreja do bairro, a da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes – até por analogia à convivência com as recorrentes inundações -, localizada na Rua Dr. Afonso Vergueiro. Depois, em 1933, é inaugurada a Paróquia Nossa Senhora da Candelária.
O Grupo Escolar João Vieira de Almeida é a primeira escola oficial e foi instalado em 1924. Nesta área, um fato relevante foi a instalação do Colégio Sion na Vila Maria. No passado, todos os dias, um grupo de irmãs e voluntárias saía de Higienópolis e ia até o então longínquo bairro de Villa Maria para lecionar. Começava ali, a “Obra São Teodoro” mais tarde denominada Escola São Teodoro de Nossa Senhora de Sion.
Ar interiorano
Hoje, andando pelo bairro, nota-se um jeito de cidade do interior. Mas depois de muita luta e sofrimento com as inundações, aconteceu a transformação da Villa Maria com o progresso. O bairro praticamente começou pela avenida principal, que é a Guilherme Cotching, onde concentra-se o comércio.
Nesta avenida que tem o nome de um oficial inglês é uma reta, com início desde a Paróquia Nossa Senhora da Candelária, e atravessa o bairro até chegar na Ponte Jânio Quadros sobre a Marginal do Tietê – e ainda continua com o mesmo nome do lado do bairro do Pari.
Em suas divisas, Villa Maria tem a oeste o bairro irmão da Vila Guilherme – sendo que muitos pontos e localizações são confundidas ou trocadas entre as duas regiões, inclusive ruas e avenidas com partes nos dois bairros. Mas a Villa Maria tem o complemento de Vila Medeiros (Norte), Tatuapé (Sul), Belém (Sudoeste), Penha (Leste) e o município de Guarulhos (Nordeste).
Em seus 11,8 mil quilômetros de território, o distrito de Villa Maria tem os seguintes bairros em sua composição: Jardim Japão, Vila Maria Alta, Vila Maria Baixa, Parque Vila Maria, Parque Novo Mundo, Jardim Andaraí e o Conjunto Promorar Vila Maria. Do início com a maioria dos moradores descendentes de portugueses, a Villa Maria tem, em sua maioria, uma mistura migrantes nordestinos, paranaenses e imigrantes bolivianos.
Como está ao lado da importante Rodovia Presidente Dutra e das Marginais, além de proximidade com a Rodovia Fernão Dias, a região trouxe para a Vila Maria empresas de logística e transportes, que movimentam a economia. Com muitas promessas e vários problemas, o Terminal de Cargas do Parque Novo Mundo não saiu do papel, depois de vários anos.
Curiosidades
Samba não falta == A Escola de Samba Unidos de Vila Maria surgiu em 1954 como a Unidos do Morro da Vila Maria e tornou-se uma referência não só no samba como também em seus trabalhos sociais. Sua quadra está localizada no Jardim Japão, subdistrito da Vila Maria.
Mais lazer e esportes == No aniversário de São Paulo (25 de janeiro de 1968) aconteceu a inauguração pelo prefeito Faria Lima do Centro Educacional e Esportivo Thomaz Mazzoni — um jornalista esportista italiano “Tommaso”, radicado no Brasil, que trabalhou no jornal A Gazeta Esportiva.
Da datilografia a universidade === Em 1958 teve inicio a Escola de Datilografia Anchieta, que foi fundada pelos professores José Storópoli e sua esposa Lydia, que se tornaria na Univerdade 9 de Julho, a Uninove.
Os cinemas == No auge das produções cinematográficas, o bairro teve quatro cinemas: Cine Vila Maria (Av. Guilherme Cotching) , Cine Centenário (idem na Guilherme Cotching), Cine Candelária (Gulherme Cotching com Rua da Gávea) e o Cine Singapura (Av.Alberto Byington) — todos fechados.
Ayrton Senna na Vila Maria == O piloto brasileiro mantinha seu escritório na Rua Dr. Edson de Mello, ao lado da Rua Araritaguaba, e frequentava o antigo restaurante O Compadre, que foi transferido para o Shopping Lar Center, na Vila Guilherme.
Jânio Quadros e suas andanças == Comparecia muito e teve várias obras na Vila maria. Frequentava o Bar Rossio da Av. Guilherme Cotching, que preserva a mesa que ele usava. É histórico um discurso de Jânio: “Povo de Vila Maria”, e acrescentou: “de Vila Maria Baixa, de Vila Maria alta e, por quê não de Vila Maria do Meio?”.
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