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por Beto Freire (*) — << Especial >>
“Já não é o que era!”. É uma das frases repetidas no mesmo estilo pelos moradores da Vila Guilherme. O bairro oficialmente tem o 12 de Setembro de 1912 como fundação e agora comemora-se seus 111 anos, nesta 3ª feira. Desde a festa que cortou o laço de abertura, muitos imigrantes portugueses puderam adquirir lotes.
O idealizador Guilherme Praun Silva construíu uma pequena cidade na Zona Norte, com o básico de construções como a igreja, hospital, farmácia e padaria, principalmente com uma escola para a alfabetização dos novos habitantes. A história mostra a grande visão deste homem que veio do Rio de Janeiro.
O bairro que em pouco tempo virou distrito, tem a Praça Oscar da Silva com pedra fundamental e a Rua Maria Cândida como símbolo para um comércio próspero, ao menos esse era o plano do senhor Praun.
Com o tempo a região foi agraciada com o Zoológico do Agenor, que até os dias atuais é lembrado pela vizinhança, apesar do distrito nunca ter lhe ofertado uma praça ou avenida com seu nome.
E mais ainda: até o visionário fundador da Vila Guilherme tem seu nome restrito tão-somente a ” Avenida Guilherme” em uma das principais e abandonadas vias do bairro. Nem mesmo uma placa com seu nome completo e, embaixo, a informação do fundador. Assim é um pouco da esquecida história junto ao desenvolvimento de Vila Guilherme.
O tempo passa, o bairro fica
Mesmo tendo em seu território a maior rodoviária da América Latina, e o complexo Center Norte, a região passa desapercebida para o poder público, a via de mão dupla entre arrecadação e devolução dos impostos. Esse detalhe é esquecido em obras úteis e melhor qualidade de vida aos moradores. Mas o troco é notado na falta de melhorias e obras.
Com todo seu potencial de crescimento econômico e geração de empregos, a Vila Guilherme pouco tem o que comemorar nos últimos anos. O mais recente investimento digno de nota foi em 2006 com a incorporação do terreno da antiga Associação Paulista de Trote ao Parque Vila Guilherme — que também não recebe um olhar mais carinhoso. O Casarão do Parque do Trote está ´´no balança mas ainda não caiu´´ — e ninguém faz nada, apesar dos perigos! Lá se vão 15 anos que o Conpresp (patrimônio da Prefeitura) estuda o caso. (Ver a foto de capa)
Enquanto é um dos poucos distritos paulistanos sem um hospital público e/ou Pronto Socorro digno com leitos, o bairro também tem desvalorização por causa da insegurança, que praticamente coloca em risco diariamente seus moradores reféns no período noturno. A insegurança ronda o bairro todo e até exportando para os distritos mais próximos. É visível.
Mesmo durante o dia, aquele movimento nas vias comerciais é cada vez menor, por medo de ficar sem o telefone celular ou o veículo. Na consequência, muitos moradores saem para fazer suas compras em regiões com maior sentimento de segurança e liberdade.
A falta de limpeza e calçadas em condições mínimas para os pedestres, é outro fator que empurrou a clientela costumeira para longe do comércio regional. Sem contar que o governo não dá nenhum incentivo aos que geram impostos. Ou ver as enchentes sempre no mesmo lugar, como na Praça Santo Eduardo, que nunca tem solução.
Esse abandono do poder público, deixou escolas públicas, shoppings e moradores sobrevivendo à própria sorte… Enquanto o povo gritava para receber saúde pública o poder público trouxe albergues, quando esperneava para receber mais segurança pública o poder público mandava emissários a reuniões pedindo atenção interrupta com telefones, bolsas, carteiras, veículos, quase um apelo naturista aos transeuntes…!
O bairro no vazio
Todo esse caos controlado com conversas fiadas, fez com que muitos postos de trabalho fossem fechados, entre os mais simbólicos está a fábrica de copos Nadir Figueiredo, que migrou para o interior.
No mesmo caminho, a fábrica de Papelão São Roberto, além do Mart Center que encerrou as atividades. As três áreas juntas somam quase 300 mil metros quadrados, e ambas empregavam milhares de funcionários diretos e indiretos.
Sem contar a Braspress (fechada nas ruas congestionadas do bairro), depois a Mercado Livre, os estúdios do SBT do Silvio Santos (que vivia embaixo d´água), a anunciada saída da Vedacit, entre outras.
No bairro, ficaram os esqueletos das fábricas com os terrenos parados há anos , com a esperança de algo ser feito. Mas os anos passam e nada é de concretizado. Mas quem tem interesse de grandes investimentos em bairro esquecido no mapa, sem os cuidados necessários?
Sem festas e shows
É importante a comemoração de datas, mas é mais urgente resolver os problemas sociais com soluções práticas, alicerçadas no passado com olhos para o futuro. Que tenhamos mais motivos para comemorar nos dois ou três anos adiantes… Quem não preserva o passado e investe no presente, não pode esperar um grande futuro!
Parabéns a todos moradores, comerciantes, trabalhadores e empreendedores desse honrado chão da Vila Guilherme — na companhia da Vila Maria e Vila Medeiros — que um dia envelhecia como um bom vinho… E que tinha felicidade e alegria em colocar as cadeiras às portas, nas calçadas, para um bom bate-papo.
Dos tempos que dava para ver as crianças correndo, brincando, bolinhas de gude, ou os papagaios voando nos céus… Havia motivos para tanto. Hoje, tudo mudou, até o oferecimento dos bens públicos, uma melhor saúde aos moradores e até a segurança nas ruas!
Vila Guilherme, com tudo que passou e passa, ainda há esperança! Feliz Aniversário pelos 111 anos! Que não se resolve com anúncios de feliz aniversário em páginas de jornais ou festa-show no meio da rua! Ou que se espera são providências ativas no dia a dia!
(*) Beto Freire — Antônio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, um apaixonado pela Zona Norte, sendo ativo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte — escreve quinzenalmente. Com olhar de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, sem distinção, já teve participações em muitas audiências públicas. Por outro lado, foi membro em gestões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Amigos do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).
<<Texto especial pelo aniversário dos 111 anos da Vila Guilherme. Acompanhe os artigos quinzenais do autor. Reveja todos para perceber o que acontece na região.
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