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da Redação DiárioZonaNorte
- O fundador da Vila Guilherme era um rico e visionário empresário carioca
- As ruas do bairro receberam nomes de parentes e amigos do Sr. Guilherme
- A primeira obra no bairro foi a Paróquia São Sebastião da Vila Guilherme
Quem foi um tal de Sr. Guilherme na Zona Norte? Nada mais e nada menos que o fundador de um bairro que tinha projetos para uma cidade, na Zona Norte de São Paulo. Um empresário com uma grande visão que comprou terras e nela colocou serviços básicos para a qualidade de vida aos seus moradores: escola. igreja, farmácia, padaria, olaria e outros. Tudo isto aconteceu há mais de um século, em 12 de setembro de 1912.
Esse tal Sr. Guilherme continua sendo simplesmente o nome próprio sem direito ao seu sobrenome que vem do alemão e misturado com o português: Praun da Silva. Mas mesmo sendo o nome mais importante e histórico da Vila Guilherme, carregava os dois sobrenomes de imigrantes.
Aí está uma das grandes reclamações de moradores, especialmente o cidadão Edgard Martins, o conhecido Vô ED, que tanto ama a região onde nasceu e vive há 82 anos — quando nasceu em 24 de setembro de 1932, o bairro tinha completado 27 anos — colecionando histórias e reivindicando uma melhor qualidade de vida dos habitantes na Vila Guilherme — que diga-se, de passagem, tem um índice de 70% de idosos.
O motivo é justamente o nome da Avenida Guilherme, que cruza o bairro desde a Av. Morvan Dias de Figueiredo, na Marginal do Tietê, por quase dois quilômetros até a Rua Maria Cândida com a Rua Mário Pinheiro — ao lado do McDonald´s. As velhas, sujas e desbotadas placas em todo o seu percurso não trazem o nome completo do fundador do bairro, o tal do Sr. Guilherme Praun da Silva.
Como a maioria das placas da cidade não identifica quem é o homenageado, a Av. Guilherme pode ser de todos os Guilhermes da Zona Norte ou da cidade inteira! “É injusto não ter a homenagem diária ao fundador de nosso bairro e mostrar a muitos moradores e aos jovens quem foi o tal Guilherme. Não custa nada e os moradores precisam ser mais ativos e cobrar das autoridades e dos politicos”, desabafa o Vô Ed.
O movimento cresce
Não muito longe dali, no meio da Avenida Joaquina Ramalho e no centro da Praça Stélio Machado Loureiro (jornalista do Diário de São Paulo e municipalista, 1919-1955), está a primeira obra com a capela do bairro, que passou a ser mais adiante a Paróquia São Sebastião da Vila Guilherme. Houve a missa de pré-inauguração em 20 de janeiro de 1922, que era o dia de nascimento do empresário carioca Sr. Guilherme e da comemoração do santo de sua devoção. As obras da paróquia só viriam ao término depois de 28 anos, em 16 de julho de 1950, com ajuda voluntária e contribuições dos moradores.
O atual religioso que administra há quase três anos a Paróquia São Sebastião da Vila Guilherme, o Padre Luiz Claudio Vieira, engrossa o coro e dá apoio nas lembranças do bairro junto ao Vô Ed e outros moradores.
Não só o reconhecimento com o nome oficial e completo da Av. Guilherme Praun da Silva, mas até uma placa do ponto inicial de obras na região, em frente à Paróquia São Sebastião da Vila Guilherme, como marco georeferencial da cidade, que pode ser concedido pela Secretaria Municipal da Cultura. O Vô Ed tem em mente uma outra homenagem ao fundador do bairro, com seu busto em frente à paróquia — que depende da ajuda de empresários da região e politicos.
Cadê os vereadores?
Muita gente deve ficar com a dúvida eterna, quem é esse tal Guilherme? E outros moradores perguntam: a Prefeitura da Cidade de São Paulo não pode acrescentar o Praun da Silva?
Algum vereador não pode fazer isto na Câmara Municipal, já que gostam de criar leis para nomear ruas, avenidas, praças e outros logradouros? Ao mesmo tempo, uma outra lei para obrigar como norma a informação resumida sobre os homenageados das placas, com abrangência em toda a cidade.
Na época, a Avenida Guilherme foi a principal via do bairro, conhecida desde pelo menos o ano de 1951, quando aparece nos mapas da cidade. Como foi uma das primeiras obras de Guilherme Praun da Silva, na época ficou conhecida com a Avenida do Guilherme. Ficou no tempo a homenagem ao importante desbravador da Zona Norte, com a Vila do Guilherme, que agora comemora os seus 109 anos.
