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A Zona Norte ainda continua esquecida pelo poder público e tem mobilidade do passado

Av.Guilherme Cotching, em frente à Candelária, à noite - sem trânsito.
Tempo de Leitura: 5 minutos

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por Beto Freire (*) — Artigo n. 19 – < Cidadania >

A Zona Norte é o maior polo de transporte da cidade, abrigando o Terminal Rodoviário Tietê e o Terminal de Cargas Fernão Dias. Tem ainda a Rodovia Presidente Dutra,  com o maior fluxo de passagem em estradas no país. É entrada e saída das Rodovias Ayrton Senna e Fernão Dias. A Marginal Tietê, via urbana com maior fluxo diário de veículos automotores do planeta, também corta boa parte da região.

Mas começa a surgir uma incoerência no dia a dia. A questão viária urbana é de suma importância para crescimento econômico de uma região, não apenas para agregar valor comercial e facilitar o entra e saí de mercadorias. Mas quando temos um planejamento viário capaz de escoar para diversos pontos o trânsito, valorizamos muito os imóveis. A diversidade de modais, como ônibus, metrô, ciclovias, trem e avenidas rápidas, todo mundo está careca de saber que é essencial para a mobilidade urbana do século 21.

O Metrô em marcha lenta

Infelizmente, o metrô ainda vai engatinhando na Zona Norte, depois da inauguração  da Linha 1-Azul em setembro de 1974 da primeira linha do sistema metroviário da cidade, que  estancou no Tucuruvi, apesar do projeto que chegaria no Jaçanã até o município vizinho de Guarulhos. Outras linhas foram sendo ramificadas por outros caminhos da cidade e a Zona Norte ficou “chupando o dedo”.

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Inauguração do Metrô-Lina 1 – Azul (1974)

Agora,  aparece o projeto da Linha 19-Celeste, que vem do centro da cidade para passar por vários bairros –  incluindo a Vila Maria –   e chegar até Guarulhos. Mas uma realidade distante, que depende de orçamentos e da boa vontade dos governantes e outros interesses. O atual governo estadual já até sinalizou nos bastidores, sem ainda oficializar, que essa nova linha não será prioritária.

Surge a Avenida Nova que ficou velha

Até o momento, sem nenhuma perspectiva, não se tem notícia de nova avenida ou duplicação de vias rápidas em todo nosso território. Só para se ter uma referência de tempo, a “Velha Avenida Nova” recebeu o nome pomposo de Avenida Luiz Dumont Villares – que está na divisa da Vila Guilherme com o Jardim São Paulo –  que foi construída na década de 1980. Portanto, lá se vão 43 anos da grande obra que transformou o local, passando por cima dos trilhos do Trenzinho da Cantareira – o Tramway – e do Córrego Carajás/Carandiru que foi canalizado até o Parque da Juventude.

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Velha Avenida Nova recém-inaugurada (há 43 anos)

Tem mais. A Avenida Guilherme Cotching é uma importante via localizada na região da Vila Maria. Ela foi construída ao longo do tempo, em diferentes fases de desenvolvimento da região, pois foi projetada em 1949, com o objetivo de ligar a região e a Rodovia Presidente Dutra. Depois foi sendo ampliada com construção de novas pistas. E lá se vão também 74 anos. Tem ainda a Avenida Joaquina Ramalho criada na década de 1960. E assim poderíamos relacionar várias avenidas por toda a Zona Norte – Vila Guilherme, Vila Medeiros, Santana, Tucuruvi, Mandaqui, Casa Verde, Jaçanã, Tremembé... e aí por diante.

E, por outro lado, temos falta de mais uma ponte para cruzar o Rio Tietê em direção ao centro expandido. Recuperar os projetos que ficam “amarelados pelo tempo” há mais de 30 anos nas gavetas do poder público para desafogar os congestionamentos. O exemplos não faltam, como  a duplicação da Rua São Quirino, que faria a ligação entre Avenida Joaquina Ramalho e Rodovia Presidente Dutra anterior ao acesso da Avenida Salim Farah Maluf. 

As empresas foram embora

Esse descuído com a mobilidade urbana, fez muitas empresas saírem da região — citando algumas, como a Braspress, a Salton, a Nadir Figueiredo, etc. — , e com elas milhares de empregos diretos e indiretos. Os custos da cidade de São Paulo não são poucos, e manter empresas em locais com dificuldade de locomoção com as constantes inundações tornaram a conta desproporcional para esses grandes geradores de empregos e renda — que, além disto, pagam altos impostos.

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Prédio da Braspress na V.Guilherme em terreno de 49 mil m2.

A maior preocupação atual é que essa imigração de empresas esta crescendo cada vez mais e,  por outro lado, o poder público não fez nenhuma obra ou sinalização para sair da estagnação do contexto atual. O máximo que fez foi a  pintura de guias e revitalização de sinalização viária, e nada mais aconteceu nas últimas décadas.

Sem investimento público para aumentar a mobilidade urbana, combatendo enchentes com obras embaixo da terra e o aumento gradativo de modais de transporte confortáveis, a tendência é que cada vez mais nossa região tornar-se uma “zona dormitório”. Onde as pessoas estão apenas para descansar no período noturno, e fazendo deslocamentos gigantescos para trabalhar  muito distante.

Espaços urbanos com finalidade dormitório, tem tendência natural de fortalecer raízes, de virar terceiro plano para investimentos públicos e novos moradores, além de proporcionar pouquíssimas opções de emprego e oportunidades para empreendedores, consequentemente deixando um custo de vida mais elevado para os habitantes remanescentes.

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A Zona Norte tem pressa, não aceita o papel de coadjuvante na cidade, aliás, desde os primórdios de São Paulo esteve na vanguarda do desinvestimento de São Paulo. Que a Linha 19 Celeste do Metrô, possa de fato ficar à disposição da população o mais breve possível, que tenhamos a construção de outra interligação entre bairros e centro expandido, e que as expansões e duplicações viárias tenham andamento longe das salas de reuniões na responsabilidade apenas de burocratas! Além, é claro, que os políticos que ficam dentro da Câmara Municipal possam se mexer para essas melhorias e acompanhar os projetos do governo municipal, em consonância com os interesses dos moradores.


(*) Beto Freire — Antonio Roberto Freire é o nome oficial, com batismo de família genuinamente portuguesa, nascido e criado na Zona Norte, nas bandas da Vila Guilherme e Vila Maria. Cronista das Vilas, é torcedor apaixonado pela Portuguesa de DesportosEle é um apaixonado pela Zona Norte, sendo ativo colaborador há muitos anos do DiárioZonaNorte — escreve às 3as.feiras. Com olhar de ativista social, preocupado com a melhor qualidade de vida de todos os moradores, sem distinção,  já teve participações em muitas audiências públicas. Por outro lado, foi membro em gestões do Conselho Comunitário de Segurança-CONSEG de Vila Maria, além da presidência da Associação dos Amigos do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT).


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Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.

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