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O descaso nos atendimentos do Hospital do Mandaqui – uma nova tragédia anunciada

Tempo de Leitura: 7 minutos

 

da Redação DiárioZonaNorte
  • O Hospital do Mandaqui tem 86 anos, fundado em 01/12/1938, de início especializado no tratamento de tuberculose;
  • Atualmente o hospital classifica-se como de atendimento  Geral, de ensino, em nível terciário sendo referência para politraumatizados pra Zona Norte; e
  • O hospital informa: “Promover assistência segura à saúde, com respeito e ética aos usuários, desenvolvendo o ensino, a pesquisa e as práticas de excelência”.

atendimentos Hospital do Mandaqui

Senhores e senhoras, leitores deste jornal, o que se segue é um relato real de um filho que acompanha seu pai, de 68 anos, em busca de um infrutífero atendimento médico no Conjunto Hospitalar do Mandaqui, um dos principais hospitais estaduais do Governo de São Paulo, localizado na Zona Norte da capital.

A história real é um reflexo da crise enfrentada pelos hospitais públicos e uma dura realidade que precisa ser enfrentada. Um hospital que tem como especialidade os casos de  politraumatizados, mas não tem ortopedista e precisa agendar consulta para alguns dias – ou quem sabe, semanas!

Na 6a. feira à noite, 20 de dezembro de 2024, uma forte chuva torrencial causou a queda de energia na residência de um morador  da Zona Norte, o Sr. R.A.J.  —  que o jornal optou por manter no anonimato —, resultando em um acidente doméstico. O idoso sofreu uma queda que causou uma fratura no joelho, necessitando de diagnóstico especializado.

Sem alternativa, foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que, apesar da demora no atendimento, ainda cumpre seu papel essencial para emergências. Como o filho do paciente  relatou:  “pois se assim não fosse, lá não estaria”.

Contudo, o que deveria ser um local de socorro e alívio revelou-se um cenário caótico. O paciente foi colocado em um dos corredores do hospital, onde estão amontoados outros doentes, todos dividindo o mesmo sofrimento.

Pacientes ficam sentados nas cadeiras, no chão e em macas. Os funcionários passam pelos corredores atulhados com lixo, espremendo pacientes com dor ou desacordados e seus acompanhantes cansados”,  lembra o filho, que ficou junto no corredor.

A tragédia humanitária está à vista: a falta de profissionais é evidente. No sábado, simplesmente não havia ortopedistas disponíveis para avaliar a fratura, e a consulta foi protelada para a 2a. feira, 23 de dezembro.

O hospital está cheio, da recepção aos corredores dos consultórios, com médicos dizendo em voz alta que ‘não mandem mais pacientes por não terem sutura’ e outras coisas, além de a avaliação cirúrgica mais próxima ser prometida para no mínimo 20 dias adiante, ‘na melhor das hipóteses”, conforme dito pela equipe médica — e a cirurgia com previsão para 60 dias.

Essa situação é agravada por problemas estruturais e sanitários. As enfermarias são mal ventiladas, sem ar-condicionado, e o cheiro de fezes, urina e suor permeia o ambiente.

As portas ficam abertas para tentar amenizar o calor e o cheiro… Um único banheiro, que visivelmente não é limpo há dias, é dividido entre uns 150 pacientes e seus acompanhantes, homens e mulheres, em uma única ala”, comenta o filho.

Falta de medicamentos

A falta de medicamentos é outro obstáculo, forçando familiares a providenciarem remédios básicos para garantir que o tratamento não seja interrompido. “Os funcionários discutem com pacientes se eles têm doenças preexistentes ou não, pedem para familiares levarem remédios, pois principalmente os de uso contínuo eles já não têm…”

Visível que há pouquíssimo quadro médico e de enfermagem para a quantidade de leitos ocupados. É uma verdadeira tragédia humanitária na cidade mais rica do Brasil”, lamenta o filho.

Essa situação reflete não apenas uma crise de gestão, mas também uma falta de priorização de políticas públicas para o setor de saúde.

Hospital de Referência

Historicamente, o Hospital do Mandaqui sempre foi um dos pilares do atendimento de saúde na região. Fundado em 1938, cresceu ao longo das décadas, tornando-se referência no atendimento a emergências e casos complexos.

Mas o sucateamento da infraestrutura e o subfinanciamento das últimas décadas colocaram o hospital em situação crítica. Enquanto a população cresce e envelhece, a demanda por atendimento supera em muito a capacidade do hospital.

Enquanto isso, o que se vê no hospital é uma rotina de sofrimento e desespero, de pacientes honestos que pagam seus impostos e só desejam um atendimento digno e humanizado.

O relato deixa uma questão urgente: até quando cidadãos honestos precisarão lutar contra a sorte para garantir o mínimo direito à saúde?

O que diz a Secretaria Estadual da Saúde

O DiárioZonaNorte encaminhou os detalhes da situação à Secretaria Estadual da Saúde, conforme os itens relatados acima e nesta 2a. feira (23/12/2024),  por volta das 16 horas, recebeu o seguinte comunicado, que reproduzimos na íntegra:

O Conjunto Hospitalar do Mandaqui (CHM) informa que é referência para o atendimento de vítimas de acidente vascular cerebral (AVC), politraumatismo, infartos, entre outros. Além disso, o pronto-socorro (PS) da unidade funciona de portas abertas. Por mês, o hospital realiza cerca de 5 mil consultas ambulatoriais. 

