Santo Antônio
por Toninho Macedo (*) / Reflexões – 6
Na 2ª feira (13/06/2022) foi o dia consagrado a Santo Antônio. Ao meu padrinho Santo Antônio. E ainda mais ao pé do ouvido, a Santo Antoninho, meu Padrinho. E ainda mais, esta relação de intimidade chegou longe. E me explico.
Na terra em que nasceu e em que estão sepultados os restos mortais de Pedro Alvares Cabral, Santarém, no Ribatejo Português, anualmente há um grande festival — o Festival do Campino — no qual, durante um mês, celebra-se a cultura tradicional de cada uma das regiões de Portugal.
No ano de 2000, ocasião das comemorações dos 500 anos da chegada de portugueses ao Brasil, o Festival englobou também os feitos lusos ultra-marinhos, com a realização de um Simpósio. Fui então convidado cabendo-me a apresentação do tema “Mesa Paulista tradicional- uma culinária de trocas” (tema que, a posteriori, aprofundado, transformou-se em livro).
Vibrei com o convite, entrevendo a possibilidade de buscar o Divino em terras lusas, incluindo Açores. Acerquei-me de dicas de pessoas com trânsito por aquelas paragens (Osvaldo Trigueiro,…), e assim segui, e muito bem.
Mas, o inusitado saltou-me à frente: Santo Antônio e seu “Divino Imperador” (Jesus Menino), arrebataram-me, e tudo mudou de rumo. Devo confessar-lhes que foram as experiências mais incríveis em toda a minha vida. Acreditem, a um certo momento, passei a “ser conduzido” ao que não estava no programa.
Sem nenhum conhecimento ou orientação, cheguei à igreja construída sobre o lugar em que, no Século XII, se encontrava sua casa, tendo sido preservado o quarto em que nasceu. Transitei até à Sé, bem ao lado, e ali fui arrastado, até o acervo “Tesouros da Sé de Lisboa”. E, em meio a muitos resmungos meus (sobre os ouros que teriam sido provenientes do Brasil), ouvi uma “vozinha” (sim, algo como um ei, eu estou aqui!).
Voltei-me, e em uma vitrine à minha direita lá estavam “eles”: esta “imagem de vestir” de Santo Antônio, com não mais que 30 centímetros, tendo aos braços o Menino portando a coroa do Divino.
Estava ali o Divino Imperador. (Esta história toda, rica de detalhes, inda vou contá-la. Aqui estou a apresentá-la de forma “rasurada”, celebrando a data de hoje. Só gostaria de fazer dois registros: não uso droga, e não faço uso de alcoólicos. As interpretações podem ser várias. Mas estes são alguns dos fatos).
Proveniente de uma família da elite portuguesa, foi batizado com o nome Fernando. Identificou a vocação religiosa ainda jovem, e jovem ainda foi ordenado e se transformou em grande orador/pregador (muitos de seus sermões encontram-se estão registrados). Em missão percorreu o Marrocos e boa parte da Itália. Após uma crise de hidropisia, Antônio morreu a caminho de Pádua. Foi canonizado em 13 de maio de 1232, apenas 11 meses depois de sua morte, e durou menos de ano: este processo de canonização foi dos mais rápidos de toda a história da Igreja.
Dentre tantos registros miraculosos, consta que “já no fim da sua vida estando em casa do conde Tiso, em Campo Sampiero, recolhido num quarto em oração, o conde, curioso, espreita pelas frinchas de uma porta a atitude de Frei Antônio; depara-se então uma cena miraculosa: a Virgem Maria entrega o Menino Jesus nos braços de Santo Antônio. O menino tendo os bracinhos enlaçados ao redor do pescoço do frade conversava com ele amigavelmente, arrebatando-o em doce contemplação. Sentindo-se observado, faz o conde Tiso jurar que só contaria o visto após a sua morte.”
(*) Adendo/ Foto de capa: Eis a belíssima tela do Murillo, em sua inteireza. Neste momento estou abordando este lado encantador do Taumaturgo. Logo que der, compartilho o que publiquei há mais de 30 anos em meu livro “Luz e Sombra”, inclusive sobre as comendas que recebeu do Governo Brasileiro, no século XIX. Cassadas na década de 60, “recentemente”. Posso bem aproveitar este ciclo festivo para estender este compartilhamento — Santo António e o Menino / Bartolomé Esteban Murillo,1668-69 – Pintura a óleo sobre tela / Sevilha, Museo de Bellas Artes
(*) Toninho Macedo — Por trás do conhecido Toninho Macedo, há o cidadão Antonio Teixeira de Macedo Neto, que conduziu grandes festivais de cultura e de folclore culminando no maior Festival de Cultura Paulista Tradicional, o “Revelando São Paulo“ – criado em 1996 –, por seis edições memoráveis na Zona Norte (Vila Guilherme, em 2010 a 2014 e 2017/2018), além do interior e litoral. Nele há também muita experiência e inteligência, que vem da graduação em Licenciatura Plenas em Letras Neo-Latinas (1972) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo-USP (2004). Atualmente é diretor cultural e artístico da Abaçai Cultura e Arte, além de gerir Museu da Inclusão e a Fazenda São Bernardo, fundada em 1881 em Rafard (interior de São Paulo), onde Tarsila do Amaral nasceu e passou a infância — saiba mais clicando aqui
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