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“Otelo, o Outro”, releitura de Shakespeare chega aos palcos do Sesc Santana

Foto: DivulgaçãoJulieta Bachinn
Tempo de Leitura: 3 minutos

Otelo

  • Partindo do protagonista da tragédia escrita por Shakespeare, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora.

Na 6ª.feira (30/08/2024)  entra em cartaz no Sesc Santana o espetáculo Otelo, o outro, uma releitura do clássico de William Shakespeare. Sedimentada no pensamento do psiquiatra e filósofo Franz Fanon, a montagem narra os efeitos da racialização da experiência humana.

A distribuição desigual do afeto, e a constituição da subjetividade de maneira frágil e traumatizada são encenadas pelos atores Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes, com  direção de Miguel Rocha.

Otelo
Foto: DivulgaçãoJulieta Bachinn

Partindo do protagonista da tragédia escrita pelo dramaturgo inglês, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora. ´´Otelo, o Outro´´ é, pois, uma viagem interna, um mergulho em si mesmo em que o personagem vai se estranhando.

Delírio, sonho ou pesadelo, essa viagem ou esse mergulho faz a personagem de Shakespeare encarar outros dois “Otelos” que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso, que passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afrodiaspóricas, marcadas pelo deslocamento social e cultural.

Otelo
Foto: DivulgaçãoJulieta Bachinn

“Otelo, o Outro” representa um homem inventado como “negro” pelo olhar ocidental, um sujeito que se submete a esse olhar, tentando se integrar por inteiro – “de corpo e alma“, como se diz.

O casamento com Desdêmona – uma mulher branca da elite – é a metáfora dessa entrega incondicional a um sistema de valores e a comportamentos que o estigmatizam como “o mouro”, ao mesmo tempo que se serve dele.

A cegueira do ciúme é uma alegoria dessa apaixonada adesão. Sua corporeidade, portanto, é o índice e o limite que o separa irrevogável e irreversivelmente desse “Ocidente” que ele deseja literalmente incorporar.

Otelo
Foto: DivulgaçãoJulieta Bachinn

A releitura, porém, fala de uma consciência dividida que, aos poucos, mas não sem muita dor, vai percebendo a origem do conflito que a fustiga. Ela reflete também sobre os mecanismos que recalcam a ancestralidade inscrita no corpo, repugnada pela sociedade à qual o “mouro” aspira, caminhando para o desfecho trágico da morte – mas não da morte do corpo.

Nessa montagem – orientada sobretudo pelo pensamento de Frantz Fanon -, Otelo se expõe à ruptura com o discurso que o inventa exatamente como “homem negro”, ao mesmo tempo que ele recusa qualquer forma de tutela de sua consciência, inclusive aquela que lhe nega até o direito de odiar.

Sem dar respostas, já que esse espetáculo procura mais provocar do que solucionar, ´´Otelo, o Outro´´ explora as contradições da própria consciência negra numa sociedade como a brasileira contemporânea. Sociedade hegemonizada pelo capitalismo neoliberal e pela indústria cultural pós-moderna, que sempre aspira ao “novo” sem enfrentar e superar o legado do escravismo colonial e de seu autoritarismo estruturante.

A peça fica em cartaz até 08 de setembro. Os ingressos estão disponíveis através do app Credencial Sesc SP, da central de relacionamento digital e presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc


Ficha Técnica:

Concepção e produção geral: Kenan Bernardes / Dramaturgia: Israel Neto, Joaci Pereira Furtado e Kenan Bernardes / Encenação: Miguel Rocha / Elenco: Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes / Designer de som e difusão sonora: João Paulo Nascimento/ Consultoria idiomática: Hamza Abdul Karim / Direção e pesquisa de movimento e atuação: Erika Moura / Desenho de luz: Wagner Pinto / Produção de luz: Carina Tavares  / Assistência de iluminação: Gabriel Greghi e Gabriela Cezário / Operação de luz: André Rodrigues / Cenografia: Julio Dojcsar / Cenotécnica: Helen Lucinda / Serralheiro: Fernado Lemos “Zito” / Figurinista: Silvana Marcondes / Adereços: Bru Fiamini / Costura: Atelier Judite de Lima / Voz off feminina: Ina / Orientação teórica da pesquisa: Deivison Nkosi / Fotografia: Julieta Bacchin / Arte gráfica: Murilo Thaveira / Vídeo: João Maria / Registro para as redes sociais: Talitha Senna / Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação / Produção executiva e contabilidade: Jussara Mendes

Serviço
  • Local: Sesc Santana/Teatro: 330 lugares
  • Endereço: Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd.S.Paulo
  • Período: de 30/08 a 08/09/2024
  • Horários: 6a. e sábado, às 20h /  Domingo, às 18h.
  • Especial/Feriado: dia 07/09, sessão às 18h.
  • Duração: 90 minutos
  • Faixa etária: 16 anos
  • Ingressos: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia)
  • Credencial plena/Sesc: R$ 18,00

<<Com apoio de informações/fonte: Assessoria de Impensa SESC Santana / Thiago Costa >>