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Há 117 anos 128 contos de réis deram início ao Tucuruvi

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da Redação DiárioZonaNorte

O  bairro do Tucuruvi completa 117 anos de história neste sábado (24out2020). A palavra Tucuruvi  tem origem na língua tupi e significa “gafanhoto verde”, através da junção dos termos tukura (gafanhoto) e oby(verde).

O gafanhoto é a mascote da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, localizada no distrito.

O início

O primeiro núcleo de povoamento da área  foi criado em 1903, quando o inglês William Harding comprou terrenos na região, formando o  bairro  Parada Inglesa.

Um pouco mais adiante das terras da  Parada Inglesa, o  então Sítio Pedregulho pertencente a Bento Ribeiro da Silva, foi vendido para  Mariano Antônio Pedro por 128 contos de réis.

Esta mesma propriedade foi revendida para Ignácio Joaquim por 158 contos de réis e passou a se chamar Sítio Lavrinhas, sendo posteriormente herdada por  Claudino Ignácio Joaquim que, em 1914 vendeu as terras para o italiano Henrique Mazzei.

Os primeiros loteamentos

Mazzei então, dividiu o sítio em loteamentos dos 500 000 metros quadrados em lotes de dez por quarenta metros e dez por cinquenta metros, ocupados por pomares e jardins que aproveitavam o declive acentuado dessa região, vendendo-os em pequenas prestações.  O loteamento deu início a Vila Mazzei.

Em terreno cedido pelos Mazzei, foi iniciada, em 1918, a construção da Igreja Menino Jesus, na atual avenida Mazzei.   O distrito manteve aspectos rurais durante muito tempo.

O mesmo Henrique Mazzei  foi contratado pela família Medeiros para o  trabalho de arruamento e loteamento de um novo bairro que viria a ser a Vila Medeiros, fundada oficialmente  em  11 de outubro de 1912.

Tramway da  Cantareira

Tramway Cantareira ligava o Centro até a Serra da Cantareira, desenvolvendo o distrito em torno de suas estações. Este trem era um dos únicos meios de transporte dos moradores do distrito até a década de 1960.

Anteriormente denominado Cantareira, a área foi desmembrada  do distrito de Santana, pela Lei 2.104 de 29 de dezembro de 1925.

Só em 1934 o distrito da Cantareira passou oficialmente a denominar-se distrito do Tucuruvi, com sede no bairro Tremembé, ocupando uma área de 89 quilômetros quadrados.

Foi por meio da articulação dos moradores Manuel Gomes,  João Gualberto de Almeida Pires, Manoel Tomé Novaes e o capitão Ary Gomes que a a sede foi transferida do Tremembé para o Tucuruvi  e com  ela,  a mudança de sua denominação para subdistrito de Tucuruvi, através do Decreto 6.618, de 21 de agosto de 1934.

Em prédio próprio situado na avenida Tucuruvi, 47-A, foi instalado o juizado de paz, registro civil e tabelionato. O primeiro casamento registrado foi o de Antônio Francisco Alves e Cesária de Abreu, no dia 1° de setembro de 1934. O juiz de Paz foi Manuel Pereira Gomes.

Tucuruvi de ontem, bons tempos aqueles
Por  Paulo Sérgio de Freitas

” Nasci em janeiro de 1955, na Maternidade São Paulo. Aliás, quase todo mundo nascia lá. Passei minha infância no bairro do Tucuruvi.

Do meu pai, Seu João Freitas, me lembro como se fosse hoje. Ele voltando para casa, ao final da madrugada, e logo se via que estava chegando, devido ao movimento alegre dos cães e gatos que o esperavam no ponto do ônibus.

Meu pai trazia saquinhos de papel cheios de carnes que pegava da Churrascaria Argentina, onde trabalhava como garçom, e distribuía aos bichinhos que o esperavam.

Imaginem a cena: os cães e gatos caminhando em sua volta, brincando e pulando, todos se fartando da generosidade do meu bom e velho pai, e o acompanhavam até em casa.

Pela manhã, eu e meus irmãos acordávamos e tinha pizza fria no café da manhã, que ele também trazia do trabalho.

Ah, nunca me esqueço disso, e cultivo esse prazer da pizza fria até hoje! Imagine só: um garçom que sustentou onze filhos, sem nunca nos faltar nada. Bons tempos aqueles… Que ser humano maravilhoso foi meu pai!

Eu, moleque de tudo, brincava de bolinha de gude, mão na mula, mãe da rua, empinávamos papagaio (não havia cerol e a luta para laçar os outros papagaios era mais justa, e menos perigosa); lembro-me de uma barraca que ganhei de meu pai que, de tão grande, tinha que empinar com cordonet, se não a linha arrebentava.

Brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, e comíamos os coquinhos que caíam de dois enormes coqueiros que tinha na casa em frente à minha. Hummm, que delícia, aquela polpa amarelinha por fora e com um minúsculo coco por dentro da casca, que quebrávamos com uma pedra para tirá-la!

Lembro-me bem quando meu pai comprou nossa primeira televisão, uma Telefunkem, e virou televizinho: todos os nossos vizinhos vinham assistir em casa, principalmente na hora da novela da época – Redenção.

A rua onde morávamos, Rua Enótria, perto da Igreja do Menino Jesus do Tucuruvi, não tinha calçamento. A minha mãe odiava isso – também, veio da Rua Clélia, na Lapa, e morava no mesmo prédio onde hoje é o Olímpia, e naquela época era o Cine Nacional.

Porém, eu me divertia muito, e foi por minha causa que meu pai resolveu se mudar, pra que eu, com quatro anos de idade, não atravessasse a Rua Clélia sozinho, pois pegava as chaves de casa, no bolso do avental da minha mãe e saía às escondidas.

As casas em Tucuruvi não tinham grades, não tinham muros altos e eram raras as que tinham garagem. O pessoal andava a pé e de ônibus; nem metrô tinha, e o ônibus ia até a Praça do Correio.

Todos se conheciam e, como se dizia na época, “São Paulo é uma cidade que produz, de dia falta água, de noite falta luz”. Com essa falta d’água, tínhamos que nos socorrer com uma vizinha, onde íamos buscar água no poço, e essa maratona de todos na casa dela era feita com muita alegria – ao menos por nós crianças.

As noites sem luz eram alegradas pela grande maioria dos vizinhos sentados em frente as suas casas, com as cadeiras na calçada conversando amenidades, e nós, as crianças, adorávamos aquela falta de luz, pois, assim, podíamos ficar brincando até tarde da noite sem que nossas mães nos chamassem para tomar banho e jantar.

O lixeiro era uma carroça, puxada a cavalos, e as latas de lixo eram latas mesmo, que os catadores despejavam dentro da carroça; não havia garrafa pet e nem sacos plásticos. As compras vinham em saquinhos de papel; o pão era, na maioria das vezes, uma bengala ou um filão, e o leite vinha em garrafa de vidro com tampinha de alumínio.

As quartas-feiras eram dias de feira, onde se comprava de tudo, tudo mesmo; não havia supermercados, e as compras dos demais mantimentos eram feitas na venda e anotadas na caderneta, que eram pagas de quando em quando pela minha mãe.

Aos domingos, íamos à missa na Igreja do Menino Jesus do Tucuruvi. Quem não fosse à missa não ia à matinê no Cine Valparaíso ou no Cine Tucuruvi.

Ah, bons tempos aqueles no Tucuruvi!”

(História de Paulo Sérgio de Freitas em 03/09/2008 = “Nossos Bairros, Nossas Vidas” – “São Paulo, Minha Cidade” – SP Turis )

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