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por Beto Freire (*) — Artigo n. 20 – < Cidadania >
Quem compra frutas, legumes e verduras na feira-livre sabe “Mulher bonita não paga, mas também não leva nada”. A tradicional maneira de adquirir produtos nas ruas, tem na atualidade certo charme e algumas considerações para avaliação.
Eu que sou neto de feirantes, conheço um pouquinho da lida de trás do balcão e bastante enquanto consumidor, minha avó materna Zulmira e meu avô materno Antonio tinham em nossa região uma barraca de verduras e legumes.
Trabalho na feira-livre é bem pesado, começa de noite com as compras no Ceasa, depois a montagem da barraca na madrugada e as vendas até oficialmente às 14 horas são pelo menos 16 horas de trabalho nos seis dias da semana; a 2ª. feira é o único dia de descanso.
Mais de 100 anos
A história secular mostra que o início oficial das feiras-livres é desde 1914, em locais no centro da cidade, e depois foi crescendo e atingindo outros bairros. Hoje são mais de 960 feiras livres oficiais e 12 mil comerciantes. A cidade cresceu assustadoramente, mas as feiras-livres ficaram pelo tempo e nos espaços das ruas e avenidas.
Em épocas passadas, nas memórias de muita gente, a feira-livre tinha um serviço fundamental para os moradores e suas famílias. Nas barracas comprava-se arroz, feijão, batatas e outros produtos nos sacos empilhados lado-a-lado. E ao fim da feira-livre, os caminhões iam levar as encomendas nas residências. E tinha até caderneta para o consumidor pagar parceladamente.
Hoje não se vê mais os tradicionais café moído na hora, à frente do cliente e saiam quentinho em pacotes de papel com as marcas Jardim, Tiradentes, do Ponto, do Centro, Brasileiro e outras. E o tempo passou as marcas de café foram industrializadas e hoje vendidas somente nos supermercados.
Polêmica com soluções
O assunto “Feira Livre” é bastante polêmico, muitos querem ir na feira, quase ninguém quer a feira instalada em sua porta, e tirar o carro da garagem e ver o seu imóvel desvalorizado. As pilhas de lixo acumulado no pós-feira até a retirada pelo serviço municipal de limpeza, no meio das ruas. Há uma variedade de opiniões quando abordamos antigos costumes e necessidades em tempos modernos.
Com toda mudança que São Paulo teve principalmente nas últimas quatro décadas, talvez não seja o momento de colocar a “Feira Livre” em espaços mais modernos, com infraestrutura de banheiros e água corrente, por exemplo ?
Evitar a obstrução de vias de trânsito – como a Avenida Guilherme Cotching e outras do mesmo nível por toda a Zona Norte e na cidade – , com mais tranquilidade e conforto para os clientes, feirantes e moradores do entorno? E também sem contar outros fatores adversos aos feirantes e os consumidores, como dias de chuva ou embaixo de Sol forte e calor?
Sim, é a resposta simples e de imediato. Mas como equacionar tradição e novos tempos é a difícil tarefa da Prefeitura da Cidade de São Paulo. Mas algum estudo sério deve ser feito para dar melhores condições aos feirantes, com lugares apropriados – como se fossem mini-mercados municipais.
Em busca de alternativas
Numa primeira etapa, o ideal seria a utilização de áreas públicas fechadas, com infraestrutura com cobertura e estacionamento, como existem em outras cidades — como no ABC. Ou lugares confinados como o modelo de uma das feiras da Mooca, ao lado da Subprefeitura.
Com algumas adaptações da infraestrutura, pode-se estudar a utilização do enorme estacionamento – e até a parte interna – do Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (CRESAN) da Vila Maria Alta – conhecido como Banco de Alimentos ou Varejão.
Outros locais podem ser estudados: o recuo de estacionamento da entrada do Parque Vila Guilherme-Trote, ainda pode ser estudado os canteiros da Avenida João Simão de Castro, na Vila Sabrina. Há outros pontos de nossa região que podem ser úteis no estudo.
Temos que pensar sempre no consumidor para que possamos valorizar o comércio regional. E esse consumidor da atualidade cada vez mais busca segurança e comodidade quando saí para as compras. É uma missão homérica conciliar a tradicional feira-livre com a necessidades da clientela, sem atrapalhar muito o trânsito e causar incômodo nos vizinhos da feira.
Outra questão importante é não trazer mais custos para os feirantes, a concorrência de grandes supermercados e a facilidade de utilizar outras opções para “fazer a feira” já são os grandes obstáculos para os donos de barraca. O preço mais em conta é o atrativo para a freguesia, a cultura de ir a feira é outro fator decisivo para que os feirantes mantenham seus fiéis clientes.
A vida e os serviços se transformam
A mutação de uso da cidade não vai parar, a cada dia mais habitantes e automóveis vão chegando na megalópole, viabilizar a cultura e tradição das feiras-livres é o novo desafio dessa década, sem apoio e readequação de espaços, a tendência é cada vez mais a população trocar o hábito de comer aquele suculento pastel de feira e encher o carrinho de metal com as delícias e características da mercado de rua.
O poder público precisa de um olhar especial para que os feirantes consigam trabalhar e lucrar com dignidade, diminuindo os transtornos para vizinhança e oferecendo mais bem estar para a tradicional clientela das feiras livres.
(*) Beto Freire — Antonio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, é torcedor apaixonado pela Portuguesa de Desportos. Ele é um apaixonado pela Zona Norte, sendo ativo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte — escreve às 3as.feiras. Com olharDiáriio de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, sem distinção, já teve participações em muitas audiências públicas. Por outro lado, foi membro em gestões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Amigos do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).
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