Todos os pacientes que procuram a unidade são atendidos conforme classificação de risco, aqueles classificados como graves são encaminhados diretamente para as salas de emergência e os que necessitam de internação em leito de enfermaria são acompanhados no pronto-socorro, até que seja feita a internação em um leito. 

O Hospital do Mandaqui reforça que não há falta de medicamentos, insumos ou de refeições adequadas para os pacientes internados na unidade. Quanto ao caso do paciente R.A.J., ele deu entrada na unidade na última 6ª feira (20) e passou por cirurgia ortopédica nesta 2ª feira (23). O paciente está estável e sendo acompanhado por equipe médica multidisciplinar. Em relação à limpeza, a unidade possui um contrato emergencial e um outro em licitação, para que a empresa assuma no próximo mês”.

Nota da Redação: Segundo informações apuradas por este jornal, no domingo (22/12) por volta da meia-noite, o paciente R.A.J. recebeu a visita de um médico (não residente) que comunicou que o paciente deveria ficar em total jejum. Situação que levaria o paciente à cirurgia, logo pela manhã de 2a. feira (23), o que realmente aconteceu.
A intervenção cirúrgica realizada no joelho do paciente — artroplastia —  levou por volta de 4h30, com sucesso, segundo foi informado. Por outro lado, houve até uma sensível diminuição de pacientes nas macas estacionadas no corredor e, com estranheza de enfermeiros, aconteceu uma faxina e limpeza no local – “que não acontecia há muito tempo”.
Segundo foi apurado com fontes deste veículo, que preferem ficar na condição de anonimato, o Hospital do Mandaqui está “todo terceirizado” na limpeza, nutrição, atendimento primário e não está tendo gestão, ou seja, “estão somente batendo planilha”. Por enquanto, esse caso foi resolvido de um dia para o outro, quando pode levar muitos dias e até meses. Muitos outros pacientes continuam à espera e na sorte dos atendimentos, que podem ser relatados.

Nota da Redação/Opinião do DiárioZonaNorte  =  Parece até um enredo de novela ruim, mas é a triste realidade que os pacientes enfrentam no Complexo Hospitalar do Mandaqui.

Desde 2018, o hospital, que deveria ser um dos pilares da saúde na Zona Norte, é palco de um drama vergonhoso. A cereja do bolo? A destituição arbitrária do Conselho Gestor, aquele que representava os interesses da população com firmeza e não tinha medo de cobrar providências.

A situação chegou a ser debatida na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), mas, como de costume, ficou por isso mesmo.

Depois, veio a pandemia e, com ela, o caos. Mas também um alívio temporário: a atenção do Conselho Gestor foi renovada, mas sem o vigor do anterior. Agora, com a pandemia em baixa, o que se vê é a mesma apatia que nos trouxe até aqui.

Enquanto os casos voltam a crescer, as providências continuam estacionadas – assim como muitos pacientes nas esperas intermináveis do hospital.

Não é de hoje que o atendimento no Hospital do Mandaqui é um problema crônico. A história se repete: o paciente que chega a pé ou de carro encontra um labirinto de desculpas e adiamentos.

A situação muda um pouco se o socorro vem de ambulância, mas não espere milagre – o atendimento imediato é só o início de uma longa e cansativa jornada. Entre as queixas mais comuns está a falta de ortopedistas – e de outros especialistas -, mas essa é apenas a ponta do iceberg. O que falta mesmo é planejamento, fiscalização e, acima de tudo, compromisso.

Cabe aqui um puxão de orelha em nossos políticos – sim, vereadores, deputados estaduais e federais, estamos olhando para vocês. Não basta fazer promessas mirabolantes ou lembrar do povo apenas na época de eleição. Fiscalizar é um dever.

Sim,  Senhores Vereadores — os novos e os reeleitos –, a cidade de São Paulo é um dos 645 municípios paulistas, isso inclui vocês para brigar por ele, usando o modo de legislar e fiscalizar! Deputados estaduais, parem de esquentar as cadeiras da Assembleia Lesgislativa de São Paulo (Alesp) e usem seus mandatos para visitar e auditar os serviços de saúde – nem é só as cidades do interior que merecem atenção!.

Todos os políticos – inclusive deputados federais e senadores – devem se inspirarem no conceito de “visitas surpresa” e darem as caras no Hospital do Mandaqui – incluindo os demais na cidade. 2026 está logo ali, e nada melhor do que um pouco de transparência para reconquistar eleitores.

E o Governo de São Paulo? E a Secretaria Estadual de Saúde? Onde estão os gestores que deveriam garantir a dignidade do atendimento? A situação exige uma intervenção imediata. As promessas de melhorias precisam sair do papel e virar realidade.

Enquanto isso, o povo sofre. E o DiárioZonaNorte segue vigilante, como sempre esteve. Nossas páginas continuarão abertas para dar voz a quem precisa, para cobrar soluções e para expor a verdade. Porque, ao contrário do que acontece no Hospital do Mandaqui, nós não adiamos a responsabilidade.

Mas fica aqui nosso desejo: que um dia possamos noticiar o lado bom das coisas. Que o Hospital Mandaqui – e outros da cidade – volte a ser um exemplo de eficiência, com atendimento humano e de qualidade. Porque a saúde é um direito, não um privilégio.

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