a grande fuga
por Aguinaldo Gabarrão (*)
O ator Michael Caine, 90 anos, ganhador duas vezes do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, retornou da sua aposentadoria, anunciada desde 2021, para interpretar um veterano da Segunda Grande Guerra, que em 2014, se tornou conhecido mundialmente ao realizar o seu sonho.
Sensibilizado ao ler o roteiro baseado em fatos reais, Caine juntou-se a outra veterana, Glenda Jackson (1936-2023), também ganhadora de duas estatuetas do Oscar de Melhor Atriz, para formar o casal de idosos numa história comovente.
Sonhos não tem idade
O casal Bernard e Irene tem sua rotina tranquila na casa de repouso em que vivem na Inglaterra. Mas essa vida pacata é abruptamente interrompida quando ele descobre que perdeu a grande chance de fazer parte do grupo que iria para as comemorações do Dia D — < ** veja nota ao final desta crítica > no norte da França. Apesar da frágil saúde da esposa, mas com o a cumplicidade dela, o veterano toma a decisão de fugir para ir às comemorações na França.
O roteiro de William Ivory aproveita muito bem os fatos reais para trazer à reflexão do público de que a capacidade de realizar sonhos nunca abandona o ser humano, mesmo quando o avanço da idade traz consigo um conjunto de limitações, entre outras, de ordem física.
E essa capacidade de sonhar está intimamente ligada a paixão, força motivadora que impulsiona o veterano de guerra a perseguir os seus objetivos. E o preenche de tal maneira, que o peso da idade -– ele está com 89 anos -–, deixa de ser o maior empecilho.
A memória
O casal Bernard e Irene vivem sua vida de acordo com as limitações impostas pela velhice, mas cada um tem sua maneira peculiar para lidar com as memórias do passado. Enquanto Irene guarda mais fortemente as boas lembranças de sua juventude, o marido tem no período da guerra um trauma que ele sempre escondeu de sua esposa.
E essa memória traumática, potencializada quando ele reencontra outros veteranos e locais onde ocorreram os conflitos, é o elemento central desse rito de passagem que permite a Bernard conectar o passado ao presente, ajudando-o a elaborar sentimentos por ele reprimidos durante toda a sua vida.
É um momento de dor, mas também de redenção, muito bem conduzido pelo diretor Oliver Parker. E quando, na volta de sua grande viagem, ele abre seu coração a esposa, ao espectador é igualmente revelado o seu grande segredo.
Fecham-se as cortinas
Para quem se acostumou a ver Michael Caine e Glenda Jackson no cinema ao longo de décadas ou nunca teve a oportunidade, esta é realmente a última chance de conferir o desempenho brilhante de ambos os intérpretes nas telonas, uma vez que ele, aos 90 anos, confirmou definitivamente sua aposentadoria e Glenda, infelizmente, faleceu em 2023.
As cortinas se fecham, mas A Grande Fuga é o grand finale de dois ótimos intérpretes que dedicaram ao seu ofício os melhores anos de suas vidas.
Assista ao trailer clicando na imagem abaixo:
(**) O Dia D ou Operação Overlord foi uma ação gigantesca de desembarque de tropas nas praias da Normandia, ocorrida no dia 6 de junho de 1944 e realizada pelos exércitos aliados – principalmente britânicos, canadenses e americanos –, com o objetivo inicial de libertar a França do poder nazista e pressionar ainda mais a Alemanha, que acabaria por render-se no ano seguinte. Calcula-se que mais de 150 mil homens participaram deste evento.
Serviço
A GRANDE FUGA – Título Original: The Great Escaper
Gênero: Drama / País: Reino Unido, França, Suécia / Classificação: 12 anos / Duração: 1 hora e 37 minutos / Ano: 2023
Direção: Oliver Parker / Roteiro: William Ivory / Elenco: Michael Caine, Glenda Jackson, John Standing, Danielle Vitalis, Will Fletcher, Laura Marcus / Direção de Fotografia: Christopher Ross / Desenho de Produção: Nicholas Palmer / Montagem: Paul Tothill / Trilha Sonora: Craig Armstrong / Produção: Robert Bernstein & Douglas Era / Distribuição: Diamond Films / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.
Nota da Redação == O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor e colaborador, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.
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