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por Rafic Ayoub (*)
<<Crônica 8>> === Vivemos tempos difíceis, onde quase já não se consegue mais separar com precisão, o joio do trigo. Além da profusão de novos atores tecnologias e valores, o mundo vive hoje a cada vez mais desafiante era digital, dos falsos profetas e salvadores da pátria, das lideranças medíocres e irresponsáveis que, ungidos pelos interesses obscuros do poder econômico, vem impondo uma agenda contenciosa e contrária ao predomínio da razão, do bom senso e de um verdadeiro espirito global de celebração da vida, com amor, paz, harmonia, tolerância e solidariedade.
Por mais polêmica que seja, é indiscutível hoje a crescente importância das redes de internet no processo de informação, formação e de mobilização da chamada opinião pública que, como autênticas redes de neurônios, conectam, alimentam e influenciam direta e instantaneamente o corpo social de todo o planeta.
E, em especial, no Brasil, ao contrário de todas as experiências anteriores em que predominaram os veículos da chamada mídia eletrônica, como o rádio e a TV, essas redes sociais certamente serão o divisor de águas no processo de definição do futuro político, econômico e social do país, principalmente em razão das eleições presidenciais de 2022.
As consequências desse novo papel que vem sendo cada vez mais desempenhado pelas redes sociais na nova realidade virtual consagrada no país, indicam uma possível reedição da insólita experiência vivida em 2008 nos Estados Unidos da América, com a eleição do presidente democrata Barack Obama.
Trafegando em faixa contrária à de seus adversários na corrida presidencial norte-americana, que investiram todos os seus esforços na mídia eletrônica, especialmente a TV, Obama priorizou e concentrou estrategicamente a maior parte das ações de sua campanha vitoriosa nas redes sociais.
“Más de lo mismo”
E nesse sentido, embora seja uma arma poderosa e decisiva contra a influência do poder político e, principalmente, econômico, as redes sociais poderão também trafegar em sentido contrário aos interesses da maioria do povo brasileiro, ao servir também de instrumento de mobilização e convencimento de eleitores no processo de escolha dos candidatos menos capacitados e adequados, perpetuando pela via digital, a reedição do clássico bordão argentino “más de lo mismo”!
Mais do que serem simplesmente lamentáveis, erros desse tipo poderão mais uma vez reconduzir o país àquela situação de fazer mudanças que não alteram nada e que servem apenas para que tudo continue exatamente igual, descrita com sensibilidade e sutileza pelo escritor siciliano Giuseppi Di Lampeduza , no romance “O Leopardo”, uma perfeita alegoria sobre o declínio do poder das elites e oligarquias da sociedade italiana, posteriormente adaptado para o cinema pelo famoso diretor Luchino Visconti.
As eleições de 2022 serão, provavelmente, a última grande oportunidade histórica que os eleitores brasileiros terão para resgatar o país do profundo fosso político, econômico, social em que o país se encontra hoje mergulhado e provocado, por um lado, por uma pandemia cruel e implacável que já vitimou mais de 600 mil brasileiros e, por outro lado, pelo imobilismo de um governo federal voltado apenas para seus objetivos de reeleição em 2022.
As cicatrizes aparentes
A história recente do país registra, infelizmente, uma ingênua compulsão da chamada classe média brasileira para escolhas erradas, cujo custo social, econômico e, principalmente, político–institucional, acabou sacrificando o estado de direito que legitima toda sociedade democrática, marcado até hoje, indelevelmente, como uma profunda cicatriz em nosso espírito cívico.
A mesma classe que marchou pelas ruas e avenidas do país na famosa “Marcha com Deus pela Liberdade”, em apoio ao golpe militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964 e instaurou a ditadura que acorrentou, violentou e calou o país durante 21 anos, é a mesma que agora veste-se de verde e amarelo e promove manifestações violentas e reacionárias de norte a sul do país, afrontando e impedindo, mais uma vez, a indispensável consolidação do estado democrático de direito, única bandeira capaz de nos proteger e diferenciar das repúblicas bananeiras tão ridicularizadas no mundo civilizado.
Cicatrizes provocadas por erros históricos como esses jamais se apagam e nem mesmo podem ser ingenuamente exorcizadas, como tentou fazer com o nazismo o célebre diretor de cinema norte-americano Quentim Tarantino, em seu filme “Bastardos Inglórios”.
A dor, o sofrimento, a humilhação, destruição e morte de milhões de pessoas promovidos pelo governo nazista de Adolph Hitler, eleito pela grande maioria do povo alemão na década de 40, não admitem catarses póstumas como tentativa de reparar ou resgatar todo o mal impingido a determinadas sociedades ou a toda humanidade.
Que em 2022, o povo brasileiro faça as reflexões certas e capazes de conduzi-lo ao caminho de uma democracia verdadeiramente republicana regida pelo estado democrático de direito, um valor que, além de não rimar com os discursos de candidatos reacionários, oportunistas e demagogos, é a única condição e antídoto contra o nosso histórico complexo de vira-latas! presente Eleições 2022
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(*) Rafic Ayoub, jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade pela FESPSP – Faculdade Escola de Sociologia Política de São Paulo, é também poeta, dramaturgo e autor do recém-lançado livro “ Miserere Nobis – Crônicas do Cotidiano”. Atualmente é consultor especializado em Comunicação Corporativa Integrada.
Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.fim do mundo
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