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Peça inspirada em conto de Tchekhov é uma bela surpresa para o público infanto-juvenil

Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.
Tempo de Leitura: 4 minutos

 

por Aguinaldo Gabarrão (*)

Adaptar textos literários para a linguagem teatral é uma tarefa árdua e cheia de armadilhas. Por vezes, a escrita cênica é extremamente fiel e o resultado no palco não garante a força da obra original. Por outro lado, quando utilizada apenas como inspiração, pode perder por completo o sentido proposto pelo autor.

A dupla Carlos Escher e Cássio Brasil optou por inspirar-se no conto “O Sapateiro e a força maligna”, de Anton Tchekhov (1860-1904). A essência da história original está preservada, mas traz elementos dramatúrgicos que amplificam na encenação o espírito observador e arguto do autor russo.

Antônio precisa entregar na véspera de natal as botas encomendadas por um cliente misterioso. Insatisfeito com a precariedade de sua vida e com ódio dos ricos que se divertem, ele adormece de cansaço e sonha com a oportunidade de ser rico. Porém, uma criatura mágica e assustadora, o questionará sobre as atitudes assumidas por ele ao conquistar a tão sonhada riqueza.

Tchekhov
Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.
Caminhos da encenação

No conto original temos a história escrita em terceira pessoa, o narrador é um observador externo, apartado das situações. Na encenação de Escher e Brasil, o narrador está na primeira pessoa, responsável em contar sua própria trajetória.

A escolha permite uma comunicação mais direta. O sapateiro compartilha com o público suas experiências, pensamentos e sentimentos.

Ao narrar os fatos e desdobrar-se em outros papéis, Escher – competente e empático –, constrói a figura do sapateiro atormentado em suas contradições e mesquinhez, incapaz de reconhecer que sua atitude rivaliza com a sociedade que ele tanto critica.

Esse é outro ponto importante no conto de Tchekhov e que é corretamente preservado na encenação: não se aponta culpados, é oferecida ao público a reflexão do que está na origem das desigualdades sociais.

Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.
O pacto

A direção de Cássio Brasil é segura e precisa. As soluções cênicas criativas, bem como a cenografia – uma estrutura multifacetada –, auxiliam o desenvolvimento da história e delimita o limiar entre o sonho e a realidade.

Os figurinos, também assinados pela direção, são “portadores de signos”: o sapateiro tem nos trajes a marca da passagem do tempo e de sua condição de trabalho e, ao tornar-se rico, a exuberância da indumentária, opõe-se à sua natureza íntima.

Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.
Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.

Embora impecavelmente vestido, o sapateiro não tem uma relação histórica com aquela vida de riqueza. Por essa razão, em vários momentos ele sente “um peso na alma”, por conta de suas atitudes tão semelhantes aos ricos que ele odiava.

E isso lhe será cobrado pela estranha figura com a qual ele estabelece um pacto. Ele ganha o que tanto deseja e deve oferecer algo em troca. É a velha problemática humana: para todo ganho, sempre haverá uma perda.

Envolvente, o espetáculo O Sapateiro Ruço abre diversas possibilidades de reflexão. Diverte e encanta. É, nestes tempos de mediocridade, uma bela surpresa para o público infanto-juvenil.

Tchekhov
Foto: Divulgação/João Maria da Silva Júnior.

Ficha Técnica

O SAPATEIRO RUÇO

Dramaturgia: Carlos Escher com colaboração de Cássio Brasil / Livremente inspirada no conto “O Sapateiro e a Força Maligna” de A. P. Tchekhov, tradução de Boris Schinardeman – Editora 34 – 1999 / Direção, Cenário e Figurinos: Cássio Brasil / Elenco: Carlos Escher / Contrarregra: Daniel Souza / Desenho de Luz: Pajeú Oliveira / Operação de Luz: Ale / Desenho de som: Gabriel Stippe /  Operação de som: Tomé de Souza / Costureiras: Yrondy Moço Rillo, Keila Santos / Marcenaria: Murillo Carraro / Danilo: fechaduras / Estruturas metálicas: Douglas Andre Caldas e Caldas / Serralheria e automação: José Rodolfo da Silva França, Michel Antônio Castro Gonzalez / Transporte: Edivaldo Caetano da Silva / Fotografia: Alicia Peres, João Maria da Silva Júnior / Vídeos e teaser: Luiz Cruz / Teaser e vídeos mídias sociais: Anick Matalon / Designer gráfico: Pedro Nascimento / Produção: Carlos Escher, Cássio Brasil / Assessoria de imprensa:  Ofício das Letras e Adriana Monteiro


Serviço:

  • Temporada: 13.07 a 28.07.2024
  • Local: Teatro Municipal Alfredo Mesquita
  • Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 – Santana
  • Localização: em frente ao Campo de Marte/PAMA
  • Transporte: Metrô Carandiru/Santana – Linha 1-Azul
  • Informações/telefone: 2221-3657
  • Capacidade: 198 lugares
  • Estacionamento do teatro: gratuito
  • Horário: sábados e domingos 16 horas
  • Ingressos: R$ 20,00 (inteira) / R$ 10,00 (meia entrada)
  • Classificação: livre
  • Duração: 50 minutos

(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.

 

 


Nota da Redação ==  O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor e colaborador, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.

 

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