olhar
por Beto Freire (*) — Artigo n. 05 – < Cidadania >
A reportagem do Diário da Noite / Diários Associados é de 1927 e é bem clara no título: “VILA MARIA, UM POPULOSO BAIRRO DE QUE OS PODERES PÚBLICOS SE ESQUECERAM˜. E reafirma no subtítulo: “Sob inundações frequentes, não tem calçamento, não iluminação, não tem policia, não tem nada…“
A reprodução da página do jornal tem quase 100 anos, enchentes e falta de segurança pública foram os destaques no longínquo 1927, observem que até o tema iluminação para diminuir a insegurança tem destaque no folhetim do século 20, quase cem anos depois, vemos a mesma situação em nossa região.
As inundações a cada verão seguem o seu ritmo, os locais são velhos conhecidos de moradores, comerciantes e autoridades. Choveu alagou em algumas ruas de nossas vilas, é quase uma tradição, indesejada e malévola com toda certeza.
Quando o assunto é segurança pública, não precisamos fazer muita pesquisa ou delongas no texto, é unanimidade que não é uma questão de retrocesso e, infelizmente, trata-se de ter piorado bastante. Cada dia mais vemos mais gente reclamando da insegurança, muitos alterando sua rotina de trabalho e lazer para tentar escapar da violência.
Há medo nas esquinas das ruas e avenidas, uma sensação de ser perseguido e assaltado. Todos transeuntes parecem ser suspeitos! Os tradicionais e antigos bate-papos na frente das residências são raros nos últimos meses, e quando acontece é na base de um olho no vizinho outro no gatuno. O desassossego tornou-se rotineiro para nossos bairros das Villas.
O comércio regional minguando, poucos são os estabelecimentos que resistiram a diminuição gradativa da clientela. Uma realidade, onde os moradores buscam shoppings para compras e lazer, pagando muito mais caro, por um bocadinho de suposta tranquilidade.
E quanto menor é o número de pessoas circulando, consumindo e passeando na região, a tendência é o aumento da insegurança. Muitos estabelecimentos não mais resistem o funcionamento nas 24 horas como prestação de serviços e de utilidade para os moradores.
Há pequenos serviços simples de zeladoria de responsabilidade do poder público, que não são realizados e que podem ajudar na segurança. Como o rebaixamento das luminárias na Avenida Joaquina Ramalho, como exemplo, que ficam acima das árvores. Com isto, nada é iluminado abaixo e a segurança fica comprometida. É só verificar. Outros pequenos problemas e de fácil solução poderiam ser relatados.
São muitos assuntos que passeiam em reclamações e demandas de munícipes em reuniões comunitárias, como as antigas Associações de Bairros e os CONSEGs, que acabam sendo evaporadas e esquecidas em gavetas de autoridades. Um circulo vicioso sendo repetido por meses e anos.
Por outro lado, a redução de novos postos de trabalho, renda e oportunidade para empreendedores consequentemente empurra mais moradores para outros bairros e cidades, traz encarecimento no custo de vida, deixando em vulnerabilidade quem mais tem necessidade de trabalhar e empreender.
Onde estão as soluções?
A pergunta é simples: os problemas são antigos, as soluções viáveis são de conhecimento amplo, por que não avançamos ?
Primeiro a falta de consciência coletiva humana, que não é fácil de equacionar. Depois temos o problema que obras embaixo da terra não são capazes de fazer vingar os votos de cabresto, a soma é um eleitor pouco sapiente e políticos espertos demais…
Esses mesmos políticos costumam levar ovos de Páscoa para a população que tem fome de dignidade, levar brinquedos para quem necessita de seriedade no ensino e lazer dos filhos, e bastante shows para o povão continuar dançando no ritmo desesperançoso da existência.
A maioria esmagadora dos contribuintes, precisa cuidar da segurança alimentar e lutar não afundar em dívidas, muitas vezes para sobreviver ao invés de desfrutar da vida, sobrando pouco tempo para cuidar das adversidades coletivas. E lembrando que a região das Villas é a que mais contribui na arrecadação de impostos no município.
O jogo de políticos
Na selva de pedra, cobra sem veneno acaba morrendo de fome e ao relento, quando o individualismo anda em sobreposto com empatia.
O resultado da falta de interesse em política dos eleitores, é uma excelente para os pescadores de cardumes pouco inteligentes, fisgando sempre com iscas coloridas um povo que enxerga em preto e branco o seu futuro.
Quando exigirmos ações para eliminar problemas recorrentes ao invés de aceitar pirotecnia política, e valorizamos a população que trabalha para gerar imposto ao contrário de aplaudir quem o gastar de qualquer jeito, teremos um pouco mais de qualidade de vida em nossas vilas e bairros!
(*) Beto Freire — Antonio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, é torcedor apaixonado pela Portuguesa de Desportos, casado com Flávia e pai de três filhos – Maria, César e Norberto que também torcem pela Lusa. Beto Freire é um apaixonado pela Zona Norte, sendo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte. Com olhar de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, já teve participações em muitas audiências públicas e na diretoria e reuniões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Frequentadores do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).
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Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.
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