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Crônicas da Zona Norte: O dia em que Papai Noel trocou a rena pelo carro de aplicativo

Crônicas
Tempo de Leitura: 2 minutos

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<< Crönica >> === por Aguinaldo Gabarrão (*)

Chega um carro de aplicativo. Preciso levar minha mãe para realizar alguns exames. O veículo se aproxima e faço aqueles procedimentos de segurança: confirmo as características do carro, cor, placa, se a fotografia corresponde a quem está no volante.

Vencida essa primeira etapa, abro a porta e pergunto o nome do condutor, para ter certeza de que é a mesma pessoa cujo nome aparece no aplicativo. Tudo certo. Entramos no carro, nos sentamos no banco de trás e informo ao motorista o código daquela corrida – ainda tem esse recurso de segurança –, e seguimos para o nosso destino, aqui mesmo na zona norte.

Olho discretamente para o celular, evitando deixa-lo muito à mostra, afinal, tem ocorrido tantos assaltos, com abordagens relâmpagos de falsos motoboys, e até de pessoas que estouram o vidro do carro para levar o telefone ou algo que considere de valor.

Mas apesar de todas essas preocupações com segurança, pude observar no curto trajeto até o destino final, aquelas situações incômodas e que no natal saltam ainda mais aos nossos olhos, quando queremos ver a realidade, sem ocultá-la com nossos filtros metais.

E estamos no clima do Natal…

Diante dos meus olhos vejo a mãe e o filho vendendo doces no cruzamento; o homem de roupas muito simples, que carrega com dificuldade seu copo de café com leite, doado por alguma alma que se compadeceu de sua condição humilhante; outros homens e mulheres deitados na rua, uns dormindo, outros com olhar vazio.

Vi pelo aplicativo que estávamos prestes a chegar. Neste momento ergo a cabeça e só então percebo que no banco do passageiro, à minha frente e ao lado do motorista, está sentado o Papai Noel. Incrível! Papai Noel estava ali o tempo todo e não o vimos. Como era possível?

Porém, uma fração de tempo depois, tão rápida e difícil de mensurar, percebo que não era o Papai Noel, mas apenas um gorro vermelho, colocado no encosto do banco pelo motorista criativo, com o objetivo de trazer um pouco daquele clima do natal para dentro do seu veículo. Fiz um comentário, ele respondeu e instalou-se entre nós a mais espontânea risada.

E ao descer, enquanto víamos o carro dele se distanciar, para atender a outro cliente, pensei: – o Natal pode ser muitas coisas, mas também pode ser isso: o encontro das nossas humanidades no que há de mais simples, como o sorriso, a valorização e o interesse pelo outro.


 

Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.


 

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