da Redação DiárioZonaNorte
O Conselho Deliberativo da Associação Portuguesa de Desportos aprovou, por aclamação, a proposta liderada pela Tauá Partners, em parceria com a XP Investimentos e a Revee, para transformar o clube em uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF).
A votação reuniu 110 conselheiros e aconteceu no Salão Nobre do Clube, na noite da última 5ª feira (14/11/2024) e foi acompanhada por torcedores que estavam no lado de fora das dependências do clube. Entre os torcedores ilustres, destacamos o maestro João Carlos Martins.
Com a transformação da Lusa em SAF, o clube receberá investimentos a ordem de R$ 1 bilhão.
Lusa e a Zona Norte
O clube é separado da Zona Norte pelo rio Tiete e uma grande parte de seus torcedores, que fizeram parte de sua história, residem em bairros como a Vila Guilherme, Vila Maria, Vila Medeiros, Jaçanã, Tremembé e muitos outros da região.
De acordo com André Berenguer, sócio-fundador da Tauá Partners, “a iniciativa promete levar a Portuguesa a novos patamares de eficiência e competitividade, devolvendo o protagonismo do clube no futebol brasileiro. Queremos também transformar a nova arena em um marco de referência para a cidade de São Paulo”, diz.
Futebol
A Tauá Futebol – braço de esportes da Tauá Partners – fará a gestão do projeto. O início do trabalho será imediato e deverão ser setenta profissionais envolvidos na gestão da SAF e outros 300 no departamento de futebol – desde a categoria Sub-15 até o time principal.
Nos próximos cinco anos, a Lusa deve receber R$ 263 milhões, sendo R$ 12 milhões nos próximos 60 dias para as primeiras providências. Mais R$ 30 milhões em 2025 – a serem utilizados na contratação de jogadores que irão disputar competições como o Paulistão Sicredi 2025 e Série D do Campeonato Brasileiro.
Os investidores tem como meta que a Portuguesa de Desportos alcance a Série A do Campeonato Brasileiro até 2029.
“A Portuguesa é o quarto clube da maior e mais rica cidade do país. Mesmo torcedores de outros times têm carinho e respeito por ela. Nossa meta é devolver o protagonismo que a Lusa teve no passado, quando formou grandes times que disputavam títulos com os gigantes de São Paulo e do Brasil. E o caminho da transformação começa agora”, afirma Alex Bourgeois, sócio da Tauá Futebol.
Modernização do Canindé. É o fim do mistério?
A Revee ficou encarregada da transformação do Estádio Oswaldo Teixeira Duarte – o Canindé -, em uma moderna arena multiuso.
O investimento para a obra será de R$ 500 milhões. O estádio terá capacidade para 30 mil torcedores em jogos de futebol e poderá receber até 45 mil pessoas em shows e outros eventos. A XP Investimentos entra na sociedade como parceira financeira e, será responsável por estruturar os recursos necessários para viabilizar a SAF.
Finalmente, saberemos se o mistério do “trator enterrado no campo da Lusa” é real ou lenda urbana.. .
Crise Financeira
Com dívidas na ordem de R$ 450 milhões de reais, desde 2016 o estádio do Canindé chegou a ser penhorado para o pagamento de dívidas trabalhistas datadas do início dos anos 2000 – que na época ultrapassavam R$ 55 milhões -, postuladas conjuntamente pelos ex-jogadores Ricardo Oliveira, Rogério Pinheiro, Tiago Barcelos, Marcus Vínicius e Rafael – representados pela advogadaGislaine Nunes
Um outro processo, desta vez civil, movido pelos ex-dirigentes da Lusa, Carlos Alberto Duque e Joaquim Justo dos Santos, pedia o pedido de pagamento de R$ 3,3 milhões. Os dois eram avalistas em um empréstimo feito pela Portuguesa de Desportos, junto ao Banco Luso Brasileiro no início dos anos 2000. Os dois quitaram a dívida com o banco e ficou combinado que a Portuguesa os pagaria de forma parcelada. Em 2014, na gestão Ilídio Lico o acordo deixou de ser pago.
