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da Redação DiárioZonaNorte
Nesta 5ª feira (14/09/2023), o bairro do Jaçanã completa 153 anos de histórias. Os primeiros registros sobre o distrito datam de 1870, quando com muito sacrifício e suor no meio das estradinhas de terra do antigo lugar chamado Uroguapira (terra que tem ouro em tupi), vieram os que procuravam ouro e nada encontraram.
Com o tempo a região passou a se chamar somente Guapira. Em 1934, os irmãos Manoel e Henrique Mazzei – os mesmos que dão nome a Vila Mazzei e a outros tantos locais da Zona Norte –, lotearam grandes glebas de terra desmembrando a fazenda.
Assim, foram surgindo pequenas chácaras que criavam porcos e galinhas e produziam frutas e hortaliças, além de casas que foram sendo construídas nos entornos. Depois foram abertos pequenos comércios (farmácia, padaria e outros) e depois igreja, escolas e posto médico.
O nome Jaçanã foi oficializado em 1930, por causa da ave da época com o mesmo nome e que era característica em grandes proporções na região. Da lembrança da velha fazenda, a principal avenida que corta o bairro e o primeiro clube social e de futebol de campo da região (inaugurado em 1918), receberam o nome de Guapira.
Hollywood é aqui
O Jaçanã teve uma importante participação no cenário cinematográfico brasileiro. O bairro foi escolhido, por volta de 1950, pelo cineasta Mario Audrá Junior (conhecido como Marinho), para sediar a Cinematográfica Maristela.
Os estúdios da Maristela ficavam no final da Rua Francisco Rodrigues – próximo ao terreno onde a indústria de tijolos Aremina retirava argila para a fabricação de seus produtos. A área ocupada tinha 18.000 m² de área onde passaram a funcionar 4 estúdios de 40m X 25m com 15m de pé direito arredondado, carpintaria e marcenaria, restaurante, alojamento para 40 pessoas.
Foram 60 filmes em 10 anos de existência. Ali foram rodados filmes com Mazzaropi, Procópio Ferreira e Regina Duarte. Adoniran Barbosa atuou em produções da Maristela e ia para os estúdios no Tramway da Cantareira, até a estação do Jaçanã, a poucas quadras do estúdio.
Tramway da Cantareira – mas pode chamar de Trem das Onze
E o trajeto inspirou Adoniran a compor a música que deixaria o bairro mundialmente famoso: Trem das Onze.
O Tramway da Cantareira – que saia do Pari com destino à Cantareira e operava um ramal que saia do Carandiru e ia até Cumbica, em Guarulhos – que incialmente transportava material de construção de uma adutora para fornecimento de água à cidade e posteriormente passageiros – permitiu que a povoação da região ganhasse impulso. O Tramway da Cantareira e seu ramal funcionaram de 1895 até 1965.
O leprosário que virou hospital
E os anos passaram e, por ter bom um clima de serra, a região era excelente para asilos, sanatórios e clínicas de saúde. O lugar passou a ser referência hospitalar. Em 1904, surge o Leprosário Guapira, da Irmandade da Santa Casa de Misericórida de São Paulo, em uma área de 160 alqueires, junto ao Sítio Guapira.
Com o tempo, o prédio projetado pelo arquiteto Victor Andrigo e finalizado pelo engenheiro Ramos de Azevedo recebeu outros seis nomes inicialmente para doentes de hanseníase e depois de tuberculose.
Em 1932, o local passou a se chamar Hospital São Luiz Gonzaga. Houve novas construções de alas e especialidades médicas durante anos seguintes. Em 1968 já era um hospital geral. Mas dois anos depois, em 1970, após uma crise financeira, o hospital foi desativado — retornando às suas atividades, em 1988.
Nos dias atuais, o hospital da região continua atendendo os moradores do Jaçanã, Tremembé e demais bairros da Zona Norte – e até de municípios próximos, como Guarulhos e Mairiporã – e estar no atendimento de acidentes das rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra.
O São Luiz Gonzaga guarda alguns tesouros artísticos em suas dependências. Obras da pintora Tarcila do Amaral, Alfredo Volpi, Claúdio Felipe Bonadei, Francisco Rebolo e o artista romeno Samson Flexor . 151 151 151 151
Asylo antes e agora hospital geriátrico
E os anos passaram e, por ter bom um clima de serra, a região era excelente para asilos, sanatórios e clínicas de saúde. E Guapira passou a ser referência hospitalar. Em seguida, veio a inauguração em 1911 do Asylo de Inválidos, também com a direção da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Chegou abrigar 600 pacientes.
