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Passeio histórico revela os segredos das ruas e rios escondidos da Zona Norte de São Paulo

Encontro/saída do Sesc Santana/Jd.São Paulo - Foto: Divulgação/Oscar Diaz
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  • Jardim São Paulo foi fundado em 17/06/1938 (86 anos) faz parte da Linha 1-Azul do Metrô-Ayrton Senna (homnagem ao morador do bairro);
  • Parada Inglesa surgiu em 25/07/1916 (108 anos) com o nome em homenagem ao engenheiro inglês William Harding, que implantou a Tramway (Trem da Cantareira);
  • Tucuruvi é o distrito da ZN que engloba o Jd. São Paulo e a Parada Inglesa; e
  • A unidade do Sesc Santana foi inaugurada em 22/10/2005 (20 anos).

A cidade de São Paulo tem sua história profundamente ligada à urbanização e ao uso das águas. O projeto “Pelas Ruas da Zona Norte“, promovido na semana passada (22/03/2025) pelo Sesc Santana/Jardim São Paulo, em parceria com o historiador Philippe Arthur dos Reis, teve como principal objetivo conscientizar a população sobre a importância da memória urbana e ambiental da capital paulista — que teve mais de 100 pessoas inscritas.

Com cerca de 40 pessoas inscritas na caminhada por meio de um percurso histórico, o evento levou os participantes a conhecerem ruas, vilas operárias e pontos emblemáticos do bairros Parada Inglesa e Jardim São Paulo, onde se encontra a unidade do Sesc.

Com essa primeira iniciativa apresentada no desdobramento da pesquisa de doutorado do historiador, que estudou a história urbana e política de São Paulo na transição do século XIX para o XX.

Historiador Phillippe Arthur dos Reis – Foto: Divulgação/ Oscar Diaz

A importância da caminhada para a história da Zona Norte é que ela permite apresentar e discutir temas de relevância social. O conhecimento histórico é primordial para a nossa sociedade e para a nossa formação como indivíduos críticos e atentos do mundo contemporâneo”, afirma o historiador  Phillippe e monitor da caminhada.

O início da caminhada

O trajeto de seis quilômetros em duas horas — que teve as participações de representantes do Sesc Santana/Jardim São Paulo, com a Paula  (Coordenadora de Programação) e a Fernanda Barbosa (Técnica do Esportivo) –,  incluiu 11 pontos históricos relevantes, entre eles Avenida Nova Cantareira, Rua do Tramway e Parque Domingos Luís –– ver relação no final (*). Durante o passeio, os participantes discutiram as transformações da região ao longo do tempo, observando como a urbanização impactou a geografia e o meio ambiente.

Um dos pontos centrais do percurso é o Córrego Carandiru, cuja nascente se encontra na Avenida Luiz Dumont Villares, também conhecida como Avenida Nova — inaugurada há 45 anos, antigamente era também por onde passava o Trem da Cantareira.

O trajeto do rio — que também passa aberto dentro do Parque da Juventude e deságua no Rio Tietê — , hoje  está oculto sob as ruas, revela a topografia da região, onde áreas mais altas direcionam águas pluviais para pontos mais baixos. No passado, esse fluxo de águas gerou alagamentos e motivou reclamações da população, levando à canalização do rio.

Clube-Escola Jardim São Paulo – Foto: Divulgação/Oscar Diaz

O parque no Jd. São Paulo

O Parque Domingos Luís — com 8 mil m2 de área-– , foi conhecido como  Parque Central até meados dos anos 1950, também faz parte do roteiro. A área verde ainda preserva parte das águas que atravessam a região. No entanto, no passado, o local enfrentou problemas ambientais, como a presença de um lixão, que gerou reivindicações da população para a transformação do espaço em um parque urbano.

Outro tema abordado no percurso é a relação entre saneamento e habitação. Na Rua Tibiri, o grupo discute pesquisas feitas desde o final do século XIX sobre cortiços e moradias populares.

Naquela época, técnicos identificaram uma ligação entre a precariedade habitacional e as doenças causadas pelo contato com águas contaminadas. Apesar dessas descobertas, as políticas públicas da época pouco avançaram na oferta de moradias dignas para a população de baixa renda.

Passagem pelo Parque Domingos Luis – Foto: Divulgação/Oscar Luis
A Cantareira sobressai

A Avenida Cantareira (depois reformada passou a ser Nova Cantareira — de 8 quilômetros) é outro ponto fundamental do trajeto. Com uma vista  ainda privilegiada para a Serra da Cantareira, a via remete à história do abastecimento de água da cidade.

Desde o século XIX, a Serra da Cantareira desempenha um papel crucial no fornecimento de água potável para São Paulo. O nome da avenida deriva dos “cântaros” usados no transporte de água antes da construção dos reservatórios modernos. O primeiro grande projeto de abastecimento surgiu na década de 1840 e, mais tarde, resultou na criação da Companhia Cantareira de Águas e Esgotos em 1877.

Passeio pelas ruas do Jd.São Paulo- Rua Tibiri – Fotograma/vídeo: Divulgação/Marco Aurélio Gal
As águas embutidas

O passeio foi encerrado na Praça Nossa Senhora dos Prazeres (logo acima, na Av. General Ataliba Leonel tem a Igreja homenageada com o mesmo nome), onde os participantes debateram os impactos da canalização dos córregos da região.

A prática de esconder cursos d’água sob ruas e avenidas foi implementada ao longo do século XX, gerando debates sobre seus efeitos ambientais e urbanísticos. A história do Córrego Carandiru é um exemplo de como essa transformação alterou a paisagem e a dinâmica urbana da Zona Norte.

A memória das águas de São Paulo ainda tem muito a ensinar sobre o presente. O projeto “Pelas Ruas da Zona Norte” reforça a importância de conhecer a história da cidade para entender sua evolução e planejar seu futuro.


*) Philippe Arthur dos Reis é historiador e doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas, com estágio de pesquisa junto à Universidade de Estrasburgo, na França. Atua como professor e é especialista em história urbana e política, sobretudo na história da cidade de São Paulo.


 

(*) Percurso – 6 quilômetros de caminhada : Saída do Sesc Santana/Jardim São Paulo – Av. Luiz Dumont Villares/Rua Viri, Parque Domingos Luís, Praça do Metrô Jardim São Paulo –  Rua Tibiri, Av Nova Cantareira,  Avenida Águas de São Pedro, Praça da Avenida Marechal Eurico Gaspar Dutra, Avenida Luiz Dumont Villares – Praça Nossa Senhora dos Prazeres, rua Tomé Portes  e, pela Av. Luiz Dumont Villares, o retorno até o  Sesc Santana.


<< Com apoio de informações/fonte: historiador Philippe Arthur dos Reis e Assessoria de Imprensa – Sesc Santana >>