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da Redação DiárioZonaNorte
- O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) completou 90 anos
- Houve também apoio do arquivo de fotos dos Diários Associados/A. Chateaubriand
- O Centro de Memória Eleitoral – CEMEL é um difusor da memória político-eleitoral ao lado da cidadania e da democracia brasileira.
Como se perpetuou em vários momentos, “uma imagem vale por mil palavras”. Mais importante ainda são as 345 fotos em preto&branco em um documento histórico, no volumoso livro-álbum de 475 páginas, “Voto é Memória – a imagem da democracia brasileira em São Paulo – 1932-1965”. E mérito a mais, no momento, quando a democracia é aclamada com o povo nas ruas em ano de eleições e os 200 anos da Independência do Brasil.
Um importante documento histórico editado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) — criado em 25/05/1932 e completou neste ano os seus 90 anos de existência —, com apoio do Arquivo Público do Estado de São Paulo e da Imprensa Oficial do Governo de São Paulo.
Uma obra que teve um esforço coletivo durante seis meses e organizado por José D´Amico Bauab — que faz parte do TRE-SP há 32 anos — chefe do Centro de Memória Eleitoral (CEMEL), que incrementou a edição com muito trabalho em pesquisas, fotos e gráficos contando resultados de eleições e registros da democracia. “Só foi possível com a união de esforços dos colegas”, lembra Bauab.
O organizador e responsável pelo CEMEL explica que “o livro mostra como se constrói uma democracia e apresenta imagens raríssimas, com a atuação da própria Justiça Eleitoral, a partir das urnas de madeira e depois de lona. E, a partir dos anos de 1950, a implantação de cédula única, mesclando toda a movimentação política-partidária”.
““Voto é Memória” faz jus ao título e resgata imagens históricas de um tempo de iniciativas democráticas. Momentos importantes para o país e que mostra imagens de políticos, que muita gente até ouviu comentários, mas não chegou a vê-los em fotos. Um livro que deve fazer parte até de bibliotecas em escolas e faculdades para um amplo conhecimento, que vai além das citações rápidas em livros e salas de aulas.
Tudo começa na foto de capa que já mostra a dimensão da homenagem com a democracia e os momentos eleitorais. Um vale do Anhangabaú com gente por todos os lados, desde o Viaduto do Chá, ao fundo, até o da Santa Ifigênia, em primeiro plano. Ao abrir o livro, uma foto impacta com dezenas de centena rostos em frente a um discurso em palanque politico. Um registro marcante ao analisar cada rosto ali presente, imaginando o que se passava nas mentes.
O ciclo político em 33 anos
Duas cenas marcantes, que nos levam em outras fotos das histórias dos paulistanos à ascendência política mostrando dezesseis eleições, de 1932 a 1965. Nas palavras do Desembargador Carlos Eduardo Cauduro Padin, ex-presidente do TRE-SP — no cargo no período 2018/2019 — e o patrocinador na condução do livro, lembra logo na abertura: “o recorte do período registrado no livro não foi uma escolha aleatória, pelo contrário: o ano de 1932 marca a promulgação de uma legislação eleitoral pioneira, que trazia entre outras inovações, a criação da Justiça Eleitoral e a previsão do exercício do voto para mulheres, direito que viria a ser ampliado com o advento da Constituição Federal de 1934; e o ano de 1965, o estertor do regime democrático que ainda encontraria força institucional para uma derradeira eleição a prefeito da capital bandeirante”.
Os votos dos paulistas nos destinos do Brasil com eleições para presidentes e vice-presidentes da República, em 1945 e 1961, mais um referendo de 1963. E vão passando fotos de Eurico Gaspar Dutra, brigadeiro Eduardo Gomes e muitos outros nos dias da história. Entra no enredo, Getúlio Vargas, em campanha na cidade de São Paulo, ao lado de Adhemar de Barros. Surgem outros nomes, entre eles, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, que terão uma grande projeção na política brasileira.
Na época, as cédulas únicas, de papel, que foram usadas nas eleições presidenciais de 1955. No Pavilhão Internacional do Parque Ibirapuera, da época, era o local para a contagem de votos que levaram dias para se obter os resultados finais. Era um momento cansativo para os apuradores e de uma enorme expectativas para os que dependiam dos resultados. Voto a voto, contado e recontado – que ainda ficavam na dependência
Enquanto isto, no universo político daquele passado, surgem o senador Auro de Moura Andrade, Carlos Lacerda, Carvalho Pinto, Leonel Brizola e Magalhães Pinto. Um momento histórico foi organizado pela TRE-SP, em 6 de janeiro de 1963, com o “referendum” na convocação da população para decidir entre os regimes “presidencialista ou parlamentarismo”.
As eleições em São Paulo
O livro registra também as eleições para o governo de São Paulo, no período de 1947 a 1962. Nas páginas estampadas fotos de Lucas Nogueira Garcez e surge Prestes Maia. E fotos de eventos no Palácio dos Campos Elíseos, que era a sede do governo. E outras fotos de desfiles de 9 de Julho no Vale do Anhangabaú. E mais fotos dos protestos violentos no centro da cidade por causa da morte de Getúlio Vargas.
Dos bastidores das administrações e das faculdades, desponta um novo politico, Carvalho Pinto, que chegaria a ser eleito governador de São Paulo. Era uma época de filas enormes de eleitores na porta do TRE-SP para regularização de seus títulos. E, depois, outras enormes filas no dia da votação. Era o ato cívico no compromisso da democracia e o direito de votar.