E tem muita história para contar, apesar das autoridades nem mesmo bater palminhas e cantarolar o Parabéns. Lá se foram os anos em que a Vila Guilherme e a maioria do bairros da cidade tinham o reconhecimento das autoriades e dos moradores, com festa, desfile de fanfarras e os tradicionais discursos. Mas vamos à história do principal personagem dos 109 anos!
Quem foi esse tal Guilherme?
O empresário Guilherme Praun da Silva, considerado o fundador da Vila Guilherme. Ele nasceu em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1853. Era filho de Jacob Braun, um dos vários imigrantes alemães que vieram residir na recém criada “Povoação-Palácio de Petrópolis”, em 1843, por ordem de D. Pedro II.
E atenção: o sobrenome “Braun” teria sido alterado para “Praun”, por um erro de grafia nos registros, quando Guilherme residia em Campinas.
Em 1882, quando contava com 29 anos de idade, Guilherme Praun da Silva já se encontrava estabelecido em São Paulo com uma fábrica a vapor para torrar e moer café que se localizava na Rua da Quitanda nº 22-A. Conforme depoimentos da época, o sabor do “Café Guilherme” era admirável.
Em 1884, a “Fábrica a vapor Paulista” de Guilherme Praun já estava refinando sal com bastante sucesso. Em 1885 a indústria é ampliada, ocasião em que se transfere para a Rua São Bento nºs 14 e 72. Nessa mesma época Guilherme adquire novos e potentes maquinários a vapor. Além de café e sal, a fábrica também fornecia fubá.
Em 1890, a empresa abre seu capital com o nome de “Companhia Central Moinhos Paulista”. Ao mesmo tempo em que prosperava como empresário, Guilherme Praun da Silva também desenvolvia outras atividades e, em 1893, vamos encontrá-lo como Capitão da Guarda Nacional, ocasião em que lutou na Revolta da Armada ocorrida durante o governo de Floriano Peixoto.
Como nasceu a Vila Guilherme
Diversificando seus negócios, Guilherme adquire, em 1912, uma área no então bairro da Coroa remanescente da propriedade do Barão de Ramalho. O contrato foi firmado no dia 12 de setembro de 1912 com D. Joaquina Ramalho Pinto de Castro, filha do Barão, por 80 contos de Réis. A partir de então, Guilherme inicia o loteamento da propriedade a qual chamou de Vila do Guilherme. Como incentivo, ele deu preferência nas vendas dos terrenos aos imigrantes, principalmente portugueses, que tinham o mérito de grandes trabalhadores para desenvolvimento do bairro.
O fundador da Vila Guilherme faleceu em São Paulo no dia 14 de agosto de 1938, aos 85 anos de idade. Foi casado pela primeira vez com D. Elizabeth Praun da Silva com quem teve três filhos: Guilherme Praun da Silva Jr., Oscar Praun da Silva e Elisa P. da Silva. No segundo casamento, ele foi casado com D. Maria Cândida Novaes Praun, com quem teve cinco filhos: Amazonas Praun da Silva, Euridice Praun da Silva, Marieta Praun da Silva, Ida P. da Silva e Alfredo Praun da Silva. No total, foram oito filhos nos dois casamentos.
O povoado cresceu… e muito
Ainda com um jeito interiorano que reina na Vila Guilherme, a diversidade forma uma população de mais de 300 mil pessoas na convivência de 16,4 quilômetros quadrados na jurisdição da Subprefeitura Vila Maria/Vila Guilherme/Vila Medeiros. Os seus limites chegam à Vila Maria, Vila Maria Alta, Pari, Brás, Carandirú e Santana — inclusive o lado direito da Av. Luiz Dumont Villares (Avenida Nova) pertence à Vila Guilherme até a Rua Paulo Avelar — que tem todo esse trecho confundido como sendo Parada Inglesa.
