bergman
<<Crítica/Filme>> – por Aguinaldo Gabarrão (*)
O cineasta sueco Ingmar Bergman (1918 – 2007), dirigiu 56 filmes e 170 peças ao longo dos seus 89 anos. Foi casado cinco vezes e pai de nove filhos. Com esse singelo resumo de uma vida longa, é para se perguntar: como esse homem, apesar de tantas uniões – algumas extraconjugais –, filhos e compromissos comuns a qualquer mortal, encontrou tempo para escrever, produzir e dirigir em quantidade e qualidade?
Essa mesma pergunta é feita pela personagem Chris (Vicky Krieps), uma roteirista em crise criativa. Ela viaja com seu marido, o bem sucedido cineasta Tony (Tim Roth), para a ilha de Faro, lugar que serviu de residência e locação para algumas das obras icônicas de Bergman. Naquele ambiente repleto de referências fílmicas do genial diretor, Chris buscará seus caminhos artísticos.
O roteiro e direção de Mia Hansen-Løve tem delicadeza na maneira de conduzir os dilemas de Chris e sutilmente apresenta um curioso paralelismo: Chris sofre interiormente para criar, estando ela em locais e ambientes que foram habitados por Bergman, quando este após uma séria crise existencial e artística, consegue por meio do filme Persona (1966), reencontrar-se como diretor.
Uma história dentro de outra história
Em seu desejo de encontrar o fio da meada que permita a ela sair dessa crise artística, Chris tem embates pontuais com o marido sobre processos de criação, mas que parecem caminhar para outra possibilidade de insatisfação. E talvez neste ponto, o roteiro deixa uma lacuna: a crise não estaria também instalada na relação afetiva do casal?
Mas a diretora Hansen-Løve não avança neste caminho e concentra maior atenção à história paralela, fruto do processo criativo de Chris: uma jovem viaja para um casamento numa ilha e reencontra seu antigo amor. É a ideia da metalinguagem. O cinema dentro do cinema. Assim nesta outra porta que se abre, a jovem que viaja para a ilha, é o alter ego de Chris, igualmente em busca de um caminho.
A Ilha de Bergman, título homônimo ao documentário de 2004 sobre a vida do cineasta, é um filme belo e inconclusivo, pois sua maior qualidade, a simbiose entre fantasia e realidade como elementos importantes da criação artística, não convergem com força até o final.
Assista ao trailer, clique na imagem:
Serviço:
A ILHA DE BERGMAN – Bergman Island
- Gênero: Drama
- País: França, Bélgica, Alemanha, Suécia, México
- Classificação: 14 anos
- Ano: 2021
- Duração: 153 minutos
Ficha técnica
- Direção e Roteiro: Mia Hansen-Løve
- Elenco: Vicky Krieps, Tim Roth, Mia Wasikowska, Anders Danielsen Lie, Hampus Nordenson
- Direção de Fotografia: Denis Lenoir
- Produção: Rodrigo Teixeira, Charles Gillibert, Erik Hemmendorff
- Desenho de Produção: Mikael Varhelyi
- Montagem: Marion Monnier
- Distribuição: Pandora Filmes
- Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.