mãe
<< Crítica/Cinema >> === por Aguinaldo Gabarrão (*)
No roteiro de Ana Carolina Marinho e de Cristiano Burlan, que também assina a direção do longa, Maria é mãe solo que mora na periferia. Vendedora ambulante, após mais um dia de trabalho árduo, retorna para casa e descobre que seu filho Valdo desapareceu.
O roteiro não faz qualquer concessão romantizada da vida de Maria, mulher periférica que não tem clareza das forças que a pressionam na luta pela sobrevivência: a injustiça das condições precárias de trabalho na rua; a negociação desigual na compra de mercadoria com comerciantes exploradores; a luta para fugir da fiscalização para não ter seus produtos apreendidos e perder seu ganha pão.
Lentamente esses vetores destrutivos começam a ser percebidos quando a mãe, aflita para encontrar o filho, busca órgãos públicos diversos, e se depara com figuras burocráticas, donas de pequenos poderes, mão invisível do autoritarismo. A injustiça começa a ganhar corpo e forma, na figura daqueles que deveriam promover a segurança e a integridade física e psicológica do cidadão.
Assista o trailer clicando abaixo:
Tensão crescente
A direção de Cristiano Burlan (Mataram Meu Irmão, Fome) é absolutamente concreta e a fotografia segue precisamente essa leitura. O diretor não conduz os atores a qualquer tipo de malabarismo emocional barato. Pelo contrário, arranca dos intérpretes o que precisa para trazer à tela os sentimentos das personagens em seu estado mais bruto e verdadeiro.
Marcélia Cartaxo (A Hora da estrela, Pacarrete) vive Maria com intensidade desconcertante. A atriz apresenta nuances que fazem sua personagem caminhar para um clarão de lucidez diante das adversidades, para logo em seguida mergulhar na angústia mais devastadora.
E nesse ponto de tensão crescente e desagregador das emoções de Maria, o diretor revela o desfecho da trajetória do adolescente Valdo, e situa o público como testemunha indignada dos acontecimentos. Mas a provocação vai além: a partir da constatação do fato, o que virá por parte da sociedade? A reação contrária ao arbítrio ou o constrangedor silêncio?
Serviço:
A MÃE
- Gênero: Drama
- País: Brasil
- Classificação: 14 anos
- Duração: 1 hora e 30 minutos
- Ano: 2022
Ficha técnica
Elenco: Marcélia Cartaxo, Mawusi Tulani, Helena Ignez, Dunstin Farias, Debora Maria da Silva, Rub Brown, Ana Carolina Marinho, Henrique Zanoni, Tuna Dwek, Carlos Meceni, Gabriela Rabelo. Diretor: Cristiano Burlan / Roteirista: Ana Carolina Marinho, Cristiano Burlan / Direção de Fotografia: André S. Brandão / Direção de Arte: Karla Salvoni / Figurino: Heloisa Cobra / Produção: Cristiano Burlan, Henrique Zanoni, Priscila Portella, Bruno Caticha & Ivan Melo / Produtora: Bela Filmes / Coprodutoras: Filmes da Garoa & Cup Filmes / Distribuidora: Cup Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação.
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do Diário Zona Norte.
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