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Padre Landell, um gênio brasileiro que foi esquecido como inventor pioneiro do rádio

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da Redação DiárioZonaNorte

“Toquem o Hino Nacional !”, com essa frase realizou-se o primeiro teste de transmissão de rádio sem fio. À frente da experiência, o padre e cientista gaúcho Roberto Landell de Moura (1861/1928), diretamente do Colégio Santana, na Zona Norte da cidade — ao lado do Mirante de Santana/Jardim São Paulo –, com transmissão do audio até a Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras), a cerca de quatro quilômetros de distância.

Foi uma demonstração pública, com convidados e personalidades especiais — incluindo o Cônsul britânico –, que aconteceu em 16 de julho de 1899. Ali estava a demonstração autêntica e real de um gênio brasileiro esquecido na história, que nunca foi valorizado e incentivado, mas que ficou à frente dos inventores internacionais. Foram duas demonstrações públicas — a segunda, em 03 de junho de 1900, foi do Colégio Santana até Av.Paulista, com oito quilômetros.

Nos 123 anos da transmissão pioneira das ondas de rádio, hoje o invento do Padre Landell chega indiretamente às mãos de jovens e adolescentes  do mundo todo –– além de executivos e de modo geral —  que desfrutam da sequência e do progresso tecnológico de um invento brasileiro. Muitos dos usuários nem tem o conhecimento do inventor e de sua história.  As comunicações deram um enorme salto até chegar na tecnologia moderna. E quem contribuiu foi Padre Landell, que com seus experimentos impulsionou o mundo moderno que vivemos.

Até mesmo rememorando o passado na evolução nas comunicações na época do Flash Gordon, como exemplo, nota-se as ideias da época e antecipação do que viria a acontecer. Tudo hoje é mais fácil nas comunicações do consumo de acontecimentos e notícias, em questões de segundos, até as conferências e eventos, ao vivo, a quilômetros de distância dos locais, do outro lado do mundo. O rádio deixou a época do período inicial em transmissões de AM e Ondas Curtas, que possibilitaram a integração do país e incentivaram o progresso. Além da Frequência Modulada (FM), em audio estéreo, abriu também as portas para rádios comunitárias.

O mundo não é mais o mesmo! E a tendência é sempre na evolução nos meios de comunicação. Hoje o “smartphone” é sinônimo de “estar ligado ao mundo e a todos”. Da evolução do telégrafo à transmissão de som e imagens instantâneas. As transmissões radiofônicas possibilitaram um mundo novo de informações e de lazer. Ele evoluiu muito e hoje chega a ser transmitido dos estúdios “ao vivo” para telespectadores via internet, YouTube e outras plataformas.

O início de tudo

Dos primórdios até os dias de hoje — neste ano, aproveitando as comemorações aos 100 anos do inicio da primeira emissora de rádio no Brasil, que acontecerá em 7 de setembro –, com um texto muito bem escrito, leve e solto, entremeado de muitas pesquisas e informações com dados das épocas, o recém lançado livro “Padre Landell – O brasileiro que inventou o wireless”.

Em uma boa apresentação de 344 páginas e  extremamente bem editado pela Editora Insular,  chega ao mercado com a chancela do jornalista Hamilton Almeida, que levou mais de 15 anos para concebê-lo — na sequência do livro “Padre Landell de Moura – Um herói sem glória”, lançado em maio de 2006, com 322 páginas, pela Editora Record.

Bem ao estilo jornalístico, o autor foi a fundo clareando ainda mais a vida e os inventos do Padre Landell, mostrando no mesmo compasso o desenrolar da história do Brasil e de outros inventores da época. Um volume com 20 capítulos recheados de muitos informações inéditas, a biografia mais aprofundada do Padre Landell e outras histórias paralelas e 23 páginas de fontes/bibliografia — até um capítulo sobre o inventor servo-croata Nikola Tesla.

O inventor brasileiro que transmitiu os sons e registrou as patentes, mas ficou sem progredir com os inventos, foi ultrapassado pelo italiano Guglielmo Marconi (1874/1937). O que ficou demonstrado é que Landell tinha os méritos e Marconi a glória.  Até por uma incoerência histórica, Marconi chegou até a ganhar, em 1909, o Prêmio Nobel de Física pelo desenvolvimento da radiotelegrafia. Virou empresário com os inventos, ganhou mercados e chegou a vender por bons valores as patentes a outras empresas.

No livro é transcrito um trecho de uma reportagem com um desabafo: ” Mas o que convém registrar é que essas invenções, uma vez avassalando o mundo e dando margem ao acúmulo de poderosos interesses, são de um brasileiro, de um filho desta Pátria, onde, infelizmente, só se adota e se admira o que é dos outros, havendo sempre a lamentável indiferença de não darmos o natural e devido apreço ao que é legitimamente nosso“.

