paralelepípedos
por Beto Freire (*) — Artigo n. 07 – < Cidadania >
O Império Romano fez a pavimentação de parte da Europa, usando paralelepípedos. É certo que algumas dessas vias ainda estão intactas, com idade superior aos 500 anos. São vias e caminhos de pedras que se encontram por séculos em várias cidades do Brasil e do exterior.
Não são aldeias, pois a capital lusitana, Lisboa, por exemplo conta com esse pavimento em grande parte de sua extensão. Aqui temos na América do Sul, com nossos “hermanos”, a capital Buenos Aires é outra que tem preservação do pavimento desse tipo.
As diversas travessas e ruas das Vilas, aqui na Zona Norte da capital, também tem sua pavimentação através de paralelepípedos. É só notar que ainda estão em abundância em outros distritos e bairros da região. Onde há asfalto, a camada dele passou por cima dos paralelepípedos.
Todos os calçamentos dos tipos paralelepípedo, sem juntas de cimento são considerados pavimentos ecologicamente corretos, pois permitem a infiltração da água da chuva. As vantagens desta infiltração vão desde a recarga do lençol freático, à diminuição da vazão escoada para os mananciais, o que diminui os riscos de enchentes.
O asfalto, embora sendo uma camada fina, tem o poder de absorver calor durante o período de insolação, este calor é liberado para o meio ambiente, o qual pode ser sentido ao andar pelas ruas asfaltadas..
As soluções óbvias e baratas
O ideal para amenizar enchentes era massa asfáltica apenas nas faixas de rolagem (ao centro) das vias, deixando os paralelepípedos intactos nas faixas de estacionamento, seja em ambos os lados quando possível, junto ao meio-fio das calçadas. Fique bem claro: ninguém quer retroceder ao tempo e colocar paralelepípedo em todo o “piso da via pública”. É só nas laterais das vias ao lado da calçada, uma ou duas fileiras de paralelepípedos — e uma faixa no meio da via, se for o caso.
Esse meio-fio sempre foi de grande importância para o escoamento da água de chuva. Tanto que faz parte de item nos dicionários: ” Meio-fio é a borda da calçada, que marca o desnível entre a calçada de pedestres e o pavimento onde passam os carros. É uma construção normalmente formada por uma fileira de blocos de pedras ou paralelepípedos. A legislação de trânsito brasileira também chama de guia da calçada˜.
Uma outra medida com custo baixo para amainar as inundações são os “Jardins de Chuva” em praças, canteiros ou até em rotatórias de trânsito. Outro ponto importante são as inúmeras “valetas de trânsito” nas esquinas de ruas, que podem ser construídas com paralelepípedos, tornando-se ˜Biovaletas”.
Com isto, teremos uma nova cidade com escoamento natural da água de chuva. Essa é uma solução viável de fácil implantação por toda cidade, inclusive em calçadas quando a região tem falta de áreas ajardinadas.
Basicamente os “jardins de chuva” ou “biovaletas” (quando em calçadas) tem uma área verde com vegetação diversa na parte de cima, com boa camada de terra logo a baixo, em seguida brita e por último os reservatórios de água com saída para rede pluvial da cidade.
Uma maneira de absorver e reter temporariamente a água da chuva, além de proporcionar uma significativa melhora paisagística em canteiros, calçadas, rotatórias e praças. Tudo isto com um custo baixo, dentro dos serviços executados pelas subprefeituras, que pode ter um programa gradativo em cada distrito.
A água que volta nos bueiros
Outro ponto importante a ser observado: a cidade de São Paulo teve um crescimento desordenado e obras sem estudos aprofundados, o que fez vários rios e córregos a serem canalizados. Além das técnicas e material de época não serem adequados e ecológicos. O que faz as águas ficarem represadas e com retorno nos bueiros das ruas e avenidas.
O transbordo alimenta mais ainda as enchentes. Por isso uma avenida é rapidamente inundada, sem que os motoristas percebam o momento da enchente. E os carros ficam boiando por todos os lados e bairros da cidade.
Outro problema que não tem os cuidados pelo Poder Público é o desenlace das águas de chuva dos rios e córregos canalizados. Os pontos de abertura, nas saída da canalização, não recebem limpeza há anos, com montanhas de entulho e areia para bloquear as águas de chuva.
Saracura, Anhanguera, Anhangabaú, Itororó e Pacaembu são nomes conhecidos pela maioria dos paulistanos. Mas o que muita gente não sabe é que esses são, também, alguns dos mais de três mil quilômetros de rios “invisíveis” que cortam a capital paulista, o equivalente a cerca de 300 a 500 rios, escondidos nos subterrâneos da cidade.
Outro exemplo claro está aqui na Zona Norte: a antiga bacia do Rio Carajás (e Carandiru), na região da Parada Inglesa/Vila Pauliceia, foi totalmente canalizado e hoje está embaixo da já velha ( mais de 40 anos de sua inauguração ) Avenida Nova (Av. Luiz Dumont Villares) e fica aberto somente quando adentra o Parque da Juventude. Naquele ponto, a saída do Carajás, tem muito entulho e sujeira — fora o mau cheiro que a Sabesp nunca resolveu o problema do esgoto.
E a Prefeitura de São Paulo sabe de tudo isto, através de seus engenheiros e das secretarias. Tanto é que de acordo com o Mapa Hidrográfico do Município, existem 287 rios, riachos e córregos paulistanos. Mas, de acordo com ambientalistas, há pelo menos 300 ‘rios invisíveis’, canalizados ou soterrados – o que, portanto, mais que dobraria a quantidade oficial.
Faltam compromissos mais sérios e autênticos
Mesmo com todos os benefícios, praticidade e rapidez de execução em ambos casos, não existe interesse político de tocar projetos modestos de custo com grande valor ambiental. Por que ?
Obras embaixo da terra, sem estardalhaço na construção ou pirotecnia de inauguração não são boas de votos… Então os políticos e autoridades costumam investir recursos e emendas parlamentares em intervenções “coloridas e grandiosas”.
Nestas “obras de vereadores” tem paredes pintadas para fotos e vídeos, com objetivo de fisgar eleitores com pouca consciência coletiva, mesmo que na imensa maioria dos casos, tenham impacto positivo inútil para a população. Portanto, para esses vereadores é mais “bonito” gastar parte da emenda parlamentar (e a outra metade vai para onde?) em “gramas sintéticas de pseudo campos de futebol!!!
O resultado é sabido e conhecido, choveu… alagou, e nada mudou… Ora-pro-nóbis!
Leia também o artigo do advogado Dr. Sérgio Tannuri, com o titulo ” Os direitos do cidadão afetado pelas enchentes e como ser indenizado “ — clique aqui
(*) Beto Freire — Antonio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, é torcedor apaixonado pela Portuguesa de Desportos. Ele é um apaixonado pela Zona Norte, sendo ativo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte. Com olhar de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, sem distinção, já teve participações em muitas audiências públicas. Por outro lado, foi membro em gestões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Amigos do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).
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