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Vila Guilherme: o “Faz de Conta” e o futuro incerto das Placas da Memória Paulistana

Parque do Trote, o único local a receber a placa na Zona Norte.
Tempo de Leitura: 6 minutos

 

da Redação DiárioZonaNorte
  • O fundador da Vila Guilherme, Guilherme Praun da Silva, planejava todos os serviços no local: igreja, escola, posto de saúde, padaria e outros;
  • Há mais de 100 anos, a Capela/Paróquia São Sebastião foi a primeira obra no bairro;
  • O Zoológico do Sr. Antenor foi famoso na Vila Guilherme, sendo o segundo local particular na cidade; e
  • Não foi lembrado e ficou no esquecimento da Memória Paulistana: o Grupo da Vila Guilherme – depois  Afrânio Peixoto – que está completando 100 anos (1924) e abriga  hoje a Casa de Cultura Vila Guilherme – Casarão.

Faz de conta!”. A expressão é mais usada em histórias infantis, onde a imaginação é o centro da narrativa, e os personagens embarcam em aventuras mágicas ou situações fantásticas.  E assim pode acontecer de uma outra forma que não cumpre seus objetivos ou é apenas uma encenação para parecer que algo está sendo feito

São Paulo, uma metrópole que resguarda inúmeras histórias e patrimônios, encontra-se no meio de um impasse cultural significativo. O programa placas da Memória Paulistana – copiando modelos de outros países -, é uma iniciativa voltada para preservar e divulgar locais de relevância histórica, cultural e social — que aconteceram dentro da Jornada do Patrimônio em 2021.

Mas enfrentam um período de incertezas, incluindo a Zona Norte, onde a comunidade aguarda ansiosamente pela instalação de duas importantes placas prometidas e já aprovadas. Há mais de mil dias – ou seja, três anos -, ao bairro da centenária  Vila Guilherme (112 anos completados em 12/09/2024), foi contemplado por meio de um concurso público com dois pontos históricos que aguardam o reconhecimento: Capela/Paróquia São Sebastião e Zoológico do Agenor – e publicados no Diário Oficial da Cidade em 27 de novembro de 2021 — que apresentou a homologação de 87 verbetes — veja relação no final.

Diário Oficial da Cidade de 27 de novembro de 2021 que relaciona 87 locais da Memória Paulistana. Foram 19 concorrentes ao concurso.

O site do programa Memória Paulistana, com mapa interativo, dá a impressão de que todos os pontos históricos já receberam Placas da Memória, mas muitos ainda não foram instalados. Na Zona Norte, 24 locais foram selecionados e constam no Inventário do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), mas só o Parque do Trote (Sociedade Paulista do Trote – SPT) recebeu uma placa.  No entanto, o mapa GeoSampa mostra marcos que não existem fisicamente, gerando uma falsa percepção. A SMC afirma que as propostas ainda estão sob análise, correndo o tempo já há três anos — sem nenhuma comunicação ao público.

Um morador da Vila Guilherme observa: ´´A colocação dessas placas é fundamental para reconhecer a história da Zona Norte e valorizar a luta da comunidade local. Além disso, é um respeito ao trabalho dos estudiosos que pesquisaram a fundo nossa região. Apesar do mapa GeoSampa mostra os marcos, mas quando visitamos os locais, eles simplesmente não estão lá, o que gera frustração´´.

Mapa Placas da Memória -https://www.circuitomemoriapaulistana.com.br/placas
O início de tudo

O começo desta história do “Faz de Conta” teve início na Resolução n.13/Conpresp/2019 com publicação no Diário Oficial da Cidade em 09/10/2019 – pags. 21/22 –  (ver doc *1) e na página da internet (ver doc *2) onde consta um resumo:

O Inventário Memória Paulistana identifica lugares referenciais para a memória dos diversos grupos sociais da cidade, independente da continuidade da prática ou da existência no presente do imóvel que se constituiu como referência. A identificação é feita por meio de placas azuis com 35 cm de diâmetro. Serão 466 placas instaladas até o fim de 2020. Os locais que receberam as placas do projeto podem ser consultados no Geosampa, na camada Patrimônio Cultural´´

Placas da Memória Paulistana
Capela/Paróquia São Sebastião, a primeira na historia da Vila Guilherme

E o tempo passou com informações contraditórias, mostrando que o programa estava no ar, com referências ao mapa no Geosampa (ver doc *3), com os pontos assinalados dando a impressão que existem as placas dos 466 verbetes nos lugares assinalados na cidade — até abrindo a imagem da réplica da placa azul e as informações resumidas.

Os moradores cobraram e, desde agosto passado, este jornal vem buscando um posicionamento mais efetivo e esclarecimentos da  Secretaria Municipal da Cultura (SMC), que prestou respostas evasivas e informações desencontradas, além de prazos não serem cumpridos  resultando em pedidos de prorrogações. Alegando inclusive de ficar à espera de uma solução do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo  (CONPRESP), que está subordinado à SMC.

