beleza
por Toninho Macedo (*)
Nesta semana, em meio a este verdadeiro bombardeio de verdadeiros abusos “cometidos” sob a cobertura de uma “falsa arte”, encontrei alento em Faulkner.
William Faulkner – Escritor norte-americano (Setembro 1897- Junho 1962). Seus primeiros 30 anos de vida foram marcados por derrotas e instabilidade, até que descobriu a vereda da Literatura, que o conduziu, em 1949 à láurea do Prêmio Nobel de Literatura. Em seu belo e sintético discurso, de cujo teor me apropriei, quando da aceitação do referido prêmio, Faulkner nos dá uma lição sobre como “os artistas nos ajudam a viver”. Ou deveriam fazê-lo.
Assim começou o mesmo:
“Senhoras e senhores, sinto que este prêmio não foi concedido a mim enquanto homem, mas a meu trabalho ? o trabalho de uma vida na angústia e no sofrimento do espírito humano, não pela glória e menos ainda para obter lucro, mas para criar dos materiais do espírito humano algo que não existia antes. Assim, este prêmio está tão somente sob minha custódia.”
Em outro trecho concita os novos escritores a retomarem a rota do coração humano em conflito consigo mesmo, a deixar espaço em seu trabalho
“… senão para as velhas verdades e truísmos do coração, as velhas verdades universais sem as quais qualquer história torna-se efêmera e condenada ? amor e honra e piedade e orgulho e compaixão e sacrifício.”
Isto pode soar como uma condenação num universo em predominantemente não se tem escrito:
“…sobre amor, mas sobre luxúria, sobre derrotas em que ninguém perde nada de valor, sobre vitórias sem esperança e, o pior de tudo, sem piedade e compaixão. Sua atribulação não aflige ossos universais, não deixa cicatrizes. Ele escreve não a partir do coração, mas das glândulas.”
Isto soa como se estivéssemos observando o fim do homem.
Até que reaprenda estas coisas, ele, o artista irá escrever como se compartisse e observasse o fim do homem. E acrescenta:
“Eu me recuso a aceitar isto. Creio que o homem não irá meramente perdurar: ele triunfará. Ele é imortal, não porque dentre as criaturas tem ele uma voz inexaurível, mas porque ele tem uma alma, um espírito capaz de compaixão e sacrifício e resistência.
O dever do poeta, do escritor, é escrever sobre essas coisas.
É seu privilégio ajudar o homem a resistir erguendo seu coração, a recobrar a coragem e honra e esperança e orgulho e compaixão e piedade e sacrifício que têm sido a glória do seu passado.
A voz do poeta necessita ser não meramente o registro e testemunho do homem. Ela pode ser uma das escoras, o pilar para ajudá-lo a subsistir e prevalecer.”
Este deve ser dever, não só do artista, e sim dos cidadãos e humanos em geral.
Vamos ler e reler.
(*) Toninho Macedo — Por trás do conhecido Toninho Macedo, há o cidadão Antonio Teixeira de Macedo Neto, que conduziu grandes festivais de cultura e de folclore culminando no maior Festival de Cultura Paulista Tradicional, o “Revelando São Paulo“ – criado em 1996 –, por seis edições memoráveis na Zona Norte (Vila Guilherme, em 2010 a 2014 e 2017/2018), além do interior e litoral. Nele há também muita experiência e inteligência, que vem da graduação em Licenciatura Plenas em Letras Neo-Latinas (1972) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo-USP (2004). Atualmente é diretor cultural e artístico da Abaçai Cultura e Arte, além de gerir Museu da Inclusão e a Fazenda São Bernardo, fundada em 1881 em Rafard (interior de São Paulo), onde Tarsila do Amaral nasceu e passou a infância — saiba mais clicando aqui
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