pajeú
<Cinema/Crítica> == por Aguinaldo Gabarrão (*)
Qual a importância que você, leitor do DiárioZonaNorte, dá ao rio, riacho ou córrego que passa próximo de onde você mora ou trabalha? O quanto esse elemento aquoso pode interferir ou mesmo contar um pouco do seu passado, dialogar com o seu presente e até influenciar o seu futuro?
Se você nunca parou para pensar nisso, o filme Pajeú, do diretor cearense Pedro Diógenes, provoca o público com estas e outras questões da cartografia humana a partir da investigação do riacho Pajeú, hoje um córrego na cidade de Fortaleza, similar a outros tantos que resistem nos grandes centros urbanos, apesar de toda a poluição.
Maristela (Fátima Muniz) é atormentada por um sonho recorrente: uma criatura emerge das águas do Riacho Pajeú. A estranheza e insistência do pesadelo começam a atrapalhar o sono e o cotidiano da professora que, procurando uma solução para seu problema, inicia uma pesquisa sobre o Riacho, sua historia e seu desaparecimento. Porém, sua angústia aumenta quando percebe que, assim como o riacho, ela e pessoas ao seu redor também podem ser esquecidas e desaparecer.
Clique na imagem abaixo e assista ao trailer:
Ficção e Documentário
A história do riacho Pajeú – nome de uma árvore das matas ciliares – hoje um esgoto à céu aberto, é investigada por Maristela. Ela busca diferentes profissionais e pessoas comuns. A partir deste momento, o diretor Diógenes opta no roteiro por aproximar a história ficcional da narrativa documental, uma vez que os entrevistados são pessoas em estreito contato com a realidade.
Em cada novo depoimento evidencia-se o processo de apagamento histórico e físico do riacho, o que amplifica o estado de crise existencial da personagem Maristela. Ela continua a ter pesadelos com a criatura, esse ser híbrido, meio humano e fantasmagórico.
A criatura não é o mal em si, mas sim o elemento provocador. E a partir dele, a professora identifica por meio da cartografia geográfica, o lento e gradual processo de destruição não só do riacho, mas da qualidade de vida nas relações sociais, culturais e históricas. E essa percepção de perda crescente é intensificada com o uso da trilha sonora, que repete sons metálicos e de água, num tom minimalista e perturbador.
(*) Pajeú é uma metáfora de memórias coletivas violentamente apagadas por interesses mesquinhos e pela indiferença.
Serviço:
PAJEÚ
- Estreia: 31.03.2022
- Gênero: Drama e Documentário
- País: Brasil
- Classificação: 12 anos
- Duração: 1h e 13 minutos
- Ano: 2020
Ficha técnica
Elenco: Fátima Muniz, Yuri Yamamoto
Direção e Roteiro: Pedro Diógenes
- Assistente de Direção: Michelline Helena
- Direção de Fotografia: Victor de Melo
- Som direto e finalização de som: Lucas Coelho
- Montagem: Guto Parente, Victor Costa Lopes
- Trilha Sonora: Vitor C.
- Som direto e finalização de som: Lucas Coelho
- Direção de Produção: Rubia Mercia e Victor Furtado
- Produção: Marrevolto
- Distribuição: Embaúba Filmes
- Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.
.