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Surdez em pauta, graças a arte.

surdez em pauta
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Durante a  Semana Nacional de Combate e Prevenção à Surdez, celebrada em novembro,  uma boa notícia  surgiu no cenário mundial sobre inclusão – a Miss África do Sul, Mia le Roux concorreu  ao título de Miss Universo. Surda desde o seu nascimento, Mia le Roux, passou por cirurgia de implante coclear e foi alfabetizada em escola regular.

A surdez tem sensibilizado a população e seja com a amplificação das próteses auditivas ou do implante coclear, pessoas surdas podem abrir seus horizontes no mundo da arte, ou em qualquer outra profissão, superando-se”, comenta o Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento, titular da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, à frente do Grupo de Implante Coclear FMUSP.

O Grupo de Implante Coclear FMUSP iniciou as suas atividades no ano de 1989 e quatro pessoas faziam parte da equipe. “Nossa equipe foi para os EUA entender como funcionava o implante coclear e como as cirurgias eram realizadas. E, logo que voltamos, criamos o nosso aparelho porque naquela época, a importação dos aparelhos era caríssima. Fizemos dez cirurgias e, assim que o Brasil pode receber os implantes do Exterior, passamos a treinar a nossa equipe para termos cirurgiões, fonoaudiólogas, psicólogos e assistente social para conseguirmos fazer as cirurgias e acompanharmos os nossos pacientes”, diz ele.

Com quase 3 mil implantados

O Grupo de Implante Coclear HCFMUSP, através do Prof. Ricardo Bento, participou da Portaria de 1999 que aprovou o implante coclear como procedimento de alta complexidade disponível a partir de então para crianças, jovens, adultos e idosos. “Depois disso, os planos de saúde passaram a fazer e sentimos a necessidade de criar cursos para formar novas equipes, ampliando assim o acesso ao implante coclear a muitos brasileiros”, lembra o Professor.

A família Scharff

Entre as histórias (com h porque são reais mesmo) dos pacientes há a de uma família que chama atenção. A do casal Scharff. Na primeira gravidez, a mãe passou por um exame no final da gestação no qual o radiologista usa um instrumento de som para ver como está o bebê, a cardiotocografia.

Geralmente, nesse instante, o coração do bebê dispara reagindo ao som, o que não aconteceu com ela. “Ele me disse que, provavelmente, o meu bebê teria problemas de audição. Fui para casa, chorei muito, contei à minha irmã que é fonoaudióloga e esqueci o que tinha passado no exame. Foi o meu momento de negação. Quando a Ana Augusta nasceu, minha irmã insistiu que eu fizesse a Triagem Auditiva Neonatal, o Teste da Orelhinha, e minha bebê não reagiu a nenhum som. Depois de um mês, repetimos o exame e, com o resultado nas mãos, fui atrás da cirurgia de implante coclear, que fizemos e o resultado, com ela, foi excelente!”, diz a mãe.

Depois de três anos, o casal resolveu ter mais um filho e fizeram todos os testes genéticos que poderiam causar a surdez. Todos deram negativos e Patrícia engravidou novamente. “Descobrimos que teríamos gêmeos e, ao repetir o exame que detectou a surdez da Ana Augusta ainda no útero, o resultado foi igual. Ou seja, teria mais dois filhos com perda auditiva severa ou profunda”, conta.

Dessa vez, nem ela, nem o marido, Cláudio, se sentiram inseguros. Assim que os bebês nasceram, passaram pelos otologistas do HCFMUSP, fizeram todos os procedimentos – e acompanhamentos – para ver se haveria resposta auditiva e levaram os dois para cirurgia. “Nossos gêmeos, Bruno e Filipe, foram operados no mesmo dia e, depois de um mês, veio a ativação e eles adentraram no mundo dos sons”, relembra.

Parceria

Com a parceria da fonoaudióloga responsável pela reabilitação, o casal desenvolveu várias técnicas para auxiliar os filhos a entenderem o sentido das palavras. E, nas férias, preferiam viajar de Cuiabá para Florianópolis, onde moram os seus familiares, de carro para que todos participassem da viagem e interagissem com o que viam nas estradas e nos postos de gasolina. E redobraram a atenção nos gêmeos. “Eles se entendiam entre si, com uma linguagem própria e nem nós, pais, nem a irmã mais velha, entendia o que eles estavam falando. E depois de conversarem entre si, sempre vinha uma ‘arte’ diferente”, diz Patrícia.

Com o passar dos anos, o envolvimento com o futebol aumentou – os dois amam esportes – e a Ana Augusta foi morar sozinha, em Balneário Camboriú, onde estuda Moda. “Fui visitá-la duas vezes esse ano e vi que ela está absolutamente entrosada com os amigos da faculdade, cumpre os seus horários sem perder nenhum e prepara a sua própria alimentação, além de cuidar do seu apartamento. Daqui dois anos, vai tentar uma bolsa de estudos para Milão e aplicada nos estudos como é, tenho certeza que ela vai passar!”,

Em relação às cirurgias de implante coclear nos três filhos, o casal Scharff não tem nenhum arrependimento. “Tudo vale a pena. A recompensa é enorme. Todos os momentos sonoros com a Ana Augusta, Bruno e Filipe são um convite para valorizar cada som ao nosso redor. O implante coclear nos trouxe amizades e admiração com a equipe profissional iniciada pelo Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento e de todos que acompanham os meus filhos – Dr. Robinson Koji Tsuji, as fonoaudiólogas Valéria Goffi e Flávia Leme. Quando atendem ao telefone, é muito bom! Nossa, como é gostoso falar com um dos três ao telefone! É indescritível” Agradeço sempre a todos que colocaram essa equipe do HCFMUSP maravilhosa no nosso caminho. E a todos que nos ajudam a fazer da vida dos nossos filhos, a mais normal possível!”, finaliza Patrícia Scharff.

O Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento faz parte de uma comissão especialíssima da Lancet-OMS para prevenção de surdez no mundo e, nesse ano, entrou entre os 60 cientistas melhor conceituados do mundo.

O Grupo de Implante Coclear HCFMUSP tem o site www.implantecoclear.org.br e o Instagram @implantecoclearfmusp

<com apoio de informações: Dorotéia Fragata e Matheus Fragata – Fragata Comunicação>

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