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Padre Landell: de Santana para o mundo, a invenção do rádio realizada por um brasileiro

Tempo de Leitura: 6 minutos

invenção do rádio

por Hamilton Almeida  (*)


Nota da Redação: O autor deste artigo fará palestra com entrada gratuita, apresentando mais detalhes sobre o Padre Landell e a invenção do rádio, nesta 4a.feira (17/07/2024), às 20 horas, no Sesc Santana.


 

O rádio, a mídia de maior penetração no planeta, nasceu na Zona Norte da cidade de São Paulo, e no bairro de Santana, há 125 anos. Mais especificamente no dia 16 de julho de 1899, por obra do genial padre cientista Roberto Landell de Moura, que era pároco da então matriz de Santana e capelão do Colégio Sagrado Coração de Maria, da congregação das irmãs de São José de Chambéry – o atual Elite Rede de Ensino – Santana.

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Capela Santa Cruz (129 anos)- o Padre Landell foi pároco por dois anos.

No final do século XIX, despontavam na colina da rua Voluntários da Pátria, altura do nº 2.678, a capela de Santa Cruz e o prédio do Colégio. Foi justamente no edifício que fica ao lado da capela, o mais antigo da escola, em uma das salas de aula hoje utilizadas para educação do ensino fundamental,  que o Padre Landell realizou a experiência pública que apresentou o espetacular avanço que se esperava nas comunicações: o envio da voz e de sons musicais de um ponto a outro sem a utilização de fios condutores.

Com uma inteligência superior, trabalhando sozinho e com poucos recursos, Padre Landell construiu um aparelho constituído, basicamente, da genial invenção de um interruptor fonético (microfone), uma bobina de Ruhmkorff modificada, um centelhador e um circuito de antena. E assim ele tornou realidade a sonhada radiotelefonia.

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Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras) – Foto: Reprodução/Dominio Público
Nascia a primeira transmissão 

– ´´Toquem o Hino Nacional´´, falou o Padre Landell pelo tubo do equipamento. A cerca de 3,8 km de distância do Colégio, outro aparelho de emissão/recepção, instalado na Ponte Grande (atual Ponte das Bandeiras), enviou pelos ares o som do Hino gerado, provavelmente, por um gramofone, com um disco plano, que era acionado manualmente por uma manivela.

Assistiram a essa inédita experiência pública notáveis representantes da sociedade, como o engenheiro e fundador da Escola Politécnica, Antonio Francisco de Paula Souza, os empresários Gabriel Dias da Silva, diretor da Companhia Industrial de São Paulo, da Companhia Mac Hardy e da Companhia Rural de São Paulo, e Pedro Borges, sócio da Pedro Borges & Comp. e diretor da Companhia Viação Paulista.

Também assistiram à inédita experiência J. Miranda, gerente da Companhia Telefônica, funcionários do Telégrafo Nacional, o engenheiro Torres Tibagy e repórteres dos jornais O Estado de S. Paulo, Correio Paulistano e O Commercio de São Paulo, entre outras pessoas.

A era wireless de transmissão de voz e música havia dado o seu primeiro passo em um país periférico, longe dos centros de ciência e em um local improvável, a cidade de São Paulo, que não era a maior e nem a mais importante do país e reunia apenas cerca de 239 mil habitantes, com grande número de imigrantes. O Brasil, em 1900, tinha 17,3 milhões de pessoas, a maioria vivendo no campo.

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Réplica do equipamento da transmissão de rádio
O outro lado de Landell

Com o emprego da eletricidade, o mundo conhecia, havia algumas décadas, a telegrafia (Samuel Morse) e o telefone com fios (Graham Bell). E, desde 1895, o jovem Guglielmo Marconi provou que era possível enviar sinais telegráficos sem o auxílio de fios.

Utilizando-se do oscilador de Hertz, da antena de Popov e do coesor de Edouard Branly, Marconi conseguiu enviar sinais sonoros binários de ponto e traço (código Morse) pelo espaço a uma centena de metros, na vila de Pontecchio, próximo a Bolonha. Esse singular experimentou inaugurou a era wireless, que chega aos nossos dias com uma profusão de dispositivos.

