O espetáculo “Chorinho” emerge como uma reverência à dramaturgia brasileira e ao seu autor, Fauzi Arap (1938/2013 = 75 anos – leia mais aqui) , um nome proeminente nas artes cênicas nacionais.
Arap, multifacetado como ator, diretor e dramaturgo, inscreve-se na galeria dos grandes mestres do teatro brasileiro. Ele compartilha os holofotes com figuras como José Celso Martinez Correa, Antônio Abujamra, Clarice Lispector e Maria Bethânia, com os quais estabeleceu laços profundos.
Trazê-lo de volta aos palcos é, em essência, uma contribuição à preservação e celebração da história cultural do Brasil. Depois de um roteiro em outros palcos da cidade, “Chorinho” chega nesta 4a.feira (18/10/2023), às 21 horas, no Teatro Alfredo Mesquita – em frente ao Campo de Marte, na Zona Norte.
Antes desta montagem, “Chorinho” teve o privilégio de contar com duas encenações, ambas sob a direção do próprio Fauzi Arap. Para esta terceira representação, a Cia Fuxico de Teatro confiou a direção a Marcos Loureiro, que havia atuado como assistente de Arap nas produções anteriores.
Reintroduzir Fauzi Arap a aos palcos é perpetuar a história da cultura no Brasil, amplificando sua disseminação e reafirmação em um contexto contemporâneo.
No palco
A sutileza da encenação permanece intacta, adaptando-se com versatilidade a diferentes cenários. O palco, modestamente composto por uma rotunda ao fundo, um banco de praça e poucos adereços, direciona o foco para os atores.
A iluminação segue a mesma linha de simplicidade, realçando os estados emocionais das personagens, que ocasionalmente verbalizam seus pensamentos e a passagem do tempo.
Esta atmosfera poética oferece o palco perfeito para o desenrolar da história, um encontro entre dois personagens urbanos que compartilham suas histórias, medos e frustrações.
Assim, a encenação prioriza a relação dos atores em cena e a meticulosa atenção às palavras do autor, fiel à visão de Fauzi Arap em produções passadas.
A narrativa se desdobra em sete movimentos, habilmente misturando humor e drama. Em resposta às críticas sobre a simplicidade do cenário, Arap afirmou: “O texto fala por si, ele é mais importante do que qualquer outra coisa que venha a ser adicionada“.
Relevância e Pertinência
“Chorinho” não se limita a ser uma peça teatral; é um reflexo atento à vida nas metrópoles, em um mundo onde a tecnologia molda nosso cotidiano, frequentemente enclausurando as pessoas em bolhas sociais.
As redes sociais, governadas por algoritmos, não apenas viciam os usuários, mas também criam círculos sociais cada vez mais homogêneos, restringindo a interação em ambientes de escassa diversidade.
Não é surpresa que essa dinâmica conduza a um aumento da violência, originada no preconceito e na intolerância em relação ao que é diferente. Assim, a cidade torna-se um campo de batalha, onde o espaço público é disputado.
A dramaturgia de Fauzi Arap brota de uma experiência pessoal em meio às ruas da cidade, quando, por acaso, ele cruza o caminho de um morador de rua.
Esse encontro casual despertou em Arap uma sensibilidade para uma realidade corriqueira, mas que expõe uma ferida social profunda: a desumanização da pobreza e a invisibilidade dos marginalizados, tanto pelo Estado quanto pela sociedade.
O cotidiano nas melancolias e lamúrias
“Chorinho” narra a vida urbana por meio de duas personagens principais: a tia (interpretada por Cida Lima) e o “morador da praça” (vivido por Ronaldo Barbosa). Personagens aparentemente antagônicos que, não sem resistência, abrem espaço para o diálogo.
É uma luta silenciosa e invisível, que permeia a peça de forma contínua, como se a própria praça fosse uma personagem. Fauzi Arap afirmava que o título da peça aludia à cadência do ritmo sonoro do chorinho, um gênero musical brasileiro, e que essa designação capturava a essência das relações entre as personagens.
Além disso, o título remete às pequenas melancolias e lamúrias do cotidiano, representando as pequenas queixas diárias da vida nas cidades.
“Chorinho” revela, assim, uma representação vívida e sensível da experiência urbana, um lembrete da humanidade e diversidade que muitas vezes passam despercebidos na agitação das metrópoles.
É válido mencionar que “Chorinho” de Fauzi Arap foi agraciado com o Prêmio APCA de Melhor Autor em 2007, consolidando o reconhecimento da obra.
Ficha Técnica
- Espetáculo teatral: CHORINHO
- Direção: Marcos Loureiro
- Elenco: Cida Lima e Ronaldo Barbosa
- Faixa etária indicada: 14 anos
- Dureção: 90 minutos
Serviço
- Local: Teatro Alfredo Mesquita
- Endereço: Av. Santos Dumont, 1770 – Santana | SP
- Referência: em frente ao Campo de Marte
- Transporte: Metrô Linha Azul – Estação Carandiru
- Estacionamento: no local – gratuito
- Espetáculo: 16/10/2023 – 4ª feira
- Horário? 21 horas
- Classificação indicativa: 14 anos
- Ingressos: gratuitos (antecedência de 1 horas para retirada dos ingressos)
<<Com apoio de informações/fonte: Cia. Fuxico de Teatro >>