Novo politico chega como candidato a vice-governador, Laudo Natel, que era alto executivo do Bradesco e dirigente do São Paulo Futebol Clube. Por outro lado, 25 anos depois do último prefeito eleito, aconteceram as eleições de 22 de março de 1953. O então deputado estadual Jânio Quadros, o mais votado no pleito de 1950, sagra-se o novo prefeito de São Paulo. Mais adiante, Jânio já estaria como governador.
Mas o TRE-SP está marcante sempre nos momentos decisivos das eleições. Em uma das fotos, o registro de funcionários com as “cédulas únicas” que passariam a ser também adotadas para as eleições aos cargos proporcionais. Em outras fotos já mostra a atuação de Adhemar de Barros em comícios. Logo em seguida, o prefeito Wladimir de Toledo Piza, e as fotos de Adhemar de Barros e Cantidio Sampaio, prefeito e vice-prefeito eleitos pela chapa pessepista.
Os eventos e os políticos
Imagens mostram festividades no Estádio do Pacaembu nos 25 anos da Revolução Constitucionalista e da chegada da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Noutra, o em pé no conversível do governo — durante desfile de 9 de Julho de 1957, no Vale do Anhangabaú. Festa com holofotes e desfile militar, com multidão em vários pontos do Anhangabaú e no Viaduto do Chá.
Numa época que não havia internet e nem celular, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) instalava barracas no centro da cidade como centro de informações aos eleitores. Tudo era mais difícil, mas reinava o ambiente democrático. Na sede do TRE-SP, na retaguarda, um serviço com informações via telefone. Vários esforços em benefício dos eleitores e com apoio para as eleições que sempre tiveram êxito.
Mais fotos de comícios e aparecem o famoso símbolo janista, com o povo empunhando “vassouras” em comícios. Políticos em frente às câmeras de televisão, na maioria em entrevistas “ao vivo”. E outros flagrantes de vários políticos votando, colocando a cédula na urna, ou saindo da verdadeira “cabine indevassável”, montada de papelão e lona. Depois, imagens nos momentos de apuração no Pavilhão do Parque do Ibirapuera.
Em busca da Prefeitura de São Paulo
Quase no final do livro, o prefeito eleito, Preste Maia, e o vice, Freitas Nobre, recebem os cargos em sessão solene na Câmara Municipal. E já aparece o título “Os derradeiros suspiro democrático”, com as eleições de 21 de março de 1965. Foi as eleições para a Prefeitura de São Paulo mais concorrida, até então, com oito candidatos “de peso”
Com os direitos políticos suspensos, Jânio Quadros acabou apoiando a candidatura de Faria Lima, após a gestão de Prestes Maia — mais adiante uma foto da transmissão de cargo no quarto do hospital e alguns após veio a morte do ex-prefeito. E surge Paulo Egydio, apoiado pelos militares, que chega ao governo de São Paulo. E uma imagem aberta mostrando vários corredores com as urnas lacradas no depósito do TRE-SP no bairro da Vila Leopoldina.
Na últimas páginas, uma justa homenagem ao poeta Paulo Bomfim (1926-2019), idealizador e criador do Centro de Memória Eleitoral (CEMEL), do Tribunal Regional Eleitoral de SãoPaulo (TRE-SP. Paulo Bomfim esteve presente e declamou um poema especial — reproduzido no livro. Com muitas fotos em 28 páginas, o livro estampa vários momentos de registro com o poeta e cidadão paulistano.
Ainda com fôlego, o livro-documento “Voto é Memória” apresenta um Adendo Ensaístico, com abertura em 15 páginas ilustradas com fotos e texto de José D´Amico Bauab, com o título “Constituinte Paulista de 1935, a aurora democrática do inverno varguista”, com um olhar social e politico. Com “O rinoceronte em nós”, o especialista em Direito Público, Luiz Alexandre Kikuchi Negrão, nos leva ao fenômeno das eleições de 1959 que o rinoceronte conhecido como Cacareco foi o mais votado. Ja sobre texto-ensaio sobre “Plinio Barreto, o devoto da democracia e a Justiça Eleitoral”, de José D´Amico Bauab, um texto de abertura de nada mais e nada menos que o jurista Dalmo de Abreu Dallari. E para fechar, o texto da jornalista e mestre em Ciência Politica, Viviane Cezarino, com “A longa noite: a heróica resistência do parlamento paulista pós-1964“. Texto recheados de fotos — onde aparecem outros políticos, como Paulo Maluf.
E para fechar esse texto, destacamos uma frase destacada pelo Desembargador Carlos Eduardo Cauduro Padin, na época presidente do TRE-SP, que encaixa em todos os sentidos ao propósito do livro: “Hoje, livros são escritos para contar como morrem as democracias. Este livro, ao contrário, narra como nasceu uma democracia e se plantou uma semente de esperança no Brasil”.
Cópia integral do livro em PDF pode ser acessada no link especial — clique aqui
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Centro de Memória Eleitoral – CEMEL — O Centro de Memória Eleitoral do TRE-SP foi criado em 12 de agosto de 1999 (há 23 anos) e tem por objetivo a execução de ações que possibilitem cultivar e difundir a memória político-eleitoral como instrumento eficaz do aprofundamento e alargamento da consciência de cidadania, em prol do aperfeiçoamento do regime democrático brasileiro. Seu acervo reúne títulos eleitorais desde a época do Império, urnas de votação (de madeira, de lona e eletrônicas), quadros, fotografias e material audiovisual, entre outros itens. A realização de exposições temáticas, o lançamento de livros, a realização de palestras, além de visitas escolares monitoradas na sede do tribunal e o desenvolvimento de um projeto de história oral, são algumas das iniciativas do CEMEL. Informações: [email protected]
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