Documento de patente nos EUA do Wireless Telegraph (Telégrafo sem fio), em 22/11/1904.

Atenção: o italiano não transmitiu a voz e nem música, que bem caracterizam as emissoras de rádios, mas simplesmente sinais sonoros curtos e longos. Com o passar dos anos, a invenção do rádio seria atribuída erroneamente a Marconi. Isso porque o seu invento foi denominado de radiotelegrafia ou telegrafia sem fios. Mas, a diferença é gigante quando comparada à radiotelefonia, telefonia sem fios ou rádio.

Segundo a Unesco, órgão da ONU, o rádio é o único meio de comunicação capaz de alcançar 95% da população mundial. É um veículo também que se soube se amoldar e se reinventar com o passar do tempo, diante das novas tecnologias que foram surgindo. O telégrafo sem fios, ao contrário, é uma peça de museu.

Nem apoio e nem mérito

Apesar da sua incontestável contribuição para a história científica das comunicações, o Padre Landell, gaúcho de Porto Alegre (1861), jamais obteve algum apoio ou foi reconhecido pelo mérito das suas invenções, mesmo tendo patenteado as suas invenções no Brasil (1901) e nos Estados Unidos (1904).

Aliás, assim que foram se difundindo boca a boca o êxito dos seus experimentos sem fio, um grupo de “fiéis católicos” se revoltou e resolveu destruir aqueles aparelhos infernais. Os negacionistas da ciência acusaram-no de falar com o demônio, ignorando que havia um interlocutor à distância, em carne e osso.

Padre Landell prometia mais. Chegou a projetar a televisão em 1904, décadas antes de outros cientistas, quando ainda nem existia o rádio comercial. Só não foi adiante nessa invenção porque ele não possuía recursos financeiros suficientes.

A sua vida, encerrada em 1928, na capital gaúcha, foi marcada pela injustiça. E quase um século depois, ele ainda não é reconhecido no país como o verdadeiro inventor do rádio, um pioneiro das telecomunicações.

Tumba de Landell (1861/1928=67 anos) na Igreja do Rosário em Porto Alegre

Hamilton Almeida –  É jornalista e escritor. Começou a pesquisar as façanhas do Padre Landell ainda estudante na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em 1976, aula de radiojornalismo. Foi da agência Telenotícias, do Grupo Visão.

Em Porto Alegre, foi repórter de economia do jornal Zero Hora por mais de uma década. Em Buenos Aires, correspondente de ZH e, depois, da Gazeta Mercantil Latino-Americana, além de colunista da revista Imprensa e colaborador da rádio BBC, de Londres, para assuntos de economia.

Investigações na capital do país vizinho levaram à escrita de Sob os olhos de Perón: o Brasil de Vargas e as relações com a Argentina (Record, 2005). De volta ao Brasil, atuou na CDN Comunicação e colaborador da revista Química e Derivados. Livros de sua autoria sobre Landell:

  •  Padre Landell de Moura – Editora Tchê/RBS;
  •  Padre Landell – um herói sem glória –  Editora Record;
  •  Padre Landell, o brasileiro que inventou o wireless  –   Editora Insular;
  •  O outro lado das telecomunicações: a saga do Padre  Landell  – (Editora Sulina); e
  •  Em alemão: Pater und Wissenschaftler – Debras Verlag,            Deutschland.

Saiba mais:

  • Av. Paulista ganha espaço em homenagem ao rádio, mas sem citar o seu inventor Landell – clique aqui
  • Bulevar do Rádio precisa reconhecer o inventor brasileiro Padre Landell de Moura – (20/09/2023) – clique aqui
  • Exposição no MIS apresenta o Padre Landell, o verdadeiro inventor, e a história do rádio – (01/03/2023) – clique aqui
    * Padre Landell, um gênio brasileiro que foi esquecido como inventor pioneiro do rádio – (24/06/2022) – clique aqui
    *  O rádio nasceu na Zona Norte da cidade de São Paulo -(30/07/2021) – clique aqui

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