por Aguinaldo Gabarrão (*)
O filme ‘Eu, Capitão’, estreou nos cinemas brasileiros em 2023, ganhou prêmios, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional e está na programação da 19ª Edição do Festival de Cinema Italiano (informações ao final desta crítica), que reúne filmes inéditos e consagrados.
Ambientado numa região pobre da cidade africana de Dacar, capital do Senegal, o filme conta a história de dois primos, ambos adolescentes, que tomam a arriscada decisão de imigrarem para a Itália, com o objetivo de conseguir trabalho e ajudar as suas famílias.
Imigrantes e refugiados
Esse enredo não apresenta nada de novo, se for comparado às matérias jornalísticas de qualidade, sobre o fluxo crescente de imigrantes e refugiados, abarrotados em embarcações deploráveis e que tem causado a perda de vidas, nas muitas tentativas frustradas de entrada ilegal em países mundo afora.
O que desperta interesse no filme é a maneira inteligente com que o diretor Matteo Garrone cativa a atenção do público, sem mascarar a realidade.
Ao mostrar a fuga dos jovens, ele apresenta um dos aspectos mais terríveis da miséria: a impossibilidade de uma alternativa de vida digna no próprio país em que se vive.
Utopia
Há outras camadas importantes que estão relacionadas a esse problema: a indústria ilegal que se cria sob os olhos do Estado, na figura de agentes do crime organizado (coiotes), que conhecem os caminhos para conduzir imigrantes de forma precária às áreas de fronteira.
Apesar dessa situação perversa, a utopia de uma vida melhor é o combustível poderoso que lança os adolescentes e todo aquele contingente humano em uma longa, perigosa e insana viagem para tentarem chegar à Europa e, neste caso, à Itália.
Dor e tragédia
Ironia ou não, o país almejado pelos jovens para um futuro melhor, foi exatamente o que participou da partilha da África, em conjunto com as grandes potências europeias no século XIX e XX, com o objetivo de espoliar as riquezas do continente africano.
O filme ‘Eu, Capitão’ não trata diretamente desta questão, que é subjacente, e tem no passado as necessárias conexões para compreendermos esse terrível movimento humano de fuga de seu próprio chão, cultura e família. Mas é um filme que estimula a reflexão quanto aos verdadeiros responsáveis por tanta dor e tragédia.
Assista o trailer – clique na imagem:
O evento conta com uma programação gratuita de filmes inéditos e uma retrospectiva sobre o humor do cinema italiano. O Festival foi fundado pela Câmara do Comércio Italiana de São Paulo – ITALCAM, e conta com o patrocínio e a colaboração da Embaixada da Itália que, há três anos, lançou o projeto de exibir os filmes do Festival presencialmente no Brasil inteiro com o objetivo de divulgar a cultura italiana por meio do seu cinema, conhecido no mundo inteiro pela sua criatividade e genialidade.
Período: 7 de novembro a 8 de dezembro
Onde: em mais de 70 cidades, 120 salas de projeção e no streaming para todo o Brasil
Informações e programação completa no site oficial do festival: clique aqui
Serviço
EU, CAPITÃO
- Título Original: IO, CAPITANO
- Gênero: Drama
- País: Itália, Bélgica
- Classificação: 16 anos
- Duração: 2 horas
- Ano: 2023
Direção: Matteo Garrone / Roteiro: Matteo Garrone e Massimo Gaudioso / Elenco: Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo / Direção de Fotografia: Paolo Carnera / Figurinos: Stefano Ciammitti / Trilha Sonora: Andrea Farri / Montagem: Marco Spoletini / Produção: Paolo Del Brocco / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.