passadas
por Aguinaldo Gabarrão (*)
O destino é a crença que sustenta a impossibilidade de se escapar de algo já determinado. Na mitologia grega está representado pelas três Moiras, incumbidas de tecer o fio da vida, determinar o seu comprimento e cortá-lo.
Esse pensamento de que parece existir um “fio invisível” que tece a trama das nossas vidas é algo que faz parte dos questionamentos e crenças humanas. Sob essa ótica, independente do que se deseja ou do que se faça, o fim será aquele que já foi “tecido” pelo destino.
A possibilidade determinista é sugerida no filme “Vidas Passadas” que tem, entre outros méritos, a capacidade de brincar com o conceito de destino, numa sucessão de acontecimentos que parecem condicionar o distanciamento e posterior reaproximação de Nora e Hae Sung.
A separação dos amigos profundamente conectados, acontece depois que a família de Nora decide sair da Coreia do Sul. Após doze anos, retomam o contato virtualmente pelas redes sociais. Há um novo afastamento, até que se reencontram em Nova York para uma semana decisiva em suas vidas.
Ciclos e reencontros
Cabe dizer que o filme, apesar do título, não conta uma história sobre reencarnação e suas implicações. É mencionado pontualmente na trama o termo In-Yun, palavra em coreano que transmite a ideia de que todo encontro casual de pessoas tem um sentido que transcende a vida atual, portanto, numa existência anterior.
A diretora estreante Celine Song, soube desenvolver a história sem prender-se a essa ideia, mas utilizando-a de tal maneira, que deixa ao público a possibilidade de entender a intensa afinidade entre as duas crianças, pelo viés espiritualista ou apenas pelo movimento natural da vida.
Em cada ciclo de doze anos os contatos entre eles expressam sentimentos confusos, no limite entre a amizade e o amor. E contraditórios como o desejo e a repulsa. Os amigos se testam, numa busca para entender o que faz com que se procurem, apesar da distância, do tempo e das diferenças culturais e profissionais.
Destino ou escolha?
E se tivessem casado? Quantos filhos teriam? Como estaria hoje a vida de cada um deles? As perguntas surgem nos diálogos bem estruturados e revelam essas preocupações tão humanas e universais, diante das possibilidades e preferências numa existência.
E novamente o destino parece ressurgir para colocar a dúvida no público: tudo o que acontece ou deixou de acontecer, é obra dessa sucessão inevitável de acontecimentos, que foge a nossa vontade ou é fruto de escolhas?
Veja o trailer clicando na imagem:
As interpretações do trio central Greta Lee (Nora), Teo Yoo (Hae) e John Magaro (Arthur, marido de Nora), são comedidas e repletas de subtextos, o que tornam os diálogos ainda mais consistentes.
Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Roteiro Original, Vidas Passadas é um filme reflexivo e encantador, e seu final é absolutamente coerente com a trajetória de vida das suas personagens.
Serviço:
VIDAS PASSADAS – Título Original: Past LivesC
- Gênero: Drama, Romance
- País: EUA, Coreia do Sul
- Classificação: 12 anos
- Duração: 1 hora e 45 minutos
- Ano: 2023
Ficha técnica
Direção e Roteiro: Celine Song / Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro / Direção de Fotografia: Shabier Kirchner / Montagem: Keith Fraase / Música: Christopher Bear, Daniel Rossen Distribuição: California Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.
Nota da Redação == (*) O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor e colaborador, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.