Outro processo que ganhou os holofotes da mídia foi o processo n. 2068267-58.2021.8.26.0000 que trata de indenização, danos morais e materiais – movido pela família de Lucas Jesus dos Santos, ex- jogador da equipe sub-17 encontrado morto em uma das piscinas do Canindé em 20 de outubro de 2016.
Além das ações movidas por Duque e Santos, pelos cinco ex-atletas e pela família de Lucas Jesus, existiam em 2018 cerca de 250 ações movidas por ex-jogadores e ex-funcionários, tramitando na justiça.
Área municipal
O objeto dos dois leilões, ocorridos em 2016, é uma área correspondente a 42.350 metros quadrados do local – cerca de 45% do total da sede da Portuguesa, foi a leilão por duas vezes – uma pelo processo trabalhista e outro pelo processo civil.
A área toda não foi penhorada porque os 60.650 metros restantes do terreno pertencem à Prefeitura do Município de São Paulo e foram “emprestadas” ao clube.
Leilões da área
O leilão foi impugnado em 25 de outubro de 2016, pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, devido uma falha no processo. O lance inicial era de R$ 154.296.529,68. Um segundo leilão, ocorreu no Fórum Trabalhista da Zona Sul, porém sem nenhum interessado em arrematar a área presente.
A Portuguesa de Desportos conseguiu um acordo na justiça e como a primeira parcela – vencida em 25 de agosto – não foi paga, o juiz Maurício Marchetti da 10ª Vara Cível do Foro Central da Capital determinou a retomada da execução.
Uma fonte ouvida na condição de anonimato pelo DiárioZonaNorte, informou que a Portuguesa de Desportos deixou de apresentar documentos exigidos no processo, fator que também pesou na decisão do juiz.
No dia 06 de setembro de 2017, um terceiro leilão, desta vez online e com lance inicial de R$ 157.502.115,79 também terminou sem nenhum interessado. Até nova decisão do juiz, a venda é encerrada e poderá ou não ser remarcada uma nova tentativa.
O início do Canindé
A história começou com o pequeno time de imigrantes alemães, Deutsch Sportive, na década de 1940. Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial do lado dos Aliados (liderados por Estados Unidos e Inglaterra), declarando-se contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o Deutsch teve medo do confisco de seu estádio e o vendeu para o São Paulo Futebol Clube. Isto em janeiro de 1944.
O negócio foi fechado por 740 contos de réis (quatro vezes o valor pago pelo craque Leônidas da Silva). Com isso, em 1944, o São Paulo deixou de ser sediado na Rua Dom José de Barros, 337 – onde esteve desde 1938 -, passando a ser administrador do Canindé.
Sai o Deutsch e entra o São Paulo
O Deutsch se abrasileirou para evitar represálias e passou a se chamar Guarani e desta forma, continuou a treinar no estádio e a receber seus sócios, já que esta foi uma condição para vendê-lo para o São Paulo.
O Canindé nunca recebeu um jogo oficial do São Paulo. Ele foi na verdade, o primeiro Centro de Treinamento de um clube do futebol brasileiro. Em 27 de maio de 1955, o clube vendeu a área para um conselheiro do clube, Wadih Sadi que, em 1956, o vendeu para a Portuguesa de Desportos por Cr$ 35.000.000,00.
Ilha da Madeira
Algumas adaptações foram iniciadas para que partidas oficiais pudessem acontecer no Canindé, entre elas a instalação de alambrados e arquibancadas, que ainda eram de madeira, que originou o simpático apelido de Ilha da Madeira, por ser a região cercada de lagoas e ter acesso dificultado durante as cheias. E assim, o jogo inaugural aconteceu em novembro de 1956, com vitória do time da casa.
Projeto Arquitetônico
O projeto do Canindé, como o conhecemos hoje, leva a assinatura do arquiteto Hoover Américo Sampaio, então professor do Mackenzie. A construção teve início nos anos 70 e foi inaugurado em 09 de janeiro de 1972, com a partida entre Portuguesa 1 x 3 Benfica.
O lugar recebeu o nome de Estádio Independência. No ano de 1979, recebeu o nome de Doutor Oswaldo Teixeira Duarte, em homenagem ao ex-presidente do clube, e sua capacidade foi aumentada de 10.000 para 28.500 pessoas.