bíblia
por Rafic Ayoub (*)
<Crônica 3> === Os usos e costumes foram e tem sido decisivos para determinar certos padrões de comportamento que, com o tempo, acabaram incorporados nas tábuas das leis estabelecidas ao longo desta fascinante aventura do homem sobre a face da terra.
Moisés, o mítico patriarca hebreu é, supostamente, o autor dos cinco primeiros capítulos do Velho Testamento – Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio que, somados ao Gênesis, formam o chamado Pentateuco, palavra de origem grega que significa “livro de cinco volumes”, e que fornecem a base de todo o restante do conteúdo bíblico.
O Novo Testamento também se refere, em várias citações, à existência do Pentateuco, como em Mateus 12:5; Marcos 12;26; Lucas 16:16, João 7:19 e os Gálatas 3:10. Segundo Lucas (24:27) , Jesus ensinou as Escrituras “começando por Moisés”, e João (5:46), afirma que o próprio Jesus atribuiu a autoria do Pentateuco a Moisés, além das indicações nos textos do próprio Pentateuco do seu papel como seu redator (Êxodo 24:3-7), Deuteronômio 31:24-26.
Essa autoria, porém, vem sendo contestada por vários estudiosos da Bíblia que alegam que o Pentateuco é uma combinação de diversos outros escritos produzidos no primeiro milênio antes de Cristo. E nessa linha, segundo alguns desses autores, Moisés teria bebido na fonte do conhecimento de Akhenaton, faraó egípcio da 18ª Dinastia e também conhecido como Amenófis IV, que governou o Egito entre os anos de 1352 a. C e 1336 a.C.
Considerado o primeiro reformador religioso da humanidade, Akhenaton, contrariando todo poder dominante da classe sacerdotal egípcia, aboliu o politeísmo praticado por todas as demais dinastias que o precederam e instituiu o monoteísmo como a religião oficial do antigo Egito, estabelecendo o culto ao deus Aton (deus Sol) que durou até a sua morte, quando foi substituído no trono pelo seu filho Tutancâmon que, cedendo ao poder sacerdotal, restabeleceu o politeísmo no país.
A crença num único deus, ou seja, a prática do monoteísmo , também foi incorporada e imposta por Moisés a seu povo, após a sua libertação da escravidão no Egito e posto à prova ao longo de todo o período de travessia rumo à terra prometida de Canaã.
Acredito que o desdobramento dessa história é de conhecimento geral, principalmente porque foi consagrada até pelo cinema no filme “Os Dez Mandamentos”, uma superprodução de Hollywood dos anos 50/60 e produzido pelo célebre Cecil B. de Miles e protagonizado pelo grande astro canastrão Charlton Heston, no papel de Moisés.
Moisés e as Leis Divinas
Porém, existe um trágico episódio que não está oficialmente registrado tanto no Velho quanto no Novo Testamento, que narra o que aconteceu com Moisés, depois que ele voltou do alto do Monte Sinai para onde havia subido para meditar e receber de Deus as famosas Tábuas da Lei gravadas em pedra bruta e consagradas como os “Os Dez Mandamentos “.
Segundo o consagrado “Pai da Psicanálise”, Sigmund Freud, de origem judaica, em seu famoso livreto “Moisés e o Monoteísmo”, Moisés acabou sendo morto pelo seu próprio povo que, aproveitando-se de seu longo retiro no Monte Sinai, voltou à prática do politeísmo e à adoração material do célebre “bezerro de ouro”.
E esses fatos, que teriam provocado toda ira e inconformismo de Moisés após seu retorno, acabaram responsáveis pelo seu próprio assassinato, marcando assim, a violação do sexto mandamento de Deus que é o de “Não Matarás”.
Segundo a Bíblia, Os Dez Mandamentos consistem em dez regras dadas por Deus aos homens para que tivessem uma vida mais feliz e próspera.
A Bíblia dos Pecadores
Porém, seria cômica se não fosse trágica, uma recente notícia divulgada pela imprensa internacional sobre um anúncio de uma respeitável universidade da Nova Zelândia, de ter encontrado um raríssimo exemplar da Bíblia que ficou famosa por conter um dos mais graves erros da história editorial.
Lançada na Inglaterra, em 1631, essa Bíblia conhecida como a “Bíblia Perversa” ou a “Bíblica dos Pecadores”, cometeu o grave pecado de omitir a palavra “Não” do sétimo dos dez mandamentos bíblicos, que estabelece “Não cometerás adultério”, erro este que, por motivos indiscutíveis, acabou com a carreira do impressor oficial do rei inglês Charles 1º, chamado Robert Barker.
Segundo essa universidade neozelandesa, foram impressos mil exemplares dessa famosa Bíblia dos Pecadores com o erro, que foi descoberto apenas um ano depois e, mesmo após quase todas destruídas, cerca de 20 delas continuaram em circulação em alguns lugares desconhecidos do mundo como, sabidamente, no Reino Unido e, desconfio, até mesmo no Brasil.
Em razão disso, não é de todo improvável que no Brasil esse tipo de erro bíblico tenha se perpetuado não só em relação ao 6º quanto ao 7º mandamentos, principalmente quando nos deparamos com notícias tão insólitas e absurdas de um pastor evangélico e ex-ministro da Educação que, além de integrante da fanática “Bancada da Bíblia” no Congresso Nacional , revelou-se também um integrante da perigosa “Bancada da Bala”, fato que se confirmou ao ser ele flagrado portando e disparando uma arma de fogo em pleno saguão de um dos mais movimentados aeroportos do país.
Outros pecadores
Adicionalmente, temos acompanhado, dia sim e outro dia também, notícias que nos sugerem que a tal “Bíblia Perversa” continua inspirando outros personagens da vida pública brasileira a cometerem a violação sistemática de outros importantes mandamentos bíblicos, como o de “Não roubarás”.
Esse é o caso dos pastores e ativistas bolsonaristas Arilton Moura e Gilmar dos Santos, denunciados por diversos prefeitos de cobrar propinas, em dinheiro e até mesmo em barras de ouro, para intermediar junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), mesmo não tendo oficial e legalmente nenhuma autoridade nesse ministério, a liberação de recursos para projetos de interesse de seus respectivos municípios, junto ao bem fornido Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Os altos índices de criminalidade registrados em todo o País, que incluem um abominável crime atribuído a uma pastora evangélica e deputada federal do Rio de Janeiro, acusada de mandar matar o próprio marido, também pastor, aliados ao desrespeito a outros mandamentos como, por exemplo, os de não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, etc. reforçam crescentes suspeitas de que alguns exemplares dessa malfadada “Bíblia Perversa” continuam circulando restritamente entre nós! Miserere Nobis!
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(*) Rafic Ayoub, jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade pela FESPSP – Faculdade Escola de Sociologia Política de São Paulo, é também poeta, dramaturgo e autor do recém-lançado livro “ Miserere Nobis – Crônicas do Cotidiano”.
Atualmente é consultor especializado em Comunicação Corporativa Integrada.
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