fausto
<Crítica / Teatro > === por Aguinaldo Gabarrão (*)
O dramaturgo Christopher Marlowe (veja nota biográfica ao final desta crítica), escreveu “A História Trágica do Doutor Fausto” no século XVI, a partir de referências lendárias e do livro Faust-buch (O Livro de Fausto) publicado em 1587 pelo alemão Johann Spies.
Supostamente verdadeira, a história é centrada na figura de um médico que faz um pacto demoníaco para obter mais conhecimento e poder, sob a condição de entregar posteriormente a sua alma a Lúcifer, como forma de pagamento.
O Fausto forjado por Marlowe se encontra na transição da idade média para a moderna, período de grandes conquistas do Renascimento científico. O médico, conhecedor dos segredos da alquimia, representa os sentimentos contraditórios do homem que vota amor à ciência, mas dialoga com o metafísico. Essa ambivalência é um dos aspectos de travessia da personagem na direção precisa de Zé Celso e Fernando de Carvalho.
A tradução e recriação realizada por ambos utiliza várias formas de intertextos – frases distintas do original, imagens projetadas, músicas e outras vozes –, costurados na trama de maneira a estabelecer o diálogo crítico dos enunciados contemporâneos com o texto original, e provocar no público a reflexão com o modus operandi daqueles que se tornaram no cenário político atual, replicantes patéticos de “Faustos”.
Transbordamentos para além da estética
Na encenação o corpo de músicos se desdobra em coro, personas e narradores. Essa multiplicidade de vozes interage no pacto diabólico de Fausto (Ricardo Bittencourt) com Mefistófeles (Leona Cavalli), e amplifica os transbordamentos da alma do doutor que se perde em si mesma.
Por sua vez, efeitos visuais na caixa cênica e projeções em telão, compõem os signos plásticos da cenografia em estreita relação com o desenho da luz. E esta circunscreve o tempo e espaço indeterminados de Fausto. Sua alma insaciável se move como o vento para lugares diferentes, multifacetados, e fazem reverberar ainda mais a sua trágica ilusão sobre a existência e o exercício do poder.
Nesta “tragikomédiaorgia”, a travessia de Fausto é saudada por um elenco coeso, e tem no desempenho irrepreensível de Ricardo Bittencourt os necessários pontos e contrapontos; a loucura do saber e a sanidade da ignorância; o diabo amoroso e o deus vingador.
E essa natureza dual e inteiramente humana, eleva a personagem até seu destino, muito próximo do seu criador Marlowe, quando profeticamente disse sobre si mesmo a frase latina: “o que me alimenta, me destrói”.
(*) Christopher Marlowe (1564 – 1593) inglês, foi um dos maiores dramaturgos de sua época, além de ser tradutor e poeta. Seu estilo no uso do verso branco dramático influenciou toda uma geração de autores, entre eles, seu contemporâneo William Shakespeare. Escreveu seis peças: “Dido, Rainha de Cartago”, “Tamburlaine, o Grande”, “O Judeu de Malta”, “Eduardo II”, “A História Trágica do Doutor Fausto” e “O Massacre de Paris”. Morreu aos 29 anos, assassinado numa taverna – os biógrafos divergem – ou numa briga de rua.
Ficha técnica
- Tradução e Recriação: José Celso Martinez Correa e Fernando de Carvalho
- Direção: José Celso Martinez Correa
- Direção: Fernando de Carvalho
- Elenco: Ricardo Bittencourt, Leona Cavalli, Marcelo Drummond, Gui Calzavara, Wilson Feitosa, Sylvia Prado, Roderick Himeros, Tony Reis, Gabriel Frossard, Beatriz Id.
- Produção Executiva: Camila Bevilacqua
- Direção de Produção: Luís Henrique Luque Daltrozo
- Produção: Daltrozo Produções.
- Ficha Técnica Completa: clique aqui
Serviço
- Temporada: até 11.09.2022 (domingo)
- Local: Teatro Paulo Autran – SESC Pinheiros
- Endereço: Rua Pais Leme, 197, Pinheiros, São Paulo – SP
- Localização: próximo as estações do Metrô Faria Lima e Pinheiros
- Telefone: (11) 3095-9400
- Horário: 6as. e sábados, 20h; e domingos, 18h.
- Ingressos: R$ 12 (credencial plena) do Sesc; R$ 20 (meia estudante; servidor de escola pública; + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). R$ 40 (inteira).
- Classificação: 16 anos
- Duração: 2h e 30 minutos – com intervalo de 20 minutos
- Para entrar na Unidade: É recomendado o uso de máscara.
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.
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