pontos históricos da Vila Guilherme
da Redação DiárioZonaNorte
- A Paróquia de São Sebastião foi a primeira obra na Vila Guilherme, fundada por Guilherme Praun da Silva, que era devoto do santo;
- Vila Guilherme era um sonho de seu fundador com todos os serviços: igreja, grupo escolar, hospital, farmácia, padaria, barbearia, entre outros; e
- O Zoológico da Vila Guilherme, de propriedade de Agenor Gomes, foi o segundo da cidade — o primeiro era também particular na Aclimação.
De modo geral, os dicionários classificam ´´promessa´´como uma declaração em que se anuncia ação futura ou intenção de dar, cumprir, fazer ou dizer algo´´. É o que mais se faz através dos discursos de políticos ou de ações de governos, mas que não são cumpridas. Por outro lado, o ´´esquecimento´´está ligado às ´´promessas´´, quanto tempo a mais passar é melhor para ninguém lembrar ou cobrar.
Fato consumado: mais uma vez, a Zona Norte/Nordeste foi iludida com a promessa de pontos históricos de sua região que entrariam em um novo programa da Secretaria Municipal da Cultura e do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP) sobre as ´´Placas da Memória Paulistana´´, premiando mais dois pontos históricos importantes do bairro da Vila Guilherme.
Esses pontos foram selecionados, aprovados e até registrados em publicação do Diário Oficial da Cidade (DOC): a Capela/Paróquia São Sebastião — que completou 100 anos em 2022 -– (ver links das matérias no final) e a placa faria parte nas homenagens; e o Zoológico do Agenor, com seus 80 anos — classificado como o segundo da cidade e o mais famoso ponto turístico da Zona Norte, de 1942 até 1975.
O programa ´´Placas da Memória Paulistana´´– que é uma cópia do que existe há 158 anos em Londres, com mais de 900 pontos — faz parte do ´´Inventáro Memória Paulistana´´, que é classificado na Resolução 13 / CONPRESP / 2019, publicado no Diário Oficial da Cidade de 09/10/2019 (páginas 21 e 22): ´´consiste na identificação de narrativas que constituem referências culturais da cidade de São Paulo (…) levará em consideração sua relevância para a memória e identidade de cidade, pensando sua relação com aspectos culturais tais como festas, rituais, ofícios, linguagens artísticas, paisagens e lugares, entre outros´´
O mesmo documento reafirma e deixa bem claro que ´´ o Inventário Memória Paulistana consiste na identificação de narrativas que constituem referências culturais da cidade de São Paulo, com posterior localização e emplacamento, visando a salvaguarda da diversidade dos grupos existentes na cidade´´.
Os locais serão contemplados através de uma placa redonda e azul, contendo um título e uma pequena explicação da história do referido local, suas instalações pontuam “lugares da memória”, ou seja,´´áreas representativas que carregam consigo fatos históricos e/ou linguagens artísticas, objetivando mostrar para a população o valor de cada um desses pedaços urbanos´´. Esses locais já selecionados — que chegam a 400 pontos — podem ser acessados através da plataforma GeoSampa: clique aqui
Na primeira fase, foi aberto um concurso para a participação de interessados nas indicações dos pontos históricos, que contou com muitos urbanistas, arquitetos, cientistas sociais, jornalistas, entre outros.
Diante do surpreendente sucesso, a Secretaria Municipal da Cultura abriu o segundo concurso, que teve a participação do professor universitário e escritor José de Almeida Amaral Júnior, morador antigo e apaixonado pela Vila Guilherme — co-autor do livro ´´São Sebastião e a Vila Guilherme´´– , que fez as indicações do antigo Zoológico do Agenor e o centenário da Capela/Paróquia São Sebastião. As duas indicações foram vencedoras e publicadas no Diário Oficial da Cidade e não constam no mapa oficial na plataforma GeoSampa.
Ainda foram indicados mais cinco pontos históricos da Vila Guilherme:
- 1. Sociedade Pestalozzi (Av. Morvan D. Figueiredo) – não aparece no mapa;
- 2. Fábrica Nadir Figueiredo ( produtora dos copos “Americanos”);
- 3. Conjunto Residencial Nadir Figueiredo (para os funcionários da fábrica) – não aparece no mapa;
- 4. Sociedade Paulista de Trote/Parque do Trote; e
- 5. TV Excelsior (Rua Santa Veloso/anos 1960). Já a Vila Maria teve reconhecidos dois pontos históricos: Fábrica Duchen (Parque Novo Mundo) e Urna Funerária pré-colonial indígena (Av. Barra do Rio Azul).
