protestos
por Beto Freire (*) — Artigo quinzenal n. 26 – < Cidadania >
O novo Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade, que foi elaborado pelos atuais 55 vereadores e votado em 1° turno, apesar das diversas críticas de urbanistas e especialistas, recebeu 42 votos favoráveis e 12 contrários dos legisladores paulistanos. O tempo fechou em nuvens pretas e criou-se uma revolta de toda a cidade, até com pedido de cancelamento de um plano que vai direcionar a cidade por dez anos – isto mesmo, uma década! E aí teremos mais problemas à vista!
Esse plano quer autorizar, por exemplo, que a construção de edifícios possa atingir 9 vezes o tamanho do terreno, um lote de 500 metros quadrados por exemplo teria 4.500 metros quadrados de área construída. Em resumo, os espigões de concreto no miolo dos bairros têm o céu como limite. Hoje a cidade já tem locais em que ruas se fecham nos prédios altos — como nas regiões da Faria Lima ou da Berrini — aqui na verdadeira Zona Norte (*) podemos citar a Voluntários da Pátria, próximo do Mandaqui, onde você olha para cima e não vê mais o Sol, só prédios.
Por outro lado, há um contrassenso já que a proposta é levar mais gente para morar perto das grandes avenidas e dos corredores de ônibus. Desta forma, acreditam que desestimularia o transporte individual com os carros. Parece uma loucura prevendo-se que o perímetro dessa faixa crescerá 150%, entrando no miolo dos bairros. Com mais prédios altos, mais moradores, e haverá mais garagens, com um número bem maior de veículos que circularão pelos bairros e pela cidade.
Salvando o Mirante e o hospital
Com isto, aqui em nossa região, esse plano atinge outros pontos, como o importante e histórico prédio do Mirante de Santana/Jardim São Paulo. Mas democraticamente houve um ato de cidadania de moradores com a criação de um Movimento Salve o Mirante de Santana. Um grupo que foi à luta com protesto e questionamentos na Câmara Municipal em proteção à estação meteorológica e contra os prédios altos no entorno, que provocam sombras tapando o espaço e comprometendo as medições.
O Mirante de Santana é o mais antigo e importante de São Paulo, com o prédio chegando a um século na Praça Vaz Guaçú, a região mais alta de Santana/Jardim São Paulo. E há 78 anos teve o início na coleta dos dados atmosféricos para São Paulo e o Brasil através do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) com repercussão mundial — é só ver as várias reportagens aqui neste veículo de comunicação, que é o único que está dando total cobertura sobre o assunto.
A população do Imirim também saiu a luta dos seus direitos, quando a vizinhança soube que o Hospital São José, com mais de 63 anos — e que estava fechado e serviu inclusive no atendimento durante a pandemia — daria lugar a uma espécie de ´´internato ou hospedagem´´ para tratamento de dependentes químicos. Os moradores conseguiram demover a ideia do projeto da Secretaria Municipal da Saúde. Agora, os moradores pedem a reabertura do hospital para atendimento Sistema Único de Saúde ( SUS ) e/ou melhor destino para sua estrutura física numa região neste serviço.
O plano e novos problemas
Outro agravante no Plano Diretor é a falta de atenção com o viário da verdadeira Zona Norte, nenhuma previsão para escoamento do transporte coletivo e do trânsito em nossa região. Com tantos novos e grandes prédios no miolo de nossos bairros e vilas, ninguém pensou na mobilidade urbana da Zona Norte ? As lojas fechando nas vias de comércio de bairros por falta de movimento, ou sem pontos para estacionar ou os grandes fluxos de trânsito. Com isto, menos empregos e empreendedorismo – que, por outros caminhos, o poder público tenta incentivar.
É só parar, pensar e analisar o óbvio. Como o trânsito já está estrangulado, como ter qualidade de vida e competitividade para atrair novos empresas para nossas vilas ? Os vereadores simplesmente ignoraram a nossa região como também a infraestrutura urbana no quesito mobilidade e transporte coletivo.
Veja o que acontece para o Jardim Japão, Jardim Brasil, Jardim Guançã, Parque Edu Chaves e todo restante do território da Subprefeitura Vila Maria/Vila Guilherme/ Vila Medeiros, o Plano Diretor não prevê nada além de mais prédios altos fazendo sombra e rachaduras nas casas alheias e criando mais problemas. Os prédios sobem, mas a rua continua do mesmo jeito, sem ampliar o esgoto e outros serviços, além dos estacionamentos com mais carros em ruas esburacadas e congestionadas.