Com pesquisas aprofundadas e minúcias na biografia de Padre Landell, desde seu nascimento até a sua morte, o autor do livro vasculha e estuda há mais de 40 anos  os caminhos percorridos pelo inventor brasileiro, buscando ampla divulgação e merecimento às suas invenções.

O fim triste do Padre Landell ocorreu no final  da tarde de 30 de junho de 1928, aos 67 anos, sem reconhecimento e desiludido com tudo que fez em benefício da humanidade. No atestado médico, a simplicidade de sua vida, na época: “Não possuía filhos. Não era eleitor. Não deixou testamento conhecido. Não deixou bens a inventariar“.

Um roteiro completo e histórico

Um livro com cerca de 90 mil palavras, fartamente documentado com passagens históricas em fotos, desenhos, croquis, diagramas, cartas, recortes de noticias de jornais americanos e brasileiros —  e até cópia integral do original da patente brasileira do rádio.

O autor do livro foi longe, viajando para os Estados Unidos e Itália, buscando pesquisa e informações nas fontes originais; além dos caminhos seguidos pelo Padre Landell em São Paulo, Santos, Campinas, Mogi das Cruzes, Taubaté, Botucatu, Caconde e Porto Alegre. Até as 113 notas de “pé de página” são de grande relevância e informações complementares de pesquisas, que produziriam roteiro para outro livro.

No final, o incansável Hamilton Almeida lembra: “A pesquisa e a escrita de Padre Landell: o brasileiro que inventou o wireless consumiram incontáveis dias e noites, dezenas de anos de maturação. Estudar, pesquisar, escrever, lutar… enfim, pela causa Landell, nunca foi uma batalha perdida“.

Deste livro completo sobre o Padre Landell, seus inventos e sua época, é de um grande e importante valor histórico para reconhecimento a um brasileiro que lutou muito pelas suas ideias e inventos, sem nenhuma ajuda de governo, autoridades e de outros setores. E como pede o autor, “tanto que o dia 16 de julho merece figurar no calendário da história mundial do rádio e das telecomunicações“.

Os livros de Hamilton Almeida demonstram um verdadeiro roteiro para a produção de um filme ou documentário com a história do padre-cientista que inventou o rádio e abriu o universo das telecomunicações, com vários esboços de inventos, como televisão, controle remoto e outros.  E, por outro lado, merecem ser difundidos junto a estudantes de comunicação, faculdades de ciências e tecnologia, empresas de telecomunicações, nas escolas públicas e ampliar sua divulgação de um modo geral. Um excelente livro para ser lido e amplamente divulgado.


O autor

Hamilton Almeida é jornalista. Começou a pesquisar as façanhas do Padre Landell ainda estudante na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em 1976, aula de radiojornalismo. Não parou mais até esculpir esta obra-mestra. Iniciou a carreira profissional em São Paulo, como repórter da agência Telenotícias, do Grupo Visão. Em Porto Alegre, foi repórter de economia do jornal Zero Hora por mais de uma década. Em Buenos Aires, correspondente de ZH e, depois, da Gazeta Mercantil Latino-Americana, além de colunista da revista Imprensa e colaborador da rádio BBC, de Londres, para assuntos de economia. Investigações na capital do país vizinho levaram à escrita de Sob os olhos de Perón: o Brasil de Vargas e as relações com a Argentina (Record, 2005). De volta ao Brasil, atuou na CDN Comunicação e é colaborador da revista Química e Derivados. //  Livros anteriores publicados sobre Padre Landell: 1. O outro lado das telecomunicações –A saga do Pe. Landell(Sulina, 1983); 2. Landell de Moura – Coleção Esses Gaúchos  (Tchê/RBS, 1984); 3.  Pater und Wissenschaftler (Debras Verlag, 2004); e 4. Padre Landell de Moura – Um herói sem glória  (Record, 2006)


Padre Landell, o brasileiro que inventou o wireless

  • Autor: Hamilton Almeida
  • Edição: Nélson Rolim de Moura
  • Revisão: Estúdio Insular
  • Planejamento gráfico e capa: Ayrton Cruz
  • Edição: 2022 (1a. edição)
  • Formato: brochura
  • Páginas: 344
  • Custo: R$64,00
  • Pedido/comprar: clique aqui
  • Editora: Insular (Florianópolis-SC)
  • Telefone: (48) 3334.2729
  • Site: www.insular.com.br
  • E-mail: [email protected]

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