O que ficou de fora
No ano passado, o DiárioZonaNorte em pauta para produção de reportagem já havia solicitado um retorno sobre o assunto. Em resposta, a Secretaria Municipal da Cultura encaminhou e-mail em 19/09/2023 com resposta vazia e sem solução, mas confirmando as premiações dos dois pontos: ´´Entre as propostas de pesquisa que foram premiadas estão as que contam sobre o Zoológico do Agenor e da Capela de São Sebastião da Vila Guilherme, atual Paróquia de São Sebastião, que passam por finalização da checagem por parte da equipe técnica, preliminar ao encaminhamento ao CONPRESP´´.
Quase um ano sem solução e nova resposta oficial, o DiárioZonaNorte encaminhou, em 14/08/2024, um longo e-mail com detalhes indagando e pedindo explicações sobre os dois locais que, até o momento, não foram contemplados com as ´´placas de memória´´.
Cinco dias após (19/08/2024), a Secretaria Municipal da Cultura respondeu e-mail curto e sem convencimento propondo um novo prazo: ´´A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, irá encaminhar à deliberação do CONPRESP, até o final do semestre, as Placas de Memória Paulistana da Capela/Paróquia São Sebastião e do Zoológico do Agenor´´. Por final do semestre deste ano entende-se por dezembro ou ficaria para um outro semestre do ano que vem em outra administração municipal.
Segundo declararam alguns moradores, os processos envolvendo os dois locais históricos ´´devem estar parado na burocracia em alguma mesa de órgão da Prefeitura de São Paulo, completando um ano de profundos e minuciosos estudos´´. Depois de algum tempo e de cobranças, foi liberado e emplacado com muito atraso a homenagem ao Parque do Trote/Sociedade Paulista de Trote, na Vila Guilherme .
A triste realidade
Segundo o autor das duas propostas, o Professor Amaral pesquisou a fundo e cumpriu todas as exigências do concurso, e lamenta o que está acontecendo com a demora e falta de compromisso por parte da Secretaria Municipal da Cultura: ´´os dois locais históricos da Vila Guilherme não fazem parte, até o momento, do Inventário da Memória e do virtual Circuito da Memória Paulistana. Roubam-se referências históricas para as pessoas interessadas. A Prefeitura de São Paulo precisa corrigir essa falha com urgência´´.
Por outro lado, é grande a decepção do Padre Luiz Claudio Vieira, da Paróquia São Sebastião, junto aos seus fiéis e moradores da Vila Guilherme. Ele enviou correspondência (ver abaixo) e diversos e-mails questionando a implantação da placa, mas não obteve respostas efetivas. E declara enfático: ´´Participamos do concurso e apresentamos todos os requisitos necessários. Vencemos, mas a Secretaria Municipal da Cultura jamais entregou a ´Placa da Memória que nos deve há anos´´.
O padre lembra que, fora a divulgação do programa ´´Placas da Memória´´, houve o comprometimento com os todos os envolvidos direta ou indiretamente e moradores da região na homenagem ´´com a placa para a Centenária Paróquia de São Sebastião, vitoriosa no concurso público e homologada como atesta o Diário Oficial da Cidade´´.
À espera de uma solução
Os moradores questionam à Redação deste jornal e ficam no aguardo de um retorno prático e de compromisso à promessa da Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria Municipal da Cultura, na implantação das placas na Vila Guilherme. Houve até um comentário de um dos moradores: ´Essas questões de memória, patrimônio e história ficam bonitas e válidas quando é em Paris, Roma, Lisboa, Berlim, Londres, Cairo e afins. Aqui o negócio é só especulação imobiliária, erguimento de prédios e derrubadas dos imóveis tradicionais… Muita falação e pouca ação do poder municipal´´.
Por outro lado, o antigo morador de 85 anos, Edgard Martins — também conhecido como Vô Ed (leia mais sobre ele – clique aqui) — está sempre buscando a melhor qualidade de vida para o bairro onde nasceu. Ele está acompanhando essa situação das placas nos dois pontos históricos do bairro. E também questiona sempre a falta de respeito à Vila Guilherme, que tem uma Avenida Guilherme sem homenagear o seu próprio fundador, com o seu nome completo: Guilherme Praun da Silva. Nas placas indicativas nas esquinas da avenida, além do nome completo, seria interessante a colocação ´Fundador da Vila Guilherme´´– leia matéria – clique aqui. ´´É um desrespeito!´´, comenta Vô Ed. A propósito, no próximo 12 de setembro é o aniversário do bairro, nos seus 112 anos — ´´e, quem sabe, a Prefeitura resgata as Placas da Memória que não foram entregues´´, finaliza.
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