da Redação DiárioZonaNorte
“Empresários, políticos, acadêmicos, governantes, todos precisavam ler a Gazeta Mercantil diariamente para tomar decisões, compreender melhor o país, seus própria negócios, o mundo”
O livro “Gazeta Mercantil – A trajetória do maior jornal de economia do país”, da jornalista Célia de Gouvêa Franco, é uma profunda e detalhada análise de um dos jornais mais importantes da imprensa brasileira, que marcou época e influenciou decisivamente o jornalismo econômico no país.
Lançado pela Editora Contexto (175 páginas), o livro oferece uma narrativa histórica e crítica sobre a trajetória do jornal, desde seus primeiros anos de funcionamento até seu fim, em 2009, abordando os desafios, sucessos e as mudanças políticas e econômicas que moldaram o jornal.
O início
Em 3 de abril de 1920 surgia o boletim diário de informações, mimeografado e sem ilustrações ou fotos, com o nome “Gazeta Mercantil e Industrial”. A partir de dezembro de 1950, sob a liderança do político e senador Herbert Levy, a “Gazeta Mercantil” passou a ser impressa em tipografia, com o subtítulo “industrial, econômica e financeira”.
Depois passou por outros endereços, como a Rua do Gazômetro e Rua da Quitanda, surgindo em nova fase, em 1973, com uma nova cara de jornal – até fotos – que foi idealizado pelo artista gráfico, caricaturista e ilustrador brasileiro Zélio Alves Pinto,e o planejamento editorial do jornalista Hideo Onaga.
Dois anos depois, já tinha outra redação com novos jornalistas, nas mãos de Roberto Müller Filho (falecido recentemente, junho de 2024), no prédio e rodado nas máquinas da Folha de S.Paulo – curto tempo já estava na Rua Major Quedinho e rodando nas oficinas na Marginal do Tietê, de O Estado de S.Paulo – Estadão.
Já se transformava em um jornal em uma referência de credibilidade, com reportagens que antecipavam tendências econômicas e faziam análises profundas sobre os cenários nacional e internacional.
E a época com as dificuldades de comunicação no geral: sem celulares, sem computadores, sem mídias sociais… somente com as dificuldades das velhas máquinas de Telex e teletipos.
A Gazeta Mercantil – inclusive com acordos editoriais do exterior, principalmente o Financial Times de Londres – consolidou-se como uma leitura obrigatória para empresários, investidores, economistas e líderes políticos. E mais adiante foi o primeiro jornal a ser enviado por satélite, via Embratel, para as principais capitais brasileiras, onde era impresso simultaneamente.
Esse período de crescimento coincidiu com o desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, e o jornal desempenhou um papel crucial na formação de opinião nesse setor.
O livro de Célia de Gouvêa Franco destaca que a Gazeta Mercantil não apenas acompanhava as notícias econômicas, mas também buscava moldar o debate público sobre o futuro da economia brasileira.
A criação de cadernos especiais, como o Caderno Internacional, voltado para as finanças globais, e o Caderno de Empresas, focado em grandes corporações, foram inovações pioneiras que demonstravam o compromisso do jornal com um jornalismo especializado e aprofundado.
Outro ponto inovador foi a criação de uma rede de correspondentes internacionais que permitiu à Gazeta Mercantil cobrir de maneira eficiente os desdobramentos econômicos globais, uma estratégia que poucos veículos brasileiros utilizavam na época.
Impacto e Crise
A década de 1980 e o início dos anos 1990 foram o ápice da Gazeta Mercantil. Com a abertura econômica do Brasil e as reformas promovidas pelo Plano Real, o jornal se tornou indispensável para aqueles que queriam entender as transformações do país e do mundo.
Além disso, o jornal manteve uma postura editorial crítica e independente, o que o tornou respeitado por sua precisão e qualidade de informação.
Entretanto, a partir dos anos 2000, a Gazeta Mercantil começou a enfrentar dificuldades financeiras que culminaram em sua extinção em 2009.
O livro explora com profundidade as razões para o declínio, apontando tanto fatores internos quanto externos. A expansão digital da imprensa, a concorrência de outros veículos e a falta de adaptação às novas plataformas são alguns dos motivos destacados no livro para o enfraquecimento do jornal.
Reflexão Final
Deixando como último capítulo do livro, a jornalista Célia de Gouvêa Franco com muita simplicidade mostra seu caminho profissional e salienta no titulo “Uma foca na Gazeta”, lembrando que “este livro é também o relato de uma parte substancial da minha vida como jornalista. Fui moldada como jornalista durante meu trabalho na Gazeta Mercantil, como repórter e editora”.
Entre o fumacê dos cigarros e o barulho das Olivettis e, por trás de toda agitação, uma redação com muitas “feras” no jornalismo, além de Roberto Muller Filho: Matias Martinez Molina, Claudio Lachini, Celso Pinto, Glauco Carvalho, Klaus Kleber, Sidnei Basile, Paulo Totti, Ronaldo Campos, Dirceu Brisola, Celso Pinto, Vera Brandimarte, Claudia Safatle, Pedro Cafardo, Frederico Vasconcellos, Lillian Wite Fibe e muitos outros importantes editores e repórteres, em uma redação de respeito.
Além da apresentação da competência jornalística de Carlos Eduardo Lins da Silva, o livro oferece 19 capítulos com os títulos: Os princípios, De boletim mimeografado a jornal importante, A família na politica, O início da ´revolução´, Sucesso editorial, Um novo modelo, Os jornalistas. Os bancos, Porta-voz dos empresários, E os trabalhadores?, Detalhes que faziam diferença, Relações com Brasília, Expansão, Crise financeira: as razões, Tentativas de contornar a crise, A Gazeta à venda, Reação dos funcionários, O fim e Uma foca na Gazeta.
Serviço
Gazeta Mercantil, a Trajetória do maior jornal de economia do pais