da Redação DiárioZonaNorte <Editorial>
“As enchentes levaram tudo que eu tinha, não restou nada. Nossos pertences flutuaram rua abaixo, junto com nossas memórias. As fotos de família ficaram encharcadas, as lembranças se perderam. Minha casa ficou submersa, só consegui salvar alguns documentos. Meus filhos perderam todos os brinquedos, só resta o choro“, lamenta uma moradora de Porto Alegre, de cabelos brancos e com os olhos marejados.
Os olhares perdidos das pessoas nos abrigos improvisados é de partir o coração. Não sabem o que fazer, com suas vidas que foram engolidas pela água. Suja e fétida navega com doenças, com um risco iminente para todos. E as vidas se tornaram parecidas, todos na mesma situação, com os mesmos problemas de agora e nos dias seguintes.
Os cães desapareceram na enchente, criando um vazio imenso aos seus tutores que sobreviveram. Os gatos não voltaram para casa, com grande parte em afogamentos. Um cavalo ficou preso e imóvel no telhado por quatro dias, totalmente ilhado, mas foi resgatado por bombeiros, em uma operação delicada através de um barco.
Com os moradores, flagelados e sem destino certo, houve a ajuda humanitária que chegou, mas as perdas são irreparáveis. Um grande coração se formou, por todos os lados, com voluntários de todo o país que lá foram buscando distribuir ajudas, um pouco de consolo e amor. A mobilização geral foi comovente, mas as pessoas sofridas ainda sentem um grande vazio. São famílias que perderam todas as lembranças de suas vidas, outras até familiares e amigos.
Nos abrigos improvisados, muitos rostos tristes e olhares perdidos. O medo das doenças assombra a todos, a água suja pode matar os sobreviventes da tragédia, junto com o risco também aos voluntários. Mesmo com promessas, ainda há no ar o tempo que se foi e o que poderá vir. Junto as águas que tomaram os espaços públicos e destruíram as casas, aparece boiando o que o poder público não fez no passado, em prevenções.
“Perdemos nossos documentos, não sabemos como recomeçar. A força da água foi devastadora, não conseguimos salvar nada. Meus avós não param de falar sobre as enchentes que enfrentaram no passado“, é o lamento solitário de um morador da cidade de Canoas, no meio dos escombros. E nos abrigos, no meio do amontoado de colchões improvisados, roupas e dos poucos pertences, muita gente com os rostos cansados, com tristes semelhanças de sofrimentos.
Essas pessoas tiveram as fotos de momentos felizes, que agora estão destruídas. As crianças estão traumatizadas, mesmo na inocência, não conseguem dormir à noite. A enchente levou a casa que habitavam há anos, agora estão vivendo na dependência de um abrigo.
Muitos dos pais perderam o emprego – até com as empresas ou fábricas embaixo da mesma água suja e barrenta -, não sabem para onde ir. O que se comprou com dificuldades, que ainda estão em muitas prestações adiante, virou entulho do que eram eletrodomésticos, salas de estar ou quartos de sonhos.
A leptospirose é uma ameaça constante, todos estão em risco. A ajuda humanitária trouxe algum alívio, mas não afastou o que ainda estar por vir. E a dor persiste. O olhar perdido das pessoas nos abrigos improvisados é de cortar o coração.
A mobilização geral foi comovente, mas a dor não passa. “Meus filhos perguntam pelos brinquedos, mas não tenho respostas. Perdemos nossas lembranças, não restou nada. A força da água foi devastadora, não conseguimos salvar nada“, é quase palavras repetidas de várias formas pelos abrigados em uma escola.
O olhar vazio das pessoas nos abrigos improvisados é aterrorizante. A água levou muitos sonhos, restou apenas o desespero e a vontade da sobrevivência, até renegando o lado material de tudo que ficou boiando.
A devastação das enchentes trouxe um cenário de caos e desespero. Os olhares perdidos dos moradores, o fim de pertences e documentos, a lembrança das fotos de família destruídas, e o desespero pelos animais de estimação perdidos pintam um quadro de sofrimento inimaginável. A ajuda humanitária é um raio de esperança, mas a recuperação será longa e dolorosa.
Com um olhar à distância, a reconstrução das vidas e de lugares onde um dia existiram locais de moradias, deve levar meses. Cenas e momentos perpetuados para sempre, por longos anos de uma história que terá muitos capítulos.
O que podia ter sido evitado ou suavizado ficou em projetos engavetados ou com as verbas desviadas. O que aconteceu com os gaúchos, nada mais é que reflexo da realidade de tantas outras cidades pelo país.
É lamentável constatar, mais uma vez, que neste país só há solução quando a tragédia acontece e todas as autoridades saem para mostrar serviço. Depois de algum tempo, tudo é esquecido. Mas é um pouco tarde depois de grandes perdas e mortes. E um sofrimento impagável que marcará muitas famílias. Tudo se dirige aos caminhos errantes de políticos, que só pensam neles e nos partidos políticos, com suas mordomias diárias. Até quando?
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