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A esperança da humanidade ainda resiste em busca de harmonia e paz mundial

harmonia
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harmonia

por Toninho Macedo (*) – Reflexões – 19

Retomo aqui, por oportuno, uma reflexão já antiga, mas que continua pertinente. Somos atalaias, sob a inspiração da flor de lotus: “… planta que significa pureza do corpo e da mente, e renascimento. Isso porque, embora cresça na lama, ela se torna uma bela flor: o caminho para purificação em meio às impurezas mundanas.”

U’a lufada de ar fresco…

“A humanidade enfrenta a opção entre sacrificar a diversidade cultural no altar da globalização ou, ao contrário, fazer do diálogo intercultural um instrumento a serviço do enriquecimento e do conhecimento mútuo entre culturas, passo fundamental para assegurar a possibilidade de um mundo justo, em paz e harmonia, aproveitando alguns instrumentos que a globalização tem desenvolvido”.
(Agustí Nicolau Coll)

Ao longo destes dois milênios fomos nos habituando a uma idéia de paz transcendental, “que se busca e se recebe como um dom divino”, e não como uma condição essencial à humanidade e ao mundo. Paz na terra “aos homens” de boa vontade!

Nos habituamos também com a idéia transcendental de amor, como algo buscado e atingido em momentos especiais, e não como condição essencial e permanente para a nossa estada no mundo, para a nossa salvação coletiva e não individual.

Assim, a paz não é um dom, mas a conseqüência desse amor que se fundamenta nas relações, na aceitação mútua, e como ele, deve ser cultivada, a cada dia. Cultivo de uma convivência harmônica das partes com o todo. Tem que ser construída por nós. Cada um de nós. Paz na terra “pelos homens” de boa vontade.

Até o presente a humanidade não conseguiu enxergar, e reconhecer como valor, o amplo espectro de sua diversidade étnica e cultural. Ao contrário: Aquilo que poderia ser visto como riqueza pela ótica da complexidade/ complementaridade, tem sido sempre o pomo da discórdia, motivo das guerras, e dominação do outro. Este visto não como simples outro, mas como desigual. E, mais ainda, rival.

Nos habituamos, também, à idéia arcaica de que os humanos devem lutar e vencer, para sobreviver. Alimentamos competição e luta criando um viver em competição e luta, não só entre nós, mas também com o meio natural que nos possibilita. Assim vivemos imersos em uma cultura de conflitos, de disputas, de guerra e violência, de dimensão planetária. E os resultados dispensam comentários.

Por outro lado, e também já de um tempo, a humanidade vem buscando construir o caminho da convivência harmoniosa entre os semelhantes e com toda a manifestação da vida em nossa comunidade terrestre.

Esta necessidade foi ganhando forma a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um marco na história da humanidade. Marco que vem se expandindo, desde então, sendo encorpado por vários documentos, de igual importância, frutos da dedicação da comunidade de pensadores e almas comprometidas com a transformação de nosso viver.

Através deles toda a humanidade, cada um de nós, estamos sendo conclamados, desde então, ao desenvolvimento de uma comunidade de espíritos transculturais, transnacionais, transpessoais, transdisciplinares, transreligiosos, com uma visão completamente aberta, capaz de estabelecer um espaço para o diálogo pleno e franco entre todas as pessoas, entre suas práticas e vivências. Um convite a uma nova forma de relacionamento.

A cultura de paz, uma dimensão da cultura que ainda não conhecemos, supõe, antes de tudo, um esforço generalizado que “trascenda os limites dos conflitos armados tornando-se também extensivo ao âmbito das escolas, aos lugares de trabalho, aos parlamentos, à imprensa, ao convívio familiar e aos locais de lazer”, para modificar mentalidades e atitudes com o intento de promover uma paz duradoura. Significa, de forma simplificada, prevenir e transformar as conjunturas que possam engendrar violência, instaurando a paz e a confiança entre as pessoas.

Se conseguirmos ser um pouco menos cegos e arrogantes, quem sabe começaremos a cair na real e a ajeitar a ordem do mundo que anda tão torta.

Isto significa um exercício diuturno de abertura para a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível; de reconhecimento do direito a idéias e verdades diferentes das nossas; exercício na difícil arte do diálogo e no reconhecimento da diversidade, vista como simples “diferença”, e não como “desigualdade”. O que significa, em síntese, possibilitar “a todos aqueles que se consideram membros de uma determinada sociedade poder exercer seu direito de participação em igualdade de condição com os demais.”(Hamilton Faria).

Não, por mais que possa parecer, não é ingênuo pensar que, juntos, com respeito, justiça e igualdade de oportunidades para todos, podemos transformar a cultura da violência em uma cultura de paz e de não violência.

E que estas atitudes sejam como que uma lufada de ar fresco nesta atmosfera carregada e contaminada de nosso planeta.

Toninho Macedo
Dezembro de 2008,
Por ocasião das comemorações dos 60 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos

Inspirado nas idéias de Gilbert Cesbron, expressas em “Os Santos vão para o inferno” e de Humberto Maturana, bem como nos esforços das vivências da Abaçaí Cultura e Arte.


(*) Toninho Macedo — Por trás do conhecido Toninho Macedo, há o cidadão Antonio Teixeira de Macedo Neto, que conduziu grandes festivais de cultura e de folclore culminando no maior Festival de Cultura Paulista Tradicional, o “Revelando São Paulo“ – criado em 1996 –, por seis edições memoráveis na Zona Norte (Vila Guilherme em 2010 a 2014 e 2017/2018), além do interior e litoral.  Nele há também muita experiência e inteligência, que vem da graduação em Licenciatura Plenas em Letras Neo-Latinas (1972) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo-USP (2004). Atualmente é diretor cultural e artístico da Abaçai Cultura e Arte, além de gerir Museu da Inclusão e a Fazenda São Bernardo, fundada em 1881 em Rafard (interior de São Paulo), onde Tarsila do Amaral nasceu e passou a infância — saiba mais clicando aqui


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