por Marianna Benassatto – da redação DiárioZonaNorte
Há uns vinte dias atrás, durante a cobertura de um badalado evento de decoração, em uma rodinha de arquitetos aqui da Zona Norte o assunto era comida, quando um deles comenta “lá em Santana tem um armênio muito bom…. A única coisa da qual não gosto, é o tom de azul da parede… “
Como assim? O único defeito do lugar é a cor da parede? Pedimos o endereço e curiosos que somos, fomos até o tal do lugar. Um simpático sobradinho, na rua Maria Curupaiti, 355 – próximo da Avenida Brás Leme. Ali, desde 2013 funciona o Yeran Comida Armênia.
Pequena Armênia
A influência armênia em São Paulo é gigantesca. Não pelo tamanho da comunidade – relativamente pequena, se comparado a italiana, portuguesa, espanhola, síria e libanesa, e sim pela participação no desenvolvimento econômico da cidade.
Os primeiros grupos armênios desembarcaram em São Paulo a partir de 1926, fugindo do genocídio cometido pelos turcos entre 1915 e 1917, que assassinou cerca de 1,5 milhão de armênios e continua a ecoar nas gerações seguintes.
Sem posses, oriundos do Porto de Santos – uma das portas de entrada no país, chegavam a cidade de trem e foram se estabelecendo na região da Luz e Bom Retiro. Com o tempo, alguns grupos “atravessaram o rio” e passaram a ocupar a região de Santana e Imirim, na Zona Norte.
Comida e identidade étnica
A comida tem um papel importante na manutenção de uma consciência nacional e étnica de um povo, afinal é na mesa, que as tradições, os saberes e fazeres são transmitidos de geração para geração.
O Yeran Comida Armênia, dentro deste contexto, é um negócio familiar que teve início na casa da amável Yeran Garabedian Habib, no Jardim São Paulo. Ela, filha de armênios e nascida na Síria, para onde a família migrou, chegou ao Brasil com 19 anos ao lado do esposo – Hagop, onde imaginava que seria uma esposa e dona de casa, como outras tantas. Aos sábados, ela preparava almoços e reunia amigos, que com o tempo foram trazendo outros amigos.
A sala de jantar na residência do Jardim São Paulo ficou pequena e deu lugar ao salão do sobradinho em Santana, que em sua fachada ostenta o nome da cozinheira.
No pequeno corredor, que ladeia o salão, um concorridíssimo buffet por kilo durante o almoço permite que os “não iniciados” na gastronomia armênia, possam experimentar um pouco de tudo que a casa dispõe. No jantar, o serviço funciona “à la carte” – expressão francesa que significa “como está no cardápio”.
Confortáveis cadeiras no salão, com as tais paredes de cor azul – motivo de implicância de nosso amigo arquiteto, decoradas por quadros com passagens religiosas escritas em armênio, dá ao lugar um certo ar “je ne sais quois” – outra expressão francesa… que significa literalmente “eu não sei o quê”, quando sentimos que algo nos agrada, não importa o quê.
Visitamos o restaurante anonimamente, na primeira quinzena de agosto e pagamos a nossa conta. Nosso grupo era composto de quatro pessoas. Então não se assuste pela quantidade de comida consumida.
A cozinha de Yeran
Vamos esclarecer que a principal diferença entre a comida árabe e a armênia, é o tempero. Apesar de ingredientes em comum e alguns pratos semelhantes, na culinária armênia – que sofreu forte influência dos otomanos – predominam as ervas e temperos frescos.
Da cozinha da gentil Yeran Garabedian Habib, saem receitas de tradicionais da culinária Armênia, feitas de forma artesanal, como o precioso Bastrmá (pronuncia-se basturmá) uma carne curada armênia, de consistência e sabor marcantes, envolta em uma cobertura chamada tchemén, preparada com alho, pimenta preta, cominho e páprica.
No Yeran, o Bastrmá é servido com ovos mexidos – que realça o sabor da carne – e escoltados por pão sírio. Ou ainda, como entrada com temperos armênios e também no recheio de esfihas.
Falando em entradas, as versões armênias das pastas Babaganuch (pasta de beringela), Homus (pasta de grão de bico com tahini), Coalhada Seca, Djadjãh (coalhada fresca com pepinos) ou o Chanclique (uma pasta de ricota com temperos frescos), abrem deliciosamente o apetite.
Não deixe de provar o Mantã, uma espécie de massa fininha, recheadas com carne e em forma de mini trouxinhas. Ela é apresentada no formato de uma mandala em sua versão assada (acompanhada de coalhada seca temperada) ou ainda utilizada em sopas como a de coalhada ou em um saboroso caldo de vegetais. E ainda, no capítulo sopa, nos dias frios prove a perfumada “sopa de coalhada“, com pequenos kibes assados.
Charutinhos e Kibes
Bastante disputados, o Sarmá (charutinhos) de folha de uva ou repolho, recebem o aromático recheio de carne moída, arroz, tomates, cebolas, hortelã e temperos típicos armênios e o Chi Kofte – a versão armênia do kibe cru.
No Yeran também é encontrado na versão onde são usadas ervilhas ao invés de carne. Brilham ainda no cardápio, o kibe frito e o falafel…. tão bons que dispensam comentários.
Provamos também o correto Dolmá – abobrinha recheada com uma mistura de arroz, carne bovina moída, tomate e temperos (também na versão com berinjela).
Esfiha armênia
A lehmeyun (esfiha armênia) tem massa mais fina, dourada…. Destaque para a de Bastrmá com queijo na versão aberta. Bastante interessante, as versões carne e queijo com massa folhada, que chegam a mesa crocantes.
Se você é do team sanduba, o Yeran oferece em seu cardápio opções bastante interessantes, como o arais (pão sírio, carne moída com tempero típico armênio e mussarela, levados ao forno) ou ainda os Shawarma de Carne (filet mignon, tomates, cebolas com salsinhas, molho especial à base de tahine no pão sírio) e o de Falafel (falafel, salsinha, hortelã, picles, tomate, alface e molho especial de gergelim no pão sírio).
O arroz armênio, bastante perfumado, leva em seu preparo macarrão cabelo de anjo, amêndoas , pitada de canela e carne moída e vai muito bem com o kafta – que difere da árabe, por seus temperos e recebe como acompanhamento salada de alface, rúcula e tomates.
Serviço:
Yeran Culinária Armênia
- Rua Maria Curupaiti, 355 – Santana
- Telefone: 2971-0982
- Horário: almoço (12h às 15h)
- Ifood (apenas alguns itens do cardápio) – aqui