Em 2005, foi transformado em Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II, e além de continuar abrigando a população de enfermos sem possibilidade de alta médica, passou a prestar assistência médica e multidisciplinar especializada em geriatria, além de ser pólo de ensino e pesquisa na mesma área.
Hoje tem capacidade para abrigar 225 pacientes e oferece serviços especializados em geriatria e cuidados prolongados com atendimento médico e de enfermagem 24 horas, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, nutrição, dentista, serviço social, psicologia e um ambulatório externo que oferece atendimento à comunidade local.
Esse hospital geriátrico passou a ser uma das mais antigas instituições assistenciais e hospitalares em funcionamento em São Paulo, cujo modelo de atendimento público, especialmente à população carente, marcou a história do desenvolvimento da região e da cidade.
As ruas do Jaçanã
O Arquivo Histórico Municipal/Secretaria Municipal da Cultura, da Prefeitura da Cidade de São Paulo, não registra o histórico de muitas vias do bairro do Jaçanã. entre elas, encontramos:
Avenida Guapira
Guapira, além de ser a curruptela do nome Uroguapira, também era o nome de um pequeno rio que desaguava no Rio Cabuçú, na divisa entre São Paulo e Guarulhos e, também, identificava toda a região que hoje conhecemos como Jaçanã.
Desde os primórdios de São Paulo de Piratininga, o Guapira era trilhado pelos bandeirantes e sertanistas que seguiam rumo ao Cabuçu na antiga Freguesia da Conceição dos Guarulhos e daí, para Mairoporã, Atibaia e Minas Gerais. A trilha ou estrada por eles utilizada era, desde aquela época, chamada de Estrada do Guapira. Na língua Tupi, Guapira significa “começo do vale” ou “as cabeceiras, as nascentes”, geralmente de um rio.
O Mapa Oficial da cidade de 1927 informava os limites da Estrada do Guapira: “começava na Estrada da Cantareira e terminava na Estrada de Vila Galvão“. E como “estrada” ela permaneceu até 1961 quando, então, o Decreto nº 5.237 de 08/11/1961, atribuiu-lhe a condição de Avenida.
No ano de 1970, através da Lei nº 7.581 de 31/12/1970, foi autorizada a alteração de sua denominação, fato este que se concretizou em 1971 (Decreto nº 9.745 de 08/12/1971) quando ela passou a denominar-se Av. Dra. Diva Chaves de Faria. Poucos meses depois, através da Lei nº 7.713 de 23 de Março de 1972, este logradouro voltou a se chamar Av. Guapira. 151
Avenida Luiz Stamatis
Prof. Dr. Luiz Stamatis, nasceu em 6 de janeiro de 1886. Pioneiro da Odontologia no Brasil, foi dentista-chefe da Guarda Civil de São Paulo, benfeitor da Cruz Vermelha Brasileira, benemérito da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas do Sindicato de Odontologistas de São Paulo, foi diretor de diversas instituições.
Ex-assistente de Ortondontia e Odontopediatria da Faculdade de Farmácia e Odontologia; ex-professor do curso de repetições do Externato Moura Santos; Examinador de Concurso da faculdade Nacional da Universidade do Rio de Janeiro e da faculdade de Medicina de Porto Alegre; sócio honorário do Instituto Brasileiro de Estomatologia, do Centro Odontológico Mineiro e do Centro Acadêmico Mineiro; Sindicato de Odontológicos de Porto Alegre; benemérito da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas e Diretor da Revista Odontológica Brasileira. Faleceu em 01 de novembro de 1957.
Rua Michel Ouchana
Michel Ouchana nasceu em 4 de julho de 1904 e veio para Brasil em 1924 (os registros da justificativa para que seu nome fosse dado a uma rua do bairro, não indicam seu país de origem). Radicou-se no Jaçanã e junto com seus irmãos fundou a Indústria Têxtil Irmãos Ouchana, que chegou a empregar cerca de 500 pessoas.
Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, naturais de quem empreende em um negócio, Ouchana distribuia diariamente aos necessitados do bairro, pão e leite. Também “calçou” várias ruas do bairro, na época que o asfaltamento da região não constava nos planos da Prefeitura. Atendia em uma sala aqueles que necessitavam de apoio moral e muitas vezes financeiro. Faleceu em janeiro de 1967. Michel Ouchana dá nome a rua onde encontra-se o Hospital São Luiz Gonzaga.
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