Mas no último retorno, em 26 de setembro de 2024, a SMC admitiu que ´´a gestão municipal instalou 163 placas´´ e ´´com o valor unitário em 2021 foi de R$401,00 ´´, mas não relaciona os locais onde as placas foram instaladas.  Desta maneira, das 467 placas, ficam faltando esclarecimentos de 304 placas restantes, que continuam no ´´Faz de Conta´´, incluindo 24 locais selecionados na Zona Norte (ver relação no quadro abaixo).

Placas da Memória Paulistana
24 lugares apontados e que ainda não receberam a Placa da Memória Paulistana — com exceção do Parque do Trote/Vila Guilherme

Por outro lado, a SMC alega que ´´os concursos de 2020 e 2021 serviram apenas para selecionar propostas de verbetes´´ e que ´´os verbetes premiados deverão ainda passar pela análise do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH ) — que tem também a responsabilidade da confecção e instalação da placa — junto à deliberação do CONPRESP, que pode aprovar ou não cada um dos verbetes´´, contrariando as homologações que já foram publicadas no Diário Oficial da Cidade e as informações divulgadas na página do programa Placas da Memória Paulistana, além dos locais já cadastrados na plataforma GeoSampa.

Nestas 163 placas oficialmente instaladas pela SMC — mas que não foram relacionadas na divulgação e nem teve cerimônias –,  devem estar em locais mais famosos e marcantes, de reconhecimento público, que foram contemplados para maior visibilidade principalmente no centro da cidade e arredores, conforme fotos publicadas pela Imprensa.

É só dar um passeio pelos locais para encontrar as placas: (*) Av. Ipiranga com São João – Sampa, música de Caetano Veloso – a placa está junto do Bar Brahma; (*)  Vale do Anhangabaú Comício das Diretas Já; (*) Praça Roosevelt – primeiro show de Elis Regina em um bar; (*) Galeria Olido – apresentações do Palhaço Piolin; (*)  Largo do Paiçandu – o sanduiche Bauru do Ponto Chic; (*) Rua 7 de Abril – prédio dos Diários Associados; e outros na mesma sequência.

Mais adiante, dentro de previsões incertas em pleno momento ano eleitoral do município,  a SMC dá fé a uma previsão que ´´ no próximo ano, está previsto um novo processo de contratação para a fabricação das novas placas do Inventário Memória Paulistana com estimativa de duração de seis meses entre contrato e entrega´´. Com isto, pode-se imaginar a produção de placas somente no segundo semestre de 2025, caso haja aprovação e continuidade.

Sem divulgação anterior, a SMC informa que o verbete será submetido a autorização do proprietário do local de instalação, que inclusive poderá ser o doador na confecção da placa. Coloca também a previsão de um novo processo na contratação e reafirma a fabricação de novas placas para o próximo ano — que poderá levar seis meses entre contrato e entrega.

A comunidade da Vila Guilherme, especialmente os fiéis da Capela/Paróquia São Sebastião e os admiradores do histórico Zoológico do Sr. Agenor, merecem mais do que promessas não cumpridas. A colocação destas placas é vista não apenas como um reconhecimento da rica história local, mas também como um respeito à luta e organização da comunidade.


Adendos/Referências:

  • Resolução n.13/Conpresp/2019 (*1)– documento da criação e regulamentação do programa Inventário Memória Paulistana – link: clique aqui
  • Inventário da Memória Paulistana (*2) – Página anunciando o programa e a colocação de 466 placas até o fim de 2020 – link: clique aqui
  • Edital de Concurso n. 05/SMC-DPH 2021 (*3) – Concurso – clique aqui

Mais informações/matérias do DiárioZonaNorte:

  • Prefeitura de São Paulo promete, mas não reconhece pontos históricos da Vila Guilherme – 25/08/2024 –  clique aqui
  • 112 anos da Vila Guilherme e o desprezo pelo aniversário, história e placas da memória – 11/12/2024 – clique aqui

Nota da Redação:  O DiárioZonaNorte está sempre buscando respostas e transparência sobre o progresso das políticas públicas relacionadas com atuação do poder público, zeladoria e patrimônio da cidade. Em 10 anos de atuação, nosso jornal, consciente do papel vital que desempenha como veículo de comunicação público, sente-se na obrigação de questionar e esclarecer o status das iniciativas patrimoniais, sem deixar cair no tempo e no esquecimento. No momento, o assunto como as placas de Memória Paulistana e o inventário correspondente, são essenciais para a conservação da identidade paulistana. Afinal, informar é um direito, e garantir que a história não seja esquecida é uma responsabilidade de todos.


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