Dentre os principais bairros do distrito de Vila Guilherme estão Vila Izolina Mazzei, Vila Salvador Romeu, Vila Izolina, Vila Paiva, Vila Santa Catarina, Jardim da Coroa, Vila Pizzotti, Vila Elenore, Vila Bariri, Vila Leonor (em homenagem à primeira-dama Leonor Mendes de Barros, no governo de Adhemar de Barros), Chácara Cuoco, Parque Velloso e Jardim da Divisa. Na região estão estabelecidos importantes transportadoras e empresas de vários segmentos, além dos Shopping Center Norte e Lar Center, o Terminal Rodoviário do Tietê, um dos maiores da América Latina. 109 109 109 109 109 109
As lembranças do Vô Ed
Vila Guilherme faz parte do cidadão Edgard Martins, o Vô Ed, que nasceu, mora até hoje e criou seus filhos. Conhece o bairro como “na palma da mão” e pode até ser considerado o historiador da região.
Muitas lembranças desde da casa onde nasceu na Rua Maria Cândida e por onde passou nas Escola Mixta São Luiz, do Grupo Escolar Afrânio Peixoto (onde agora é o Centro Cultural do Casarão — chegou a ser Administração Regional, a Subprefeitura), as turmas do clubes Aliança e do Luzitano.
Na memória, ele lembra do Zoológico do Agenor ali na Rua Imperador com a Rua Ernani Pinto, onde está um estacionamento. Na Rua Maria Cândida, o Laboratório Sintex, que foi e agora retorna a Universidade Bandeirantes-Uniban. Onde está o McDonald´s, na mesma rua, foi um grande depósito de material para construção o “Cal-Cimento”.
Vô Ed lembra como era a Praça Oscar da Silva, onde ficava o “parquinho” (Parque Infantil Padre Anchieta, da Prefeitura), agora somente a linda praça com árvores e destacando as lindas oliveiras, uma homenagem ao cão Salomão, a Base Fixa da Policia Militar, um obelisco do Lions Club de Vila Guilherme e o ponto histórico (de madeira) do ônibus 57 (Vila Guilherme/Anhangabaú), e um playground, para as crianças do bairro. No passado, no período da noite havia uma tela enorme e os frequentadores da praça assistiam aos filmes, nos finais de semana.
Ali próximo, surge o imponente empreendimento atacadista de moda MartCenter, que operou por um período na Rua Padre Chico, ao lado do Parque Vila Guilherme-Trote (PVGT), que ocupou o espaço da antiga Sociedade Hípica de Vila Guilherme e se transformou na Sociedade Paulista de Trote-SPT. O PVGT surgiu com o empenho do vereador Gabriel Ortega, através do projeto do Parque Vila Guilherme aprovado em novembro de 1990, destinado às atividades esportivas, culturais, ecológicas da população.
Mais adiante os pavilhões do MartCenter e parte do lado do Parque do Trote foram ocupados por quatro anos com as edições do Festival da Cultura Paulista Tradicional do Revelando São Paulo, que chegou a ser visitado por mais de três milhões de pessoas. Foi um período de festas e alegria para os moradores, que até hoje sentem saudades e pedem o retorno do festival transferido de organizador indo para o Parque da Água Branca.
Apesar dos problemas do passado, com lagoas e enchentes, que ficaram na história do bairro, hoje os moradores convivem com os problemas de zeladoria e a falta de investimentos públicos na região em todas as áreas — saúde, transportes, esportes, etc). Mas a Vila Guilherme se desenvolve com o esforço e dedicação de empresários, comerciantes e moradores. A região é o maior polo de transportadoras, tem os importantes shopppings (com movimentos recordes de vendas em lojas), e outros atrativos. O tempo correu em seu centenário, mas deixou um local de muitas recordações e esperança em um futuro cheio de nova realizações.
E, deste modo, o Vô Ed vai (re)lembrando os pontos do passado e do presente, em um tour pelo vários pontos do bairro. Não deixa nada de fora, farmácias, açougue, bares, clubes, bancos, escolas, fábricas, comércio… e até os nomes dos proprietários e antigos moradores. Uma memória incrível, que deixa muitas saudades e lágrimas nos olhos do Vô Ed, que no domingo (12/09) comemora em silêncio o que a Vila Guilherme trouxe de falicidades nestes 109 anos. << Mais informações e detalhes dessas lembranças no site criado em 2015 pelo Vô Ed, em homenagem à Vila Guilherme —clique aqui. >>
<<Com apoio de informações/fonte: Arquivo Histórico Municipal-Secretaria Municipal de Cultura/Prefeitura da Cidade de São Paulo / Fotos e informações do Acervo Pessoal do Vô Ed-Edgard Martins >>
Veja abaixo uma galeria com algumas fotos sobre a Vila Guilherme — clique na imagem para expandi-la.
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