Nenhum novo viaduto para fazer a interligação de nossos bairros e vilas para o centro. Só para ter uma ideia, a Ponte Vila Maria/Jânio Quadros foi inaugurada em 1956 – depois disto, nada mais. Como também com a Velha Avenida Nova (Av. Luiz Dumont Villares – na divisão da Vila Guilherme com Santana/Jardim São Paulo), que foi a última grande obras na região, só há 43 anos.
E com várias promessas engavetadas nas secretarias e órgãos da Prefeitura da Cidade de São Paulo. Mas nota-se no horizonte da Vila Guilherme a previsão de outros megaempreendimentos, como já em andamento o projeto de ampliação da cidade Center Norte, o que certamente atrairá mais fluxo de veículos e consumidores. Nas gavetas estão o prolongamento da Av. Cruzeiro do Sul até a Eng. Caetano Álvares, o túnel subterrâneo na Praça Campo de Bagatelle, a passagem da Av. Nova junto à Av. Tucuruvi, o Arco do Tietê, o Metrô Linha Celeste na Vila Maria, entre outros projetos.
Sem saída por todos os lados
Com isto, voltamos ao problema de mais carros, mais trânsito e sem aumento no transporte e nas vias públicas. Até a esperança de uma linha de Metrô para a região da Vila Maria está sendo congelada para muitos anos à frente. Olhando nos números, somos mais de 350 mil pessoas vivendo apenas nos distritos de Maria/Guilherme/Medeiros, além da população flutuante que circula todos os dias em nossa região.
No tão importante ítem da saúde, os vereadores em nenhum momento estiveram pensando em nossa infraestrutura hospitalar, que hoje conta apenas com o Hospital Público Municipal José Storopoli (Vermelhinho). Com grande fluxo e acidentes nas Marginal Tietê, Dutra, Fernão Dias e Ayrton Senna enviando mais pessoas para atendimento médico de urgência e emergência em um pequeno complexo com a mesma infraestrutura do início da década de 80.
A criação de infraestrutura para atrair e aumentar os empregos e renda, também passaram batido por nossos representantes na Câmara Municipal. O Plano Diretor com essa configuração pode receber o apelido de Plano das Construtoras e, com certeza absoluta , não são os sócios proprietários e diretores dessas corporações que virão morar na Zona Norte, esquecida da cidade e com tantos problemas.
Por aqui, neste pedaço da cidade, não houve planejamento de grandes áreas verdes, ampliação do viário, preocupação com a saúde dos moradores e muito menos com a qualidade de vida dos nossos vizinhos. O pouco que se tem e o nada para muitos, até sem o básico no cotidiano e no lazer de um final de semana agradável – é só ver o único parque municipal das Vilas, que é o Parque do Trote.
Não dá para esconder
E, para resumir toda essa aberração, teve vereador cobrando a fatura do Sindicato das Grandes Incorporadoras, com exposição da mensagem aberta em jornais, emissoras de tv e internet. Aparentemente, apenas o judiciário paulistano não viu ou nada escutou. Por outro lado, os contribuintes que tudo sabem e tudo vêm, mas não sabem valer seus direitos constitucionais.
Enquanto os moradores, como munícipes e eleitores, não fizerem uma avaliação de consciência e ética, continuaremos apenas como números e sendo somente lembrados de fato para o pagamento de impostos e em véspera de eleições. Não se esqueçam que as eleições municipais estão chegando, ano que vem, e é hora de maior consciência e ´´dar o troco a quem merece´´. Pense nisto e participem mais e criem grupos de moradores para ir além e exigir os direitos de cidadãos.
(*) Beto Freire — Antônio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, um apaixonado pela Zona Norte, sendo ativo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte — escreve quinzenalmente. Com olhar de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, sem distinção, já teve participações em muitas audiências públicas. Por outro lado, foi membro em gestões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Amigos do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).
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Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.
(*) Nota da Redação-Esclarecimento: A Prefeitura da Cidade de São Paulo faz o uso equivocado dos pontos cardeais -– que acaba influenciando as emissoras de rádio e tv, mais as outras mídias e a população — classificando os distritos, bairros e as subprefeituras da Freguesia do Ó / Brasilândia, Pirituba / Jaraguá / São Domingos e Perus / Anhanguera como sendo ZONA NORTE.
O certo é ZONA NOROESTE, pois os distritos e bairros estão mais entre a Zona Norte e a Zona Oeste — puxando pelo ponto colateral. A verdadeira ZONA NORTE, que é adotada por este jornal, tem como distritos, bairros e subprefeituras: Casa Verde / Cachoeirinha / Limão, Santana / Tucuruvi / Mandaqui, Jaçanã / Tremembé e Vila Maria / Vila Guilherme / Vila Medeiros.
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