da Redação DiárioZona Norte
- Na roda da loucura: Fome e sede eram sensações permanentes no local onde o esgoto, que cortava os pavilhões, era fonte de água;
- A venda de cadáveres: No pátio interno da faculdade, havia dezenas de cadáveres espalhados pelo chão em grotescas posições; e
- A história por trás da história: O fotógrafo da revista O Cruzeiro, Luiz Alfredo, registrou as imagens mais dramáticas da sua carreira, em abril de 1961.
Com muitas fotos chocantes em branco&preto, um livro de 280 páginas nas quase 60 mil palavras expondo um mundo horroroso que a maioria da pessoas nem poderia imaginar. Com o título ´´Holocausto Brasileiro´´, relançado pela Intrínseca Editora — ultrapassando mais de 300 mil exemplares vendidos –, impressiona com a história real de um genocídio de 60 mil mortos no maior hospício brasileiro.
Tudo levantado e pesquisado profundamente no trabalho de uma esforçada e premiada jornalista mineira, Daniela Arbex –– que recebeu o importante prefácio (´´Os Loucos Somos Nós´´) da consagrada repórter Elaine Brum.
Com seu faro jornalístico, a autora revela aos leitores o conhecimento dos absurdos realizados no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, fundado em 1903 na cidade que ficou conhecida como a ´´Cidade dos Loucos´´, no centro do estado mineiro aos pés da Serra da Mantiqueira. Essa instituição estadual de 121 anos surgiu com capacidade para 200 leitos, mas contava com cerca de cinco mil pacientes em 1961.
Jogados até a morte
Ali ficou encravado o registro de um local macabro de onde deveria ser dedicado ao acolhimento sadio de doentes mentais, mas teve um nome curto confundindo o significado de seu propósito: Colônia.
Classificadas como ´´pessoas desajustadas da sociedade´´, onde muitos foram internados à força, mas que nada registravam como doentes mentais, desembarcando dos vagões da linha conhecida como ´´Trem do Doido´´ e eram jogadas sem destino longe do mundo, em condições desumanas.
Eram homens e mulheres alijados socialmente por pessoas de poder ou de melhores condições de vida. Além dos doentes mentais, eram incluídas “pessoas não agradáveis“, como opositores de políticos, mendigos, prostitutas, homossexuais, mães solteiras, até mulheres engravidadas pelos patrões, e outros grupos marginalizados.
Uma situação classificada pior que o holocausto nazista, impondo homens, mulheres e crianças a comerem ratos e até beber água de esgoto. Presos, encarcerados ou amontoados em camas coletivas e apertadas passavam dias e noites camuflados em suas verdadeiras identidades do passado.
Homens perambulavam pelados pelos cantos e dormiam em condições precárias, no chão duro e ao relento. As autoridades, médicos, funcionários e sociedade fecharam os olhos e não havia nada de apoio humano, nem de compaixão pelos fatos inacreditáveis. Corpos caídos e definhados espalhados pelos cantos do pátio de chão batido.
Depois de vários anos, em 1960, alguma luz surgiu nas denúncias dos maus tratos e a triste situação do local, que revelou as mais de 60 mil mortes e deixou marcas profundas àqueles sobreviventes que sofreram na carne e na alma. Outros corpos de mortos foram enterrados sem nome e desconhecidos; e muitos outros vendidos com o destino para estudos em faculdades de medicina.
Após o fechamento e sob controle da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), seus pouquíssimos sobreviventes foram transferidos para abrigos de melhores condições e, por direito, passaram a receber indenização do Estado.
Um documento revelador, chocante e que desperta uma leitura marcante e obrigatória de um jornalismo investigativo. Ainda mais nas mãos de uma profissional que foi mais a fundo, com muita pesquisa, entrevistas e um levantamento minucioso. Daniela Arbex conseguiu chegar em alguns sobreviventes do triste momento histórico, acompanhada de um registro fotográfico impressionante. A nova reedição do livro inclui um posfácio de sete páginas, onde a jornalista mostra os bastidores de sua reportagem transformada em livro.
Holocausto Brasileiro
- Gênero: não-ficção/jornalismo investigativo
- Autora: Daniela Arbex
- Prefácio: Eliane Brum
- Publicação: Editora Intrínseca
- Páginas: 280
- Preço base: R$69,90 (livro) e R$34,90 (e-book)
- Audiolivro: R$36,99
- Livrarias: Amazon, Curitiba, Leitura, Martins Fontes, Mercado Livre, Vila, Travessa, entre outras
Nas telonas – Recentemente foi lançado o filme ´Ninguém Sai Vivo Daqui´, do diretor André Ristum, com base no livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex. Leia a crítica de Aguinaldo Gabarrão no DiárioZonaNorte, com o título ´´ Ninguém Sai Vivo Daqui resgata memória dos horrores em hospital psiquiátrico brasileiro´´ — clique aqui. Em 2021, o Canal Brasil e Globoplay também mostraram a série “Colônia”, em 10 episódios.
Tira-gosto: Leia a apresentação, prefácio e as primeiras páginas do livro: clique aqui
Daniela Arbex – Trabalha há 22 anos como repórter especial do jornal Tribuna de Minas. Suas investigações resultaram em mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três Esso, o IPYS de melhor investigação da América Latina e o Knight International. Estreou na literatura com Holocausto Brasileiro, obra eleita o melhor livro-reportagem pela Associação Paulista dos Críticos de Arte-APCA em 2013 e segundo melhor livro-reportagem no Prêmio Jabuti (2014). Em 2016, a jornalista foi novamente agraciada com o Prêmio Jabuti por Cova 312. Recentemente, Holocausto Brasileiro foi adaptado como documentário e lançado pela HBO em 40 países.
<<Com apoio de informações/fonte: Divulgação-Imprensa Editora Intrínseca – Leonardo Figueiredo / Victor Tozo / Regina Lustosa >>