arigó
<<Crítica / Cinema >> == por Aguinaldo Gabarrão (*)
O jornalista, escritor e filósofo espírita Herculano Pires (1914-1979) em seu livro “Arigó: Vida, Mediunidade e Martírio” comenta a respeito do médium mineiro: “Há mais de vinte anos Arigó permanece em Congonhas, entre as estátuas bíblicas do Aleijadinho, como um desafio sem resposta”.
O comentário de Pires baseia-se no conjunto de fatos extraordinários, provocados pelo médium José Pedro de Freitas (1921-1971), homem simples que supostamente era “possuído” pelo espírito de um médico alemão, que sem usar anestesia, e longe de qualquer protocolo mínimo de higiene, cortava pessoas com canivete e delas retirava tumores, diante dos olhares atônitos dos presentes.
Esses acontecimentos ocorridos nos anos 50 a 70, que sacudiram as crenças de uns e a incredulidade de muitos outros, são recontados no filme “Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”.
Desconfianças e perseguições
O roteiro busca estabelecer uma cronologia dos eventos que levaram o homem, acossado por visões e vozes desde criança, à condição de médium de cura e de personalidade conhecida no mundo todo. E, inversamente a essa escala de grandeza, sua popularidade se converte em problemas com familiares, igreja, a classe médica e, finalmente, com a justiça.
Porém a trama não explora uma questão: qual foi o real papel da ciência e medicina brasileiras na investigação dos acontecimentos? A roteirista Jaqueline Vargas prefere inserir com tintas carregadas, a figura de um médico, verdadeiro algoz, cujo único objetivo é incriminar o médium.
E quando a história apresenta médicos do exterior, com o objetivo de pesquisar com seriedade o médium, tudo fica reduzido a passagens rápidas. E o que sobra é a espetacularização dos efeitos bombásticos de sua mediunidade, mas não o que a ciência verdadeiramente concluiu a seu respeito.
Trailer do filme-Clique na imagem:
Resgate do trabalho assistencial
Um dos méritos do roteiro e da direção de Gustavo Fernandez é que não há aquele didatismo chato de querer converter ou trazer adeptos.
O ator Danton Mello (Arigó), elabora com equilíbrio duas personas distintas que coabitam o mesmo corpo, hora servindo a um homem inseguro e, em boa parte do tempo, é ativada por um “ser do outro mundo”, pouco afeito a demonstrações públicas de urbanidade. E essas posturas divergentes são percebidas no corpo do ator e em sua voz de maneira bastante convincente.
“Predestinado” cumpre um significativo papel ao resgatar para as novas gerações a história de Arigó e o trabalho assistencial de cura a ele atribuído. E ainda nos convida a reflexão oportuna de que personalidades vinculadas à religião nunca serão perfeitas, mas quando seus propósitos são honestos, elas se tornam em anjos possíveis nas vidas das pessoas.
Serviço
PREDESTINADO: ARIGÓ E O ESPÍRITO DO DR. FRITZ
- Gênero: Drama
- País: Brasil
- Classificação: 14 anos
- Duração: 1 hora e 48 minutos
- Ano: 2022
Ficha técnica
- Elenco: Danton Mello, Juliana Paes, Marcos Caruso, Alexandre Borges, Marco Ricca, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli, James Faulkner, Carlos Meceni, Ravel Cabral.
- Diretor: Gustavo Fernandez
- Roteirista: Jaqueline Vargas
- Direção de Fotografia: Uli Burtin
- Direção de Arte: Antônio de Freitas
- Trilha Sonora: Gus Bernardo
- Produção: Roberto d’Avila, Fabio Golombek, James Guyer
- Produtoras: Moonshot Pictures, FJ Produções e The Calling Production
- Coprodutoras: Paramount Pictures e Camisa Listrada BH /
- Distribuidora: Imagem Filmes
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.