- Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico se reúne para definir plano antiapagão e sugere a volta do horário de verão.
A crise hidrelétrica no Brasil reacende o debate sobre o retorno do horário de verão, uma medida revogada em 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro, devido à alegada baixa efetividade na economia de energia. Lembrando que horário de verão esteve em prática por 34 anos — desde 1985.
Contudo, o cenário atual, marcado pela pior crise hídrica em 94 anos, trouxe novamente a discussão à tona. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico estuda alternativas para evitar apagões e propõe a reintrodução do horário de verão.
É o que observou o professor Pedro Luiz Côrtes, da Universidade de São Paulo, no Jornal da USP no Ar 1a.Edição, e deu os motivos dessa proposta e o cenário preocupante da geração de energia no Brasil.
Segundo ele, a crise hídrica atual é agravada pela seca e pela falta de chuvas, com uma situação crítica nos reservatórios hidrelétricos, que são responsáveis por grande parte da energia gerada no país.
Consumo excessivo de energia
Côrtes vê que o objetivo das medidas discutidas pelo governo é preservar o nível dos reservatórios, evitando o consumo excessivo e o consequente uso das termelétricas, que são mais caras e poluentes.
O retorno do horário de verão, que funcionou pelos 34 anos, é visto como uma forma de distribuir melhor o consumo de energia ao longo do dia.
O horário de verão altera o horário oficial para aproveitar melhor a luz natural, adiando o consumo de energia residencial para mais tarde. Isso ajuda a reduzir o pico de consumo de eletricidade no final da tarde, um dos momentos mais críticos do sistema. Já que coincide com o uso de energia tanto em residências quanto em escritórios.
Sem essa medida, o país enfrenta uma demanda crescente por eletricidade, impulsionada por dias mais quentes e longos, especialmente devido ao uso intensivo de aparelhos como ar-condicionado e ventiladores.
A incerteza climática
A crise hídrica é agravada pela incerteza climática, com o fenômeno La Niña adiando o início das chuvas no Brasil. Normalmente, o fenômeno traria mais chuvas para a região Norte, enquanto o Sul e o Sudeste ficariam mais secos.
O professor Côrtes destaca que a duração do La Niña é imprevisível — o último durou quase dois anos — e a atual transição para o El Niño torna o clima ainda mais instável.
Apesar da crise, o Brasil não enfrenta uma perspectiva imediata de apagões, mas o consumo de energia está extremamente elevado. Ele observa que, em 2024, mesmo o menor consumo registrado no ano, em agosto, foi superior aos picos dos anos anteriores, o que indica um uso energético muito alto.
Isso é preocupante, uma vez que o inverno, tradicionalmente uma estação de menor consumo, não foi suficiente para reduzir a demanda, devido a temperaturas mais altas que o normal.
Consumo elevado
Com a chegada da primavera, um período tradicionalmente seco e quente, a tendência é que o consumo continue elevado, aumentando os riscos para o sistema elétrico.
Em resumo, o retorno do horário de verão é uma das medidas estudadas para aliviar a pressão sobre o sistema elétrico, distribuindo o consumo de energia de forma mais eficiente.
Entretanto, a crise hídrica e a instabilidade climática, com a incerteza sobre o La Niña, tornam o cenário energético do Brasil cada vez mais desafiador.
As medidas preventivas adotadas pelo governo visam evitar o uso intensivo das termelétricas e preservar os recursos hídricos, mas o alto consumo de eletricidade e a falta de chuvas continuam sendo grandes obstáculos para a segurança energética do país.
<Com apoio de informações/fonte: Jornal da USP – Rádio USP >