Prefeitura Obras Cidade
da Redação DiárioZonaNorte
- CASA VERDE/CACHOEIRINHA/LIMÃO (77 bairros) – 309.376 pessoas;
- SANTANA/TUCURUVI/MANDAQUI (78 bairros) – 324.818 pessoas;
- JAÇANÃ/TREMEMBÉ (86 bairros) – 396.176 pessoas;
- V. MARIA/V. GUILHERME/V. MEDEIROS (39 bairros) – 276.069 habitantes; e
- DISTRITOS DA ZONA NORTE – total: 1.306.439 habitantes
A cidade de São Paulo vive uma nova onda de promessas e transformações. Comemorando os primeiros 100 dias da atual gestão, o governo municipal lançou nesta 5ª feira (10/04/2025) o ambicioso “Programa Melhoramentos de São Paulo“, com muitos convidados em grande gala no Teatro Municipal.
Esse anúncio mostrou que estão previstos R$ 19 bilhões em investimentos distribuídos em 55 grandes obras de infraestrutura. No entanto, mais uma vez, a verdadeira Zona Norte – com seus 11 distritos e mais de 280 bairros – ficou praticamente fora do mapa de investimentos.
O programa prevê intervenções de grande porte em viário, mobilidade, drenagem e requalificação urbana. Segundo o governo, essas obras devem gerar 70 mil empregos diretos e indiretos e impactar “todas as regiões da cidade”. Mas o que se vê, na prática, é um cenário que já se tornou comum para os moradores da Zona Norte: o esquecimento.

Apenas dois projetos citados tocam perifericamente a região — o Corredor da Avenida Imirim e a Galeria Reservatório do Jardim Carumbé. Ambos localizados sob a responsabilidade da Subprefeitura Casa Verde / Cachoeirinha / Limão, e sem conexão direta com bairros mais densamente povoados e esquecidos como Vila Maria, Vila Guilherme, Vila Medeiros, Santana, Mandaqui e Tremembé.

Outro destaque da lista é o Parque Municipal do Campo de Marte, já licitado e com obras previstas para agosto deste ano. Mas, apesar de estar fisicamente localizado na Zona Norte (mais do lado da Casa Verde), também se insere mais nos interesses centrais do que em políticas efetivas para o entorno.

Um histórico de esquecimento
Os moradores da Zona Norte apontam que há décadas a região é negligenciada nos grandes planos urbanísticos. “A última grande obra que tivemos por aqui foi a velha Avenida Nova, que é chamada Luiz Dumont Villares. Isso foi há 45 anos!”, lembra um comerciante da Parada Inglesa. A avenida de dois quilômetros foi construída sobre o antigo Córrego Carandiru, no matagal que corria o famoso Trem das Onze com destino ao Jaçanã e Guarulhos. Desde, então, não se viu mais nenhuma intervenção estruturante desse porte.
Mesmo com bairros populosos e economicamente ativos, a região segue carente de equipamentos públicos modernos. “Não temos um CEU (Centro Educacaional Unificado), nem Sesc. Há um enorme prédio do Mart Center esquecido no tempo que podia ser útil para os moradores e a terceira idade. Parece que somos invisíveis”, afirma uma moradora da Vila Guilherme. No Jaçanã, moradores relatam a sensação de estarem presos no tempo: “As ruas são as mesmas, os buracos também. Tudo se deteriora lentamente, sem nenhuma promessa de renovação.”

Novas promessas, velhas práticas
Entre os principais anúncios do programa, está o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) — chamado de Bonde São Paulo —, estimado em R$ 3,9 bilhões — isto mesmo: “três bilhões e novecentos milhões de reais“, mas que pode extrapolar. A obra, considerada um marco de mobilidade sustentável, ainda está prevista apenas no papel, com edital para sair em 2026 e conclusão estimada para 2029 — em três anos. Nenhum trecho dessa linha contempla os bairros da Zona Norte.
Outro destaque é a requalificação urbana do Parque Dom Pedro II, com orçamento de R$ 720 milhões e prazo de sete anos. Embora importante para a cidade, a obra reforça o foco em regiões centrais, deixando áreas periféricas e tradicionalmente negligenciadas de fora.

O clamor das ruas
Apesar da empolgação governamental, a população do extremo norte da capital sente-se, mais uma vez, excluída. “Todas as obras são boas, ninguém é contra. Mas é preciso olhar para a cidade com mais equilíbrio. Parece que sempre ficamos por último”, desabafa um comerciante do Lauzane Paulista.
Esse sentimento se repete em depoimentos colhidos por nossa reportagem. Em Santana — apesar da atual boa administração na Subprefeitura, com alguns benefícios da região — moradores apontam a falta de novas áreas verdes e lazer, o abandono de centros culturais e o sucateamento do transporte público. No Tremembé, a mobilidade é um desafio diário, com linhas de ônibus lotadas e vias esburacadas.
O governo afirma que “todas as regiões serão impactadas por obras locais ou regionais”. No entanto, os mapas e documentos do próprio programa, com 67 páginas (veja abaixo), mostram que a grande fatia do investimento segue concentrada em áreas já estruturadas ou em regiões de interesse estratégico central.

O peso da inércia
Especialistas em urbanismo apontam que a Zona Norte sofre de um apagão político e institucional. “Falta representatividade que faça pressão real por melhorias. Muitas das demandas da região são antigas, mas não se convertem em prioridade nas gestões municipais”, afirma um arquiteto da USP, que preferiu não se identificar.
Essa ausência de obras não se reflete apenas na estética urbana, mas impacta diretamente a qualidade de vida dos moradores. Falta infraestrutura básica, drenagem eficiente, calçadas adequadas, acessibilidade e segurança viária.
Esperança ou rotina de frustração?
O lançamento do Programa Melhoramentos de São Paulo poderia ser uma oportunidade de corrigir desigualdades históricas. No entanto, repete um ciclo em que a Zona Norte aparece mais como coadjuvante do que protagonista no desenvolvimento da capital.
Se não houver uma mudança concreta na priorização territorial dos investimentos, os bairros da Zona Norte continuarão como “os eternos esquecidos”, como disse um comerciante da Av. Guilherme Cotching, Vila Maria, com tom de desânimo.
Enquanto o Centro e outras regiões seguem recebendo atenção e recursos vultosos, os moradores da verdadeira Zona Norte seguem esperando – e cobrando – por justiça urbana.
Assista ao vídeo com a apresentação – clique na imagem abaixo:
Confira aíntegra de apresentação do Programa “Melhoramentos de São Paulo” , com 67 páginas – clique aqui
<<Com apoio de informações/fonte: Secretaria Especial de Comunicação – SECOM>>
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