bestas
por Aguinaldo Gabarrão (*)
Inspirado numa história real, o filme “As Bestas” apresenta logo de início a tensão e o medo na relação conflitante entre moradores de uma aldeia na Galícia (Espanha) e um casal de franceses.
O título foi emprestado de uma tradição popular de algumas aldeias espanholas, denominada de “a raspa das bestas”, que consiste em cortar a crina de cavalos selvagens, para evitar a proliferação de parasitas. Isso é feito imobilizando-se o animal apenas com a força conjunta de alguns homens, sem o uso de outros apetrechos.
A violência dessa imagem logo na sequência inicial, se conectará perfeitamente a história de Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Foïs), casal que escolheu morar numa região da Espanha com o objetivo de obter melhor qualidade de vida e realizar o sonho de cultivar hortaliças e produtos orgânicos saudáveis para venderem na feira local.
Essa forma de conduzir a existência e cuidar da terra, provoca o estranhamento e fofocas entre a população daquela aldeia. A coexistência com seus vizinhos, os irmãos Anta (Luis Zahera e Diego Anido), se torna cada vez mais conflitante até que se chega a um ponto sem retorno.
Aversão contra estrangeiros
O roteiro escrito pelo diretor Rodrigo Sorogoyen e Isabel Peña, é a fotografia do que acontece na Europa e em outras partes do mundo: o sentimento de aversão e hostilidade que muitos estrangeiros sofrem, por conta de suas raízes culturais e religiosas diversas, e também por representarem – na concepção dos nativos –, uma ameaça econômica que tira seus empregos.
Todo esse estado de coisas fomenta a xenofobia e suas formas de violência física e psicológica, conforme a história mostra fartamente. E no filme Sorogoyen acrescenta um elemento novo para o público enxergar a complexidade do problema. Os moradores locais querem ceder suas propriedades para que seja instalado um parque eólico. Isso trará dinheiro, mas terá como consequência a descaracterização da região, que Antoine e sua esposa, não aceitam, votando contra.
Esse fato no filme, é uma provocação do diretor quanto a essa aura quase mágica que há em torno de propostas sustentáveis, mas que também podem trazer grandes prejuízos, se não forem pensadas corretamente. Na trama, esse componente só amplifica o estado de tensão que culminará em mais violência.
Sonho x sofrimento
E é nesse momento da história que Olga, a esposa de Antoine, toma para si a responsabilidade e o papel de preservar os sonhos acalentados pelo casal, independente de todo o sofrimento causado.
Ganhador de nove Prêmios Goya, a premiação mais importante da Espanha, além de ser laureado com o César de Melhor Filme Estrangeiro na França, o filme “As Bestas” conta com belas interpretações e a fotografia sensível de Álex de Pablo, que capta a beleza bucólica em rigoroso contraste com as várias formas de violência dos seus moradores, retrato de um mundo que está longe de superar as camadas ocultas da xenofobia.
Trailer – clique na imagem abaixo:
Serviço
AS BESTAS
- Gênero: Drama, Suspense
- País: França, Espanha
- Classificação: 14 anos
- Duração: 2 horas e 17 minutos
- Ano: 2022
Ficha técnica
Direção: Rodrigo Sorogoyen / Roteiro: Rodrigo Sorogoyen, e Isabel Peña / Elenco: Denis Ménochet, Marina Foïs, Luis Zahera, Diego Anido, Marie Colomb / Direção de Fotografia: Álex de Pablo / Desenho de Produção: Jose Tirado / Montagem: Alberto del Campo / Trilha Sonora: Olivier Arson / Produção: Ibon Cormenzana, Ignasi Estapé , Anne-Laure Labadie, Jean Labadie, Nacho Lavilla, Thomas Pibarot, Rodrigo Sorogoyen, Jérôme Vidal, Eduardo Villanueva / Distribuição: Pandora Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do Diário